Guga Kuerten: o ‘canarinho’ que ‘limpou’ Roland Garros ao ritmo do samba

Por Tiago Ferraz - Julho 29, 2020
Gustavo-Kuerten

O Bola Amarela continua a dar a conhecer o que de melhor o ténis nos deu. Esta quarta-feira, viramos todas as nossas atenções para um tenista bem conhecido de todos e, em especial, dos nossos amigos e ‘irmãos’ brasileiros: Guga Kuerten.

Nascido a 10 de setembro de 1976, Guga Kuerten foi um dos grandes nomes dos finais do século XX e inícios do século XXI sendo que o próprio começou a jogar ténis por influência dos seus pais com apenas seis anos de idade.

O ‘canarinho’ só precisou de 19 anos para se tornar tenista profissional: em 1995 o Guga Kuerten dava os primeiros passos no circuito profissional e precisou de apenas um ano para conquistar o seu primeiro título da carreira em seniores depois de já ter vencido, entre outros, o torneio de Roland Garros na categoria juniores na variante de pares. Foi mesmo nesta variante que Gustavo Kuerten fez a festa pela primeira vez na carreira sénior ao vencer o ATP de Santiago ao lado de Fernando Meligeni.

No ano seguinte, em 1997, chegou o primeiro grande momento da carreira de Guga Kuerten: o ‘canarinho’ surpreendeu o mundo e venceu o torneio de Roland Garros pela primeira vez na carreira após ter batido Sergi Bruguera, em três sets, pelos parciais de 6-3, 6-4 e 6-2, conquistando o seu primeiro título do Grand Slam com apenas 20 anos.


Depois da primeira grande conquista a nível mundial, Guga Kuerten começava a ganhar o respeito de todos no circuito de ténis e, ainda nessa temporada, deu seguimento ao bom momento e voltou a conquistar títulos: na variante de pares Guga Kuerten fez a festa no Estoril Open ao lado de Fernando Meligeni sendo que esta era uma dupla que começava a ter sucesso e que, neste mesmo ano, conquistou mais dois torneios: o ATP de Bolonha e o ATP de Estugarda.

1998 foi um ano bem mais discreto para Guga Kuerten que, ainda assim, conseguiu vencer o ATP 250 de Estugarda e ainda o ATP de Maiorca na variante singular. Na variante de pares, Guga Kuerten juntou mais um título ao palmarés ao colocar as mãos no título de campeão do ATP 250 de Gstaad, na suíça também com Fernando Meligeni como seu par.

O ano que se seguiu foi, porventura, o ano que antecedeu o melhor período da carreira de Guga Kuerten enquanto tenista profissional: 1999 marca a altura em que Guga Kuerten conseguiu chegar aos títulos em Masters 1000…E logo em dose dupla. O brasileiro venceu o Masters 1000 de Roma ao ultrapassar o australiano Patrick Rafter e foi feliz em Monte Carlo ao vencer o chileno Marcelo Ríos na grande final. Em pares, o tenista ‘canarinho’ continuava a dar nas vistas e, com isso, veio mais um título: desta vez, Guga Kuerten venceu o ATP de Adelaide ao lado do equatoriano Nicolas Lapentti. Este foi o ‘aquecimento’ para aqueles que seriam os ‘anos de Ouro’ do brasileiro no circuito profissional de ténis que lhe valeram a chegada ao número um do ranking mundial: 2000 e 2001.

Nestes dois anos, o talento de Guga Kuerten ficou bem vincado em cada pancada que o brasileiro dava nos courts um pouco por todo o mundo: 2000 foi o ano em que Guga Kuerten voltou a ser feliz em Roland Garros depois de vencer o sueco Magnus Norman, em quatro sets, pelos parciais de 6-2, 6-3, 2-6 e 7-6.

Neste mesmo ano, Gustavo Kuerten venceu ainda mais quatro títulos: o ATP  de Santiago, o Masters 1000 de Hamburgo, na Alemanha, o ATP 250 de Indianapolis e ainda o Masters de final de época que reunia os melhores tenistas de cada temporada (equivalente às atuais ATP Finals) e que teve lugar em Lisboa naquele que foi o maior evento de ténis alguma vez realizado em Portugal. No encontro decisivo, Guga Kuerten venceu André Agassi. No final, foram cinco os troféus conquistados por Kuerten na variante singular sendo que, em pares, o brasileiro ia mesmo conseguir ‘elevar’ a fasquia ao ser campeão do ATP de Santiago ao lado de Antonio Prieto.

‘Embalado’ pelas vitórias de 2000 que lhe valeram o prémio de ‘Jogador do Ano’ ATP, Gustavo Kuerten chegou a 2001 muito focado em voltar a ter motivos para festejar naquele que foi o seu melhor ano de carreira a nível de conquistas: ao todo foram seis títulos conquistados esta temporada sendo que o mais importante foi conseguido no palco onde já tinha sido ‘rei’ por duas vezes: Paris, em particular no torneio de Roland Garros, batendo Alex Corretja numa final em que até deu um ‘pneu’: 6-7(3), 7-5, 6-2 e 6-0 para vencer o terceiro ‘major’ da carreira. Este foi um encontro que ficou marcado ainda pelo facto de Gustavo Kuerten ter desenhado um coração na terra batida francesa para demonstrar o seu apreço pelo público e pelo torneio gaulês.

Ainda assim, a grandeza de Gustavo Kuerten não se via só dentro dos courts e, também no início do novo milénio, o brasileiro formou a ‘Fundação Guga Kuerten’ para ajudar as pessoas com deficiência e doou dinheiro para ajudar os mais necessitados. Em 2003, foi distinguido com a ‘Ordem de Mérito’ no Brasil pelos seus feitos a nível desportivo sendo que, em 2016, levou a chama olímpica durante a cerimónia de abertura dos Jogos do Rio de Janeiro.

Em 2004, Guga Kuerten conseguiu uma das maiores vitórias da carreira ao derrotar o campeoníssimo suíço Roger Federer na terceira ronda do torneio de Roland Garros em 2004.

O brasileiro acabou a carreira em 2008 e ao todo venceu 28 títulos na carreira nas variantes singular e par sendo que é, de fora unânime, considerado como o melhor tenista brasileiro de todos os tempos sendo que os seus feitos levaram-no até ao Hall of Fame do ténis em 2012.

Guga Kuerten levou a bandeira do Brasil a todo o mundo e não podemos negar que o próprio deu um contributo decisivo tendo em vista a valorização do ténis como fizeram, entre outros, René Lacoste, Fred Perry e von Cramm, Margaret Court, Don Budge, John McEnroe, Boris Becker, Maria Sharapova.

Jornalista de formação, apaixonado por literatura, viagens e desporto sem resistir ao jogo e universo dos courts. Iniciou a sua carreira profissional na agência Lusa com uma profícua passagem pela A BolaTV, tendo finalmente alcançado a cadeira que o realiza e entusiasma como redator no Bola Amarela desde abril de 2019. Os sonhos começam quando se agarram as oportunidades.