Nuno Borges sente que estava num torneio diferente: «Não lutei só comigo mesmo»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Abril 4, 2024
Créditos: Millennium Estoril Open

Nuno Borges assinou uma grande exibição para derrubar Lorenzo Musetti e apurar-se para os quartos-de-final do Estoril Open pela primeira vez na carreira. Depois de uma montanha russa na primeira ronda, o número um nacional esteve calmo na segunda e mostrou-se muito satisfeito e com muita ambição.

OBJETIVOS PARA ESTE TORNEIO

Para este torneio a expectativa era tentar ganhar a primeira ronda. Não estava com expectativa para isso, mas estava focado em ganhar. Foi assim que fui pensado. Quando entrava em jogo pensava set a set e tem sido isso que tenho vindo a fazer. Não penso muito no que espero que aconteça, esperar jogar bem ou jogar mal, esperar muita coisa. Só penso no presente.

COMO SE SENTIU

Senti-me bastante confortável em campo. Precisava de passar por aquela experiência da primeira ronda. Não precisava de ter sido tão apertado e com tanta dificuldade. Foi totalmente diferente, e fiz mais o meu jogo e realmente consegui competir com o meu adversário, não lutei só comigo mesmo. Assim fiz um bom jogo e tentar dificultar ao máximo a tarefa a ele. Senti que estive muito bem e sai por cima.

PASSAGEM DE TESTEMUNHO DE JOÃO SOUSA

Eu não senti isto agora. Não foi agora com o Estoril. A retirada do João já me pesou mais antes. Na altura na eliminatória da Davis, na Finlândia, foi quando mais me pesou. E mesmo aí já estava um bocadinho a sentir que tinha de ser eu agora. Não tenho de ser eu, mas tenho esperança de mais portugueses estarem onde estou. Mas já me estava a aperceber um bocadinho disso quando fui o melhor rankeado, já não estou nos Futures ou Challengers em que tinha o meu grupinho. O ambiente nos outros torneios era diferente, comecei a ter mais amigos estrangeiros do que a companhia dos portugueses. Foi aí que senti essa transição.

CONDIÇÕES DE JOGO

Completamente diferente. É engraçado que achava que o campo regado como segunda-feira ajuda a não escorregar, mas senti-me muito melhor em campo, mais confortável. Parecia completamente outro torneio comparando com segunda-feira. O campo estava incrível. Não só do meu gosto mas de muito boa qualidade. Não me lembro de jogar em terra batida assim há muito tempo.

O QUE MUDOU CONTRA TOP 30

O meu treino, a minha preparação. Tenho vindo a evoluir e esses números acabam por se mostrar. Mesmo não só a maneira como encaro o jogo, como consigo disputar o jogo. Não foi do ano passado para este. Tem sido um trabalho que tenho vindo a fazer nos últimos anos.

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SEGUE-SE GARIN

Não o conheço muito bem. Conhecia o Arthur Fils e sabia o que esperar bem, mas do Garin ainda não. Estou a viver o momento e mais logo ou amanhã de manhã começo a pensar mais na estratégia.

ONDE FICA ESTA VITÓRIA

É engraçado que não achei que foi das mais emocionantes e acho que foi uma coisa bastante boa. Apesar de estar nervoso e de ter custado a fechar, não foi daqueles jogos que senti que foi só jogado com coração ou sacado a ferros, muito sofrido. Senti-me bastante calmo e dentro do cenário. Acho que simplesmente fiquei muito contente com a maneira como lidei com a situação. Em termos de ranking não há dúvidas, no Estoril adiciona um valor especial. Mas esta sem dúvida estará no top 10 certamente, top 5 se calhar.

EM GRANDE NOS MOMENTOS CERTOS

Senti isso. Esses momentos decisivos fizeram toda a diferença. Estive bem quando foi para quebrar e manter a liderança. Depois isso pagou no resultado. Mereci ganhar e estive bem, mantive-me mais constante do que ele. Acabou por cair para o meu lado, com coisas a jogar a meu favor. Às vezes torna um bocadinho mais facilitada a tarefa, mas continuo a dar todo o valor a isso.

SENTE QUE VEM AÍ ALGO?

Nos últimos dois anos tem havido muitas primeiras vezes. Este ano foi uma caminhada de sonho no Australian Open. Agora aqui… tudo pode acontecer no ténis. Estou feliz por ter passado aquela primeira ronda, ter tido oportunidade de a vencer e agora poder vencer um encontro muito bom num dia bem diferente, fui capaz de ultrapassar isto. É por isso que tento não colocar demasiadas expectativas porque sei que tudo pode acontecer. Se me focar no momento posso aproveitar.

JOGAR EM CASA É DURO OU MOTIVADOR

Vem motivação extra mas também traz muita pressão. É difícil lidar com isso, tira muita energia. É um bocadinho como a Taça Davis, porque se quer muito mas é preciso manter a calma. Essa experiência tem ajudado a lidar com o momento agora. Nunca é fácil, mas tento tirar o lado positivo. Tenho de usar isto a meu favor. Quando as coisas ficam difíceis, tens essa vantagem.

EXEMPLO DE JOÃO SOUSA

Não diria que estou a perseguir o que ele fez. Curiosamente, fui apanha-bolas quando tinha 12 anos e ele não estava lá na Taça Davis por alguma razão, mas quando o pude conhecer logo depois da Covid foi quando criou mesmo um bom impacto no meu ténis. Vi o porquê de ser tão bom e de ter alcançado tanto. Mais do que direitas e esquerdas, a sua mentalidade é extraordinária. Ele podia queixar-se muito mas arranjava sempre maneira de competir.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt