Djokovic puxa dos galões: «Quantos na história são capazes de fazer o que fiz?»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Janeiro 29, 2024
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Novak Djokovic viveu uma desilusão no Australian Open 2024, ao ser eliminado nas meias-finais por Jannik Sinner. No entanto, já fora do âmbito do Happy Slam, o número um do Mundo deu uma entrevista sentida na qual voltou à sua infância e à forma como isso impacta a sua carreira. E, pelo caminho, puxa dos galões para se orgulhar de tudo o que já alcançou.

GUERRAS POR QUE PASSOU NA INFÂNCIA

Passámos por duas guerras, durante quatro anos entre 1992 e 1996. Nenhum atleta sérvio podia ir para o estrangeiro para competir internacionalmente. Foram tempos muito desafiantes. Endurece-te e facilmente podia ter sido de outra maneira. Mas acho que foi uma espécie de destino também para jogar ténis e alcançar estes grandes feitos.

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CAPACIDADE DE LUTA VEM DE TRÁS

Pode ser, sim. Não sei até que ponto, mas sem dúvida que há alguma ligação com a minha educação. Tinha 12 anos quando tivemos bombardeamentos durante dois meses e meio sem parar dia e noite. Às vezes isso vem-me à cabeça quando ouço fogo de artifício. Esse som faz-me lembrar bombas a explodir e granadas. Não é muito agradável, ainda há um pouco de trauma. Acho que a resiliência, o espírito de nunca desistir, está relacionado com isso.

PERSONALIDADE DE FERRO

Temos um ditado no nosso país que é o seguinte: ‘podes matar o nosso corpo mas nunca poderás matar a nossa alma e o nosso espírito’. Acredito mesmo nisso. No fim do dia, quantos tenistas na história são capazes de fazer o que fiz e alcançar o que alcancei? Não digo isto para me elogiar, digo para me lembrar a mim mesmo: ‘vê onde estás, vê o que fizeste’. Ao mesmo tempo sinto que é um capítulo da minha vida e há mais por vir.

A DISTÂNCIA DOS FILHOS

Luto com isso cada vez mais à medida que o tempo passa. A Austrália é uma longa viagem, provavelmente a mais longa do ano. O meu filho tem nove anos e a minha filha seis. Mudam a cada dia e semana. À minha filha caiu-lhe o primeiro dente e não estive lá para isso, mas ao mesmo tempo trata-se de equilíbrio. Os pais deviam brincar com os filhos o tempo todo. É a minha parte favorita do dia, quando tenho a atenção deles e eles a minha, estamos completamente presentes, brincamos, inventamos coisas. É o melhor.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt