Ruud feliz com quem é: «Não tenho um ténis espetacular mas ganho muitos encontros»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Abril 9, 2023
Miguel Reis/Bola Amarela

Casper Ruud saiu do Estoril como campeão, arrebatando o décimo troféu da carreira. O norueguês garantiu a subida ao quarto lugar do ranking mundial e falou abertamente sobre a vontade de regressar a Portugal. Além disso, questionámos Ruud sobre se sente que às vezes acaba por ser esquecido perante outros nomes sonantes e o nórdico deu uma resposta muito sincera.

ANÁLISE À FINAL

Algumas trocas de bola foram boas, outras foram demasiado rápidas. Houve alguns erros a mais a certa altura, especialmente no segundo set. Felizmente mantive o meu serviço, ele foi mantendo o dele. Fomos trocando. Ele teve break points, eu também. Eu tive alguma sorte em alguns dos que salvei. Acho que o segundo set que jogámos… jogámos melhor esta semana. Mas no fim do dia é uma final e queremos é ganhar os pontos mais importantes. Subi o nível no tie-break e isso é bom outra vez. Tive um arranque melhor, cometeu muitos erros. No segundo set é normal às vezes estar nervoso quando se quer fechar o encontro, é uma final. Estou muito feliz por ter ganho e ver a última bola ir fora!

QUÃO IMPORTANTE É PARA A CONFIANÇA

O plano este ano era não jogar demasiados torneios 250 para ver como estaria nos torneios maiores e tentar encontrar o melhor nível lá. É um dos poucos que planeio jogar e ganhá-lo é um bom sentimento. Não interessa muito se é 250, 500 ou 1000. Não posso dizer porque nunca ganhei um desses, mas jogar uma final, até se for um Grand Slam, é sempre entusiasmante. Quer dizer que estiveste bem durante a semana. Ganhar é o mais divertido. O meu plano é ganhar algo maior do que um 250. Já tenho 10, é um grande número e feito, mas quero ganhar torneios maiores. Vai haver algumas oportunidades agora em Monte-Carlo, Barcelona, depois Madrid e Roma. Vou dar o meu melhor. Mas é um arranque perfeito. Vou com dinâmica para Monte-Carlo, mostrei que estou de volta, no caminho certo e espero estar confortável a jogar bem em terra batida. Espero que os meus adversários vejam. Se compararem com o que joguei em terra e rápido, vão ver que ganhei o primeiro torneio em terra. É bom sinal para mim.

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GOSTAVA DE VOLTAR A PORTUGAL?

Adorava tentar voltar. Vamos ver. Não tenho a certeza se a semana será igual no próximo ano, mas gosto do facto de terem colocado um torneio na Europa antes de Monte-Carlo. É perfeito para preparar para a terra se não jogar muito bem em Miami. A não ser que Miami corra muito bem, acho que é provável voltar. É um dos meus 250 preferidos. Trataram muito bem de mim. Estádios sempre cheios, boa comida, bom ambiente. Tudo muito tranquilo. Tive um grande tempo aqui.

TEM MENOS ATENÇÃO DO QUE O RESTO DO CIRCUITO?

Não fui um prodígio ou não fui um dos que apareceram mais cedo da minha geração. Foi mais o Zverev da minha geração… Depois, claro, o Carlos é um talento excecional. Eles tiveram grande hype à volta dele e cumpriram. Tsitsipas tem a mesma idade e tem havido muito foco nele. Acho que é bom isto ser assim. É bom desligar. É giro no início da carreira quando as pessoas te reconhecem, mas no fim, as semanas mais confortáveis são quando estou em casa e só me preocupo em treinar e fazer as minhas coisas. Sabe bem. Não acho que se esqueçam de mim… Não escrevem muito sobre mim, mas acho que é porque não tenho um ténis muito espetacular, não disparo os winners mais bonitos ou o serviço, direita ou esquerda mais lindas… Mas no fim, estou a ganhar muitos encontros a cada ano e isso é o mais importante. O ranking é um sistema que mostra quão bem jogas em 52 semanas. No ano passado, ganhei muitos encontros, consegui muitos pontos e fui número dois. As pessoas vão arranjar sempre maneira de criticar, seja a dizer que o caminho foi fácil ou que joguei este ou aquele torneio. Sim, mas não podem dar crédito por ter sido inteligente e ter jogado esses torneios? A minha equipa e eu focamo-nos nos torneios que jogo e vemos que hipóteses há de ter sucesso. Além disso, não acho que seja importante para mim.

CRÍTICAS ONLINE

Lês coisas online em que 95% são escritas por pessoas que não fazem ideia do ténis. Só escrevem o que lhes apetece. Pode ser perigoso ficar muito tempo online porque escrevem coisas sobre ti que podem colocar dúvidas. Só porque alguém que não faz ideia escreveu isto ou aquilo. Estou feliz com a situação em que estou, com o jogador que sou. Não preciso de ter sempre as câmeras à minha volta porque outros podem fazer isso.

IMPORTÂNCIA DO PAI

Já está há dois dias em Monte-Carlo. Não esteve comigo esta semana, esteve comigo na Austrália, depois fizemos quatro semanas de treino na Noruega. Houve muitas viagens, e ele quis uma semana de folga. Ele gosta muito de Monte-Carlo e tem muitos amigos lá, então também mata saudades deles. O Pedro está comigo esta semana, também em Barcelona. É um bom sistema. O Pedro traz algumas coisas, o meu pai também. É bom ter o meu pai por perto. Devo muito do meu sucesso ao meu pai. Na Noruega não tínhamos muitos tenistas com que treinar, torneios para ir ver e ficar inspirado, como este. Ele sempre trabalhou comigo desde muito cedo, a manter-me focado e com a mentalidade certa. Deu-me as melhores hipóteses de ser profissional e sinto-me grato por ter alguém comigo, mesmo que às vezes seja difícil ter o pai à volta! Nem sempre é bom quando se tem 15 anos e outras coisas são mais interessantes. Mas passámos isso, divertimo-nos muito. É um bom amigo e divertimo-nos muito.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt