Ricardo Oliveira: «‘Nogui’ não foi selecionada porque não quis»

Por admin - Novembro 1, 2016

A menos de 15 dias do World Padel Championships, o presidente da Federação Portuguesa de Padel (FPP), Ricardo Oliveira, prefere direcionar todas as atenções para as Seleções Nacionais, eleitas pelo selecionador Juan Manuel Rodriguez, mas não é capaz de ignorar a controvérsia gerada em torno de Ana Catarina Nogueira. A campeã nacional e melhor portuguesa no “ranking” feminino do World Padel Tour não foi convocada para o Mundial que irá decorrer na Quinta da Marinha Rackets Pro, entre os dias 14 e 19 de novembro. Alguns adeptos da modalidade questionaram a decisão, a atleta não gostou e o responsável federativo lamenta os contornos daquele que já se tornou no “caso Nogui”. “Só alguém sem qualquer sentido patriótico não teria pena e não quereria ter os melhores jogadores na Seleção”, afirma Ricardo Oliveira, lembrando, contudo, que para estar na equipa não basta “ser só o melhor, existem regras para serem cumpridas por todos e toda a sociedade democrática assenta nesses princípios – regras e direitos iguais para todos”.

É sobejamente conhecida a controvérsia gerada em torno da Seleção Nacional feminina, pelo facto de o selecionador Juan Manuel Rodriguez não ter convocado Ana Catarina Nogueira. Qual a sua posição em relação a este tema?

Sobre esse tema já se falou demais! Não acho benéfico estar a alimentar essa alegada controvérsia, gerada nas redes sociais, em torno da não convocatória de uma das nossas atletas com maior palmarés internacional. Não podemos avaliar a controvérsia pelas redes sociais, onde tudo é permitido e, por vezes, nem sabemos quem as usa para criar ruído. Uma Federação não pode pautar a sua orientação por um par de dezenas de comentários num universo de 40.000 pessoas afetas ao padel.

Maior ou menor, mas houve de facto algum descontentamento em relação à não convocatória da “Nogui” para o Mundial.

É natural que os fãs da Ana Catarina Nogueira estejam insatisfeitos, pois ela é uma atleta de renome internacional e é a portuguesa melhor classificada no ranking feminino do Wold Padel Tour. Isso, no entanto, não apaga a legislação portuguesa, regulamentos da FPP (aprovados em Assembleia Geral) e regras e critérios de um selecionador que fez uma aproximação à atleta – tal como explica no seu comunicado -, mesmo ela não cumprindo um dos dois requisitos contemplados na lei: nacionalidade e filiação. E ela optou por não corresponder.

Mas porquê? Que se passou exatamente?

A Ana Catarina Nogueira não reunia as condições mínimas, na altura em que se estavam a fazer os preparativos, nem nunca integrou os trabalhos da Seleção. Os treinadores têm um método de trabalho. Nós contratámos o selecionador para fazer um trabalho de preparação para o Mundial e ele começou esse trabalho a meio de 2015. A atleta foi convidada para participar nos trabalhos da Seleção em 2015 e recusou. Na altura, quando abordada pelo vice-presidente da FPP respondeu que iria pensar e mais tarde comunicou-lhe que não integraria os trabalhos, porque o seu patrocinador a teria aconselhado a não o fazer. Que teria dito que não a queria ver associada ao Team FPP nem à Federação. Essa informação foi naturalmente transmitida ao Selecionador quando entrou em funções. Depois, em 2016, optou por não se filiar e, mesmo assim, o selecionador achou que deveria abordar a atleta de forma a que ela desse o passo para que fosse legalmente selecionável e ele pudesse contar com ela. Disponibilizou-se inclusive para lhe dar um regime de exceção que lhe permitisse não jogar na maioria das provas ou atividades da FPP até ao Mundial e se pudesse dedicar ao circuito mundial. Esta conversa foi extensa e via whatsapp, pelo que tive oportunidade de a ler. O convite foi feito e tudo muito bem explicado. Nem sequer há o problema de comunicação pois a atleta fala muito bem castelhano. No dia 31 de julho, a atleta ficou mais uma vez de pensar se estaria interessada e de voltar ao contacto, desta vez com o selecionador. Ao contrário de 2015, até ao dia em que foram inscritas as seleções nunca respondeu.

Daí não ter sido convocada?

O desfecho é aquele que sabemos e é claro que temos muita pena que a Ana Catarina Nogueira não esteja na Seleção Nacional. Pessoalmente tenho enorme pena. Só alguém sem qualquer sentido patriótico não teria e não quereria ter os melhores jogadores na Seleção. A decisão não é minha, é do selecionador, assim como quando Scolari não convocou Romário para a Seleção que se sagraria campeã do mundo, apesar das pressões até do Presidente da República, a responsabilidade não era do Presidente da CBF. Mais tarde Scolari não convocou Vitor Baia para a Seleção Nacional que viria a sagrar-se vice-campeã Europeia e a responsabilidade não foi do Sr. Gilberto Madaíl. Eram critérios do selecionador. E os regulamentos da FPP assim o preveem. Mas é impossível o selecionador fazer valer os seus critérios relativamente a atletas não filiados. E, por isso, os critérios do selecionador só passariam a ser válidos no dia 9 de setembro, quando a atleta se filiou sem ter dado conhecimento à FPP ou ao selecionador. Filiação, essa, feita no site da FPP e da qual só tomámos conhecimento no dia 19 de setembro, porque a atleta apareceu na lista de inscrições de uma prova que se realizaria de 22 a 25 de setembro. Nessa altura, já tinha sido anunciada a lista de atletas pré-convocadas, sendo que a primeira foi divulgada a 18 de agosto e a segunda a 16 de setembro. Mas a 31 de julho, quando o selecionador contactou a atleta, ainda não. O Selecionador não convocou a atleta e a decisão do selecionador é final.

E o selecionador, deduzo, conta com a sua total confiança.

Como Presidente da Federação apoio a 100% a decisão do selecionador pois sei que ele queria a atleta na Seleção e por isso lutou. É uma pessoa competente, está por dentro dos regulamentos, fez um programa e a atleta optou por não participar nesse programa. Estar na Seleção não é ser só o melhor, existem regras para serem cumpridas por todos e toda a sociedade democrática assenta nesses princípios – regras e direitos iguais para todos. Não se pode achar que por alguém ser o melhor que está acima das regras. Em resumo, a minha posição final é que a atleta não foi selecionada porque não quis, não sei se por ter sido mal aconselhada ou por outras razões. Isso é para lhe perguntarem a ela. Que tenho pena, sim, muita mesmo, mas não podemos obrigar as pessoas a jogar pela Seleção e a cumprir a lei e os regulamentos. Cumprem, jogam, não cumprem, não jogam. No entanto que fique bem claro que para o ano haverá um Europeu por Equipas que poderá eventualmente ser em Portugal também, haverá um Mundial de Duplas, e muitos encontros com selecões estrangeiras. Se a atleta optar por se filiar no inicio do ano, e mantiver o nível de jogo que tem hoje, e cumprir os regulamentos, ou os critérios de excepção que o selecionador determinar, certamente fará parte da selecção e inclusive poderá ser apoiada pela Federação como outros atletas o são. Esse é o meu desejo e o do selecionador nacional, e de todos os portugueses, mas só está nas mãos de uma pessoa – da Ana Catarina Nogueira.

A equipa portuguesa fica “fragilizada” sem o contributo de “Nogui”?

Não sei, isso só saberemos conforme os resultados alcançados. Se será mais difícil para as atletas portuguesas igualarem o resultado de há dois anos? Com a Ana Catarina Nogueira seria mais fácil, sim! Mas o valor de uma seleção não se vê por um jogador só, e não é isso que está aqui em causa. A Seleção está definida e é uma excelente equipa. Temos muita confiança nas nossas jogadoras, elas têm trabalhado muito, têm participado no plano de trabalhos da Seleção, têm cumprido requisitos, têm feito sacrifícios, têm evoluído muito e acreditamos que podem chegar ao terceiro lugar. E, mesmo sabendo da impossibilidade de ganhar à Argentina e Espanha, é para isso que estão focadas e a trabalhar. O terceiro lugar está em aberto. Não sei se com a Ana Catarina Nogueira chegaríamos lá ou não, mas esta é a equipa que temos e é com estas atletas que vamos jogar. Já é altura de deixar de falar da Ana Catarina Nogueira, pois agora estamos todos concentrados no Mundial e em apoiar a seleção que temos – é esta e é com esta que vamos vibrar ou chorar, seja de tristeza ou de alegria. É a nossa seleção. Vamos Portugal!