João Sousa: «Depois de tudo o que vivi, estou feliz por voltar aqui e vencer»

Por José Morgado - Maio 24, 2022

PARIS. FRANÇA. João Sousa, melhor português de todos os tempos e número 63 do ranking ATP, realizou uma exibição cheia de coração para levar a melhor sobre Chun-hsin Tseng numa maratona de quase 4h30 e carimbar um lugar na segunda ronda em Roland Garros. O português passou pela sala de imprensa em Paris no final do encontro e não escondeu a felicidade e emoção por um triunfo memorável.

RAIO-X A UMA VITÓRIA ÉPICA

É provavelmente o encontro mais longo da minha carreira. Já joguei alguns na Austrália, no US Open, mas este deve ter sido o mais longo. Em relação ao encontro… tive poucos dias de adaptação e à semelhança da semana passada consegui competir muito bem, apesar de as sensações serem diferentes. As condições são outras, aqui a bola anda muito menos e é mais difícil de ser fiel ao meu jogo. Foi muito difícil. Fiquei muito surpreendido com o nível dele. Sabia que ele tinha sido um muito bom júnior, mas ele superou as minhas expectativas. Tentei ser eu a comandar os pontos, mas no quinto set as coisas podiam ter caído para qualquer um dos lados. Perdi o primeiro set mas sabia que ainda estava a encontrar as minhas sensações e ganhei o segundo facilmente. Depois quebrei animicamente no terceiro e no quarto voltei a ser melhor. Queria que ele começasse a servir no quinto set… e correu bem. Não era fácil este encontro, joguei uma final de três horas há dois dias e pensava que vinha em condições físicas desfavoráveis, mas senti-me muito bem, estive sempre mentalmente muito agarrado, senti sempre que podia dar a volta e felizmente consegui.

COMPETIR EM ROLAND GARROS DOIS DIAS DEPOIS DA (DURA) FINAL DE GENEBRA

Faz parte do ténis. Sei que o quinto título escapou por pouco, por três pontos, diante de um top 10. Mas as ilações que tiro positivas é que mais tarde ou mais cedo o ténis dá-me aquilo que me tira. Tenho de acreditar em mim e voltar a trabalhar. Passei por momentos muito difíceis nos últimos anos, mas agora tenho desfrutado muito. Atrevo-me a dizer que na semana passada, aos 33 anos, joguei o melhor ténis da minha vida. Depois de tudo o que passei, é um motivo de orgulho. Foi a melhor semana da minha carreira a par do Estoril Open em termos de nível. Não perdi sets até à final.

VOLTA ÀS VITÓRIAS EM ROLAND GARROS SEIS ANOS DEPOIS

Muito especial, sem dúvida. Roland Garros sempre foi o Grand Slam mais difícil para mim. As condições são demasiado lentas para mim apesar de terem mudado a bola e tudo isso. Nunca me senti tão bem aqui, mas pode ser que isso este ano mude. Foi uma primeira ronda difícil e exigente e são sempre os encontros mais complicados. Ele vinha do qualy, já rodado e nesse sentido ele tinha vantagem. Mas é uma alegria enorme vencer encontros em Grand Slams e depois de uma grande semana isso deixa-me ainda mais feliz.

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CONDIÇÕES DIFERENTES DE GENEBRA, SEM ALTITUDE

Adoro jogam em altitude. Tenho ótimos resultados nesses torneios. A bola viaja mais no ar e isso ajuda-me. São condições favoráveis. Aqui tive dois dias, num mal treinei, no outro já fiz uns pontos com o Tsonga, mas não foi a preparação ideal. Era consciente de que ia ter alguns problemas mas procurei sempre lutar e isso fez a diferença para vencer hoje.

CINCO MESES EM 2022, UM TÍTULO E UMA FINAL

É talvez o melhor início de época da minha carreira. Mas isto não é como começa, é como acaba. Até ao momento tem sido fantástico e apesar dos resultados o que importa é o nível e sinto que tenho jogado a um nível alto. Depois de tudo o que passei com o ténis, com muitas dúvidas e coisas que me passaram pela cabeça, é um orgulho voltar a estar aqui.

AMBIENTE INCRÍVEL NO COURT 10

Ambiente fantástico. Não estava nada à espera. Quando cheguei vi o Nuno e percebi que havia muitos portugueses em court e isso impressionou-me porque nem sempre acontece nos principais torneios. Fiquei muito feliz e foram incansáveis, especialmente no quinto set, onde esse tipo de coisas fazem a diferença.

SEGUNDA RONDA DIANTE DE SONEGO

Não jogamos há muito tempo, mas é um grande jogador, agressivo e vai ser seguramente muito duro. O objetivo é ganhar naturalmente.

 

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com