Nuno Borges respira fundo após batalha brutal no Estoril Open: «Foi mais coração do que ténis»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Abril 1, 2024
Créditos: Millennium Estoril Open

Bastava olhar para Nuno Borges na sala de imprensa para perceber quão extenuante foi a batalha com Lucas Pouille. Até mais mental do que fisicamente. Depois de um arranque desastroso, interrupções provocadas pela chuva, um match point salvo e uma autêntica montanha russa, o número um nacional celebrou a caminho dos oitavos-de-final e descreveu tudo aquilo que lhe foi passando pela cabeça.

ANÁLISE AO ENCONTRO

Foi um misto de querer muito e de não estar a conseguir fazer nada, de não conseguir entrar no jogo. Ele jogou muito bem com isso. Obrigou-me logo a ter de tomar decisões nos pontos no início, não ofereceu nada. Estavam condições muito pesadas por causa da chuva e do tempo. Senti que estava a ficar mais rápido do que ele, mas ao mesmo tempo estava mais rotinado e a sentir-se muito melhor. Nem sei. Aquele jogo no 6-0 2-1 manteve-me vivo, ele sentiu. De repente tudo muda, ele não está a conseguir jogar, vou para o 4-2, não consegui concretizar bem. Foi uma montanha russa. No terceiro set senti que estava por cima e senti-me mais confortável. Este jogo mentalmente valeu por três e foi mais coração do que ténis.

PRESSÃO DE JOGAR EM CASA

Estava a sentir-me bastante bem nos treinos e isso às vezes transmite zero para o jogo. Demorei algum tempo, as coisas não estavam da melhor maneira e sem dúvida que queria ter uma boa prestação à frente de tanta gente no Estoril. Queria jogar mais.

SEGUNDA VEZ QUE VIRA UM 0-6 ESTE ANO

Claro que pensei. Na terra batida acontece mais esse tipo de cenários do que no rápido. Sabia que me podia agarrar a muita casa para continuar a lutar. Precisava mesmo de saber que me podia sentir para dar a volta ao jogo. Gostava de ter ganho logo uns dois jogos no primeiro set para me sentir dentro do jogo. Levei logo break no início do segundo porque estava completamente fora dele e ele mais confortável, eu sem saber o que fazer. Mas sim, esses exemplos são sempre bons para dar a volta a este tipo de jogos.

MELHOR SER 6-0 DO QUE MUITO TEMPO NO PRIMEIRO SET

O Gastão gosta de exagerar… Mas assim quem fiz aquele primeiro jogo, senti que ele sentiu o momento. Houve um momento de mudança e acabou por sentir. Não é sempre assim, mas acontece. Percebo isso porque às vezes uma estratégia do jogador desestabiliza o outro. Se calhar dei ali um ‘vamos’, ele sentiu e mudou.

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A 6-0 2-0 O QUE PENSOU?

Tentei não deixar fugir o pensamento para as coisas óbvias. Passou-me tudo um bocadinho. Com o meu treino acabo por perceber que são imagens não reais e pensamentos que no fundo não são realidade. Podia sair daqui numa primeira ronda que é perfeitamente normal. Apesar de querer muito neste torneio às vezes é aí que não jogamos o nosso melhor. Estava sempre à procura de soluções. Depois vem a chuva, ficou feio, começou o vento. Comecei a achar que queria o mais sujo possível, mais vendaval e chuva que der, que me ajude a entrar em jogo e me dê algumas hipóteses.

SEGUE-SE MUSETTI

Confesso que nem sabia… Estou mais focado no jogo de pares de amanhã mas logo à noite vou ver alguma coisa. É um jogador muito talentoso, provavelmente mais confortável na terra batida, mas tem feito uns bons jogos no piso rápido. Estava a jogar bastante bem em Miami. Acho que vou tentar pelo facto de já ter feito um jogo aqui e ele não. Senti na pele o que isso é. Nunca é fácil mudar do rápido para a terra. Mais o fator casa… Espero estar a jogar melhor ténis do que hoje e sei que precisarei disso para ter hipóteses.

EXPERIÊNCIA DE HOJE PARA MUSETTI

Ter ultrapassado o jogo de hoje dá-me sempre confiança. Sentir que se estou por baixo dá sempre para dar a volta. Musetti tem um outro nível acima do jogador de hoje e mesmo do meu, mas os encontros aqui são sempre uma batalha. Vou-me agarrar ao facto de estar a jogar em casa e trazer o máximo de confiança porque acho que até tive bons momentos a partir do segundo set. Vou tentar agarrar-me a isso.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt