ENTREVISTA. Orlando Luz elogia João Sousa: «Ele é muito boa gente e muito engraçado»

Por Pedro Almeida - Dezembro 3, 2018

Tal como o número um português João Sousa, o brasileiro Orlando Luz mudou de vida e deixou o seu país para começar a treinar na BTT Tennis Academy, em Barcelona, Espanha. Desde então, o sucesso tem sido evidente – uma subida significativa no ranking ATP até ao 370.º posto e ainda bons resultados em eventos em que participa -, com esta mudança a ser o primeiro passo para cumprir o objetivo de treinar com jogadores de elite, entre os quais João Sousa.

O jovem de 20 anos deu uma entrevista exclusiva ao seu site de ténis e abordou vários temas, entre os quais a sua relação com Sousa, bem como as alterações recentes no circuito ATP e na Taça Davis.

Bola Amarela (BA) – Como é que começou o teu gosto de jogar ténis e de seguir o ténis profissional?

Orlando Luz (OL) – Começou a acompanhar o meu pai, que é professor de ténis. Eu ia sempre para o clube com ele, desde os meus três anos de idade, brincava à volta dele com as bolinhas e as raquetes. Até que um dia, comecei a treinar com ele. O meu pai treinou-me até aos 14 anos de idade.

BA – Chegaste a ser número um mundial de juniores em 2015. O que foi mais difícil na transição para os seniores?

OL – Quando comecei a jogar no circuito profissional, percebi que meus adversários eram mentalmente mais fortes. Eles também eram mais fortes fisicamente, mas a parte mental era diferente.

BA – O teu percurso está a ser idêntico ao do português João Sousa, que também saiu do seu país para Espanha e treinar na BTT Tennis Academy. Por que razão decidiste ir para essa academia?

OL – A decisão foi tomada a partir de uma parceria da Confederação Brasileira de Ténis – CBT – com a academia BTT em Barcelona. O principal motivo é ficar mais próximo dos torneios e poder treinar com mais tenistas de elite. É mais fácil treinar com eles estando na Europa.

BA – O João Sousa mudou-se para Barcelona e para a BTT aos 15 anos e tu aos 20. Achas que, para ti, foi a altura certa ou consideras que deverias ter tomado essa decisão mais cedo?

OL – Cada um tem o seu tempo. Talvez eu pudesse ter ido mais cedo, sim, mas a questão financeira influenciou muito. É muito caro para um brasileiro manter-se na Europa. Consegui ir para Espanha agora porque a CBT me deu a oportunidade.

BA – Como é a tua relação com o João Sousa dentro e fora do court? Acredito que já tenhas treinado várias vezes com ele…

OL – A minha relação com o João é muito boa! Ele é muito boa gente, muito engraçado, dou-me muito bem com ele, dentro e fora do campo. É sempre muito bom treinar com ele, está sempre a dizer piadas. O João faz muito bem à academia.

BA – O que é certo é que desde que estás a treinar na academia tens vindo a subir no ranking, com a entrada no top 400. O que é que está a ser diferente agora em Espanha comparando com os treinos no Brasil?

OL – O trabalho com o Leonardo Azevedo é diferente do que já fiz no Brasil. Fizemos um trabalho mental muito forte este ano, o Leo conseguiu extrair  o melhor de mim. Acho que a preparação física também foi essencial para fazer um ano bom. Consegui passar um ano praticamente sem lesões. Estou muito feliz com essa mudança.

BA – Ainda és muito jovem. Tens apenas 20 anos. Quais são os teus objetivos a curto e longo prazo no ténis profissional?

OL – A curto prazo, fazer mais alguns ajustes no meu jogo e disputar mais torneios de nível Challenger, para dar mais um salto no ranking. Depois, continuar a trabalhar para ver até onde posso chegar.

BA – O que conheces de Portugal, para além dos torneios que já jogaste cá? E dos jogadores portugueses?

OL – Conheço pouco de Portugal! Fui a Portugal pela primeira vez este ano, no torneio future do Porto. Cheguei até às meias-finais e fui campeão de pares com o Felipe Meligeni Alves, por isso só tenho boas recordações!

Gostei muito, a comida é ótima e as pessoas são incríveis. Relaciono-me bem com os jogadores portugueses que conheço, como o João Sousa, o Gastão Elias que também é meu amigo, o João Domingues, o Pedro Sousa… são jogadores com quem convivo bem no circuito.

BA – Há jogadores com ligações ao Brasil, nomeadamente o Gastão Elias: a esposa é brasileira, Isabela Miró, e também o português Gonçalo Oliveira viveu alguns anos no Brasil. Quais são as vantagens e desvantagens de treinar no Brasil?

OL – O Brasil é um lugar muito bom para morar. Tem lugares muito bonitos e, claro, é onde estão a minha família e amigos. O grande problema de treinar no Brasil é que é muito longe da maioria dos torneios, por isso viajar para jogar torna-se muito caro. Essa viagem prejudica os treinos e, por passar muitas semanas seguidas a competir – já que é necessário aproveitar o dinheiro da passagem -, o jogador acaba por se lesionar.

BA – O circuito ATP tem sido alvo de várias alterações. Qual a tua opinião sobre elas, nomeadamente também sobre as alterações recentes na Taça Davis?

OL – Ainda não tenho uma opinião formada. Foram muitas alterações na ATP e ainda não compreendi todas as mudanças, então só poderei opinar no próximo ano.

Sobre a Taça Davis, é uma perda muito grande. Todos os meninos da minha idade que já sonharam em jogar a Davis em casa tiveram esse sonho destruído. Era algo com o qual eu sonhava muito, mas agora não terei a oportunidade de concretizar. Nunca mais poderemos jogar a Taça Davis em casa, com o calor do nosso público, que era emocionante.

Questionário Bola Amarela

Ídolo de infância no ténis? Guga Kuerten
Ídolo sem estar relacionado com o ténis? Não me consigo lembrar de alguém agora
Pancada preferida no ténis? Direita
Cidade favorita? Balneário Camboriú, no Brasil
Dia ou noite? Dia
Praia ou neve? Praia
Carne ou peixe? Carne
Música ou cinema? Os dois [risos]
Ganhar um título do Grand Slam ou ser número um do Mundo? Que escolha difícil! Acho que ser número um do Mundo
Modalidade favorita para além do ténis? Gosto muito de futebol
Jogadora mais bonita no circuito WTA? Ela acabou de se retirar, a Ana Ivanovic
Melhor amigo no circuito? Marcelo Zormann
Jogador português com quem te relacionas melhor? Vários! João Sousa, Gastão Elias, Pedro Sousa,  João Domingues

Jornalista - licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa - e amante de ténis desde sempre e para sempre.