Fognini ataca nova geração: «Ao fim de dois jogos gritam ‘C’mon!’ na cara. Odeio!»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Abril 8, 2023

Fabio Fognini está agora a recuperar de uma lesão sofrida no Millennium Estoril Open, que o obrigou a desistir do Masters 1000 de Monte Carlo. Ora, o veterano tenista italiano deu uma entrevista muito honesta ao ‘L’Ultimo Uomo’, na qual criticou a nova geração e também deixou bem claro que, se puder escolher, os seus filhos não vão perseguir uma carreira como a do pai.

SEM DESEJAR TÉNIS PARA OS FILHOS

É uma vida muito bonita, mas também difícil. Sempre disse isto, embora soe mal: desejo que o meu filho não jogue ténis. Sei o que fiz, os sacrifícios dos meus pais. Claro que os faria pelos meus filhos, por Deus, mas ao mesmo tempo é duríssimo. Se queres brilhar, tens de ter muita dedicação. Repito, oxalá que os meus filhos façam o que querem e nunca os vou obrigar a nada, mas esta é uma vida muito dura. Ao mesmo tempo sei que somos sortudos. Poder ganhar a vida desta maneira é um privilégio, embora não o seja para todos.

COMO VÊ A NOVA GERAÇÃO

Gosto do Lorenzo Musetti e vejo-me nele em algumas coisas. Tenho uma relação muito boa e um sentimento especial, às vezes treinamos juntos. Tem muita facilidade e soluções de jogo, mas às vezes enrola-se a ele próprio, como eu. Custa-nos ir ao mais básico, de sermos mais sólidos e jogar de forma segura. Ter tantas soluções é difícil de lidar às vezes. Que posso dizer da nova geração? Quando cheguei ao circuito há 15 anos, havia mais humildade. Os jogadores tinham respeito. Os miúdos de hoje em dia, depois de dois jogos, gritam-te ‘C’mon’ na cara. Odeio isso com todo o meu coração.

FIM DA CARREIRA MAIS PERTO

Em alguns momentos penso em acabar a carreira, sim. Não é que não pense que não posso jogar mais cinco anos. Quero fazê-lo? Sim. Mas se o quero fazer, gostava que não fosse da maneira como estou agora. Física e tenisticamente sinto que posso ter grandes momentos e é por isso que me levanto a cada dia com dores em todos os lados. Quando vou retirar-me? Sinceramente, depende muito dos resultados. Não tenho de mostrar nada a ninguém, mas os resultados fazem o ranking e o ranking ajuda-me a jogar determinados torneios. O meu sonho é poder jogar os grandes torneios agora e para isso tenho de ganhar encontros. Imagino o meu último encontro com os meus filhos, família e amigos na bancada. Só sei isso.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt