Nuno Borges: «Medvedev drena-te e faz-te sentir desesperado»

Por José Morgado - Janeiro 22, 2024
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Nuno Borges viu terminada esta segunda-feira a sua histórica participação no Australian Open — ainda sacou um set numa batalha diante de Daniil Medvedev no duelo de acesso aos ‘quartos’ — e no final do encontro voltou a passar pela principal sala de conferências de imprensa de Melbourne Park para fazer a análise ao encontro e ao que esta semana significa para a sua carreira.

O QUE TORNA MEDVEDEV TÃO DIFÍCIL E ESPECIAL

O efeito que o jogo do Medvedev tem nos rivais é fazer-te falhar demais. Não é que ele te empurre muito para trás ou bata muito forte na bola, ou dispare winners atrás de winners. Mas ele leva-te para trocas de bola longas, drena-te lentamente e faz-te sentir desesperado e exagerar. Obriga-te a bater mais uma bola, outra e mais outra até que falhes. Ele é ótimo a fazer-te sentir dessa maneira.

BALANÇO DE UM GRANDE TORNEIO

Estou muito contente. Ainda não me apercebi bem daquilo que acabei de fazer aqui e do que significa mas para mim foi uma experiência incrível. Agora é o meu Grand Slam favorito. Gosto de jogar aqui. Vim de duas semanas não muito fáceis e saio daqui com uns oitavos-de-final. Estou orgulhoso do meu trabalho e tenho de ganhar confiança com aquilo que acabei de fazer aqui.

O QUE FEZ A DIFERENÇA NESTE AUSTRALIAN OPEN

Às vezes é acreditar um bocadinho mais no trabalho, à procura sempre de melhorar. Estou na minha melhor fase da carreira. Há semanas em que vou baixar um pouco, outras em que vou subir, mas tenho de me dar a oportunidade. Quando trabalho bem e estou bem de cabeça… posso fazer coisas incríveis. O ténis é mesmo assim.

UTILIZOU MUITO O AMORTI E VARIAÇÕES. ABORDAGEM TÁTICA DIFERENTE?

Não uso tanto o amorti normalmente em piso rápido por causa das condições. Mas o Daniil joga muito atrás no campo e achei que poderia fazer parte da minha estratégia puxá-lo para a frente. Já vi outros jogadores fazerem isso também contra ele. Fiz muito isso e subi mais à rede do que é habitual precisamente pela mesma razão. Foram as duas questões que alterei.

O QUE HÁ A MELHORAR?

Em termos físicos tenho muito a melhorar. Só estes encontros já me ajudam e puxam o meu nível para cima. Quero continuar a jogar os maiores torneios do Mundo e evoluir a competir. É a maior motivação que tenho. Adorei estar aqui a competir com os melhores do Mundo. Sou o jogador que sou e não vou passar a jogar com a mão esquerda ou a fazer serviço-volley. Mas posso melhorar muito cada pancada.

IGUALAR FEITOS DE JOÃO SOUSA

Não me quero comparar com o João. Ele é o melhor de todos os tempos. Fez dois oitavos-de-final de Grand Slam em singulares, mesmo nos pares fez coisas que mais ninguém fez. Eu só quero pensar no meu caminho, que é único. Não penso em fazer melhor do que ele. Tanto um como outro damos o melhor por Portugal. Tenho aprendido muito com ele e espero continuar a aprender enquanto ele ainda jogar e mesmo depois. Vejo o João Sousa como um grande exemplo.

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt