Gastão Elias de olho em mais um título: «Sinto-me tão bem como na semana passada»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Abril 7, 2022
Créditos: Sara Falcão/FPT

Gastão Elias mantém o pé no acelerador e já está nos quartos-de-final do Oeiras Open 2, depois de levar a melhor diante de Nuno Borges. No final do encontro, o português, campeão na semana passada, garante que se mantém confiante e com os olhos postos em mais um título.

ANÁLISE AO ENCONTRO

Sinto-me muito bem, muito feliz. Tive um início de jogo um pouco complicado. Não estava a conseguir contrariar o estilo de jogo dele. Tive algumas dificuldades. No segundo set tentei ao máximo ir mantendo o serviço e tentar arrastar o set o mais longe possível. Se ele fizesse um break ia ser ainda mais difícil porque ele ia estar mais tranquilo. Portanto, o segredo foi manter-me lá, a lutar, a correr. Estive bem fisicamente, mentalmente e acho que fui corajoso nos momentos importantes.

GRANDES PONTOS NA RETA FINAL DO SEGUNDO SET

Volley saiu bem. Foi uma altura um bocado tensa para fazer aquilo. Quando estava com a bola na mão parecia tão fácil que saiu-me bem. Foi feito sem muita pressão. Se calhar num break point ou 40-40 tinha feito de outra maneira. Juntando isso, ao set point, que foi muito importante, consegui sacar um bom passing shot num momento crítico. Isso desmoralizou-o um bocadinho. Depois o terceiro set começou do zero, ainda estive 15-40 e se não tivesse aguentado o meu serviço, o terceiro set podia ter sido totalmente diferente. Fico feliz por ter conseguido que esses dois pontos tenham servido de alguma coisa.

MOMENTO DE VIRAGEM NO INÍCIO DO TERCEIRO PARCIAL

Os inícios de set são sempre complicados, ainda para mais em terra. Às vezes fica-se muito tempo ali sentado e é difícil começar o set com a intensidade com que acabaste o set anterior. Fiquei um pouco irritado. Um 30-15 era totalmente diferente de um 15-30. Já não tenho 14 anos e sei que estes momentos podem acabar com um jogo. Fiz o máximo que pude para aguentar o meu serviço. Por conta disso ele ficou um pouco frustrado e eu aproveitei logo isso. Deu-me margem para jogar o terceiro set mais ou menos tranquilo. Dois tivemos oportunidades e a diferença está em quem consegue agarrá-las.

NÍVEL FÍSICO

Em termos físicos, a meio e no final do terceiro set já não estás como no início. Quando me sinto cansado gosto de acreditar que o meu adversário não deve estar muito melhor do que eu. Acho que estive bem fisicamente. Claro que estava cansado no final. Sentia que havia bolas a que ele já não chegava tão bem e soube aproveitar bem isso. Tirei bem essa informação do outro lado do campo.

O QUE PESA MAIS

Em termos físicos, amanhã vou estar cansado com certeza. Agora em termos de confiança, tento sempre manter um nível emocional mais ou menos estável. Não gosto de me sentir super confiante porque isso às vezes perigoso. Um atleta quando está em momentos bons tem de ter tranquilidade, estar lúcido e entender que a carreira e os momentos são feitos de altos e baixos. Podes estar muito bem e em pouco tempo as coisas dão a volta completamente. E quando não estás num momento bom, não te podes deixar afetar por isso. Tens de manter uma estabilidade mental segura e tranquila. É isso que levo daqui. Já me sentia a jogar bem há algum tempo e portanto vou continuar a fazer o que tenho vindo a fazer nestes últimos tempos.

VITÓRIA COM UM GOSTO ESPECIAL?

Eu tenho 31 anos, o Nuno 25. Eu tenho a minha carreira, ele tem a dele. Estes jogos acontecem de vez em quando. Fico feliz por ter ultrapassado um jogador muito bom, não o Nuno. Em relação ao que as pessoas acreditam ou não isso não me faz muita diferença. A partir do momento em que não acreditar que posso, vou parar de jogar ténis. Como acredito que ainda posso, vou continuar, cheio de malta a comentar e a falar mal, não é um dia novo na minha vida. Tenho a minha equipa, a minha família, estou ciente do que faço, sei que estou num bom caminho e é isso que importa.

O QUE MUDOU PARA TRIUNFAR

Não faço ideia! Já vi o Nuno jogar várias vezes, sei exatamente o que ele faz, mas não me sinto confortável nunca a jogar com ele. Tenho algumas dificuldades. Já vi o Nuno jogar com jogadores bem piores do que eu e ter mais dificuldades. É simplesmente um estilo de jogo que se encaixa no meu. Nunca me senti assim confortável em fazer o meu tipo de jogo, sinto-me sempre condicionado com o que está do outro lado. O jogo com ele é do início ao fim arranjar soluções para contrariar um estilo de jogo que me causa dificuldades.

TENSÃO NUM DUELO ESPECIAL

Nós os dois queríamos realmente ganhar. Eu porque venho numa onda de bons resultados e quero aproveitar, ele porque fez meia-final e ficou o bichinho de ter ficado tão perto. Junto com isso, somos portugueses, o público fica sempre mais ou menos dividido. Ele tem um treinador do lado dele que já viajou comigo várias vezes, nós já o conhecemos muito bem. Acaba por ser um jogo enrolado por todos esses fatores.

QUE CONFIANÇA TEM PARA VENCER O TÍTULO

Em termos de confiança estou mais ou menos igual. Mesmo perdendo vários jogos seguidos, vinha confiante porque estava a treinar muito bem ultimamente. Em relação a esta semana não é diferente. Sinto-me tão bem como na semana passada. Não vou dizer que me sinto melhor porque tive um obstáculo grande no meu caminho que em termos físicos pode custar-me lá na frente. O jogo de hoje foi tenso e vai deixar mazelas para os próximos dias.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt