Djokovic: «Consegui tudo o que procurava no ténis mas quero ainda mais»

Por Nuno Chaves - Agosto 26, 2025

Aos 38 anos, Novak Djokovic é um homem realizado e considerado por muitos como o melhor tenista de todos os tempos mas, apesar disso, não quer ficar por aqui.

O tenista sérvio deu uma entrevista muito interessante a Jay Shetti onde abordou os primeiros momentos da sua carreira e tudo aquilo que fez para ultrapassar Rafa NadalRoger Federer.

IMPORTÂNCIA DE ESTAR BEM RODEADO

Estou muito agradecido por ter estado sempre rodeado de certas pessoas desde o início da minha carreira, que me ajudaram a cuidar de mim, desde uma abordagem mais holística à multidisciplinaridade da preparação, da prevenção e da recuperação, tanto física como mental. E sobretudo sendo eu jovem e sem perceber nada disso. Não foi preciso explicarem-me, acreditei neles.

IR SEMPRE À PROCURA DE VENCER

O ténis consome a maior parte da minha vida, agora menos porque tenho dois filhos e outros interesses. Continuo a ser tenista profissional e continuo a experimentar o melhor e o pior de mim dentro de campo. E quando me dizem que fui um dos primeiros atletas a introduzir espiritualmente tudo isso em mim, diria que sim, mas continuo a surpreender-me com o facto de ainda hoje estar a trabalhar nisso, e foi muito difícil para mim aceitar essa realidade.

Quando estás no melhor momento da tua carreira sentes-te invencível, sentes que até podes caminhar sobre a água, e é uma sensação incrível. Mas quando o ego te leva a esses lugares é difícil voltar ao princípio. E talvez não se deva voltar ao princípio, mas sim encontrar um equilíbrio. No fundo, demorou tempo até eu aceitar que, por muito que tivesse aprendido e por muito que tivesse feito nos últimos 20 anos, isso não me garantia sempre encontrar uma solução — coisa que antes conseguia. E isso foi uma grande revelação para mim.

À PROCURA DE MAIS HISTÓRIA

Consegui tudo o que procurava no ténis, mas quero mais. E isso vem do propósito, da inspiração, da motivação, do amor e da paixão pelo desporto e por fazer as pessoas felizes quando me veem a jogar ténis. Sinto que continuo a expandir essa luz quando jogo, inspirando as novas gerações. Mas o meu desejo de fazer mais também vem da sensação de que não triunfei o suficiente, e isso vem das minhas origens e da relação com o meu pai. É uma batalha interior que tenho comigo próprio frequentemente.

Sinto que, enquanto tiver capacidade para competir pelos maiores títulos do meu desporto, vou continuar a jogar. E outra coisa que me inspira a seguir em frente é querer desafiar os meus limites, mental e fisicamente. Porque quando chegas aos 30 no ténis, começas a contar os dias que te faltam para a reforma, mas agora é diferente porque o cuidado com o corpo melhorou muito. Não são apenas os melhores que têm vários especialistas nas suas equipas — agora os 50 melhores também têm.

COMO GERIR OS OBJETIVOS

Em 2011, ganhei o meu primeiro Wimbledon e tornei-me número um do mundo no mesmo dia. E essa experiência só acontece uma vez na vida. A partir daí tive de definir novas metas. Tinha 23 anos e sentia que estava no melhor momento da minha carreira. Quis ganhar todos os Grand Slams e depois várias vezes cada um deles, depois quis ganhar a medalha de ouro para o meu país e depois quis fazer história, etc.

Por isso, acho que orientar mentalmente os teus objetivos é superimportante, porque a clareza é essencial para teres noção do que queres fazer. É um processo constante, porque não me sinto completamente realizado já que sinto que posso fazer mais. Mas, por outro lado, claro que me sinto realizado, feliz e orgulhoso. E estou desejoso que um dia consiga aperceber-me disso a 100%, mas enquanto continuar em atividade não conseguirei.

2011, ANO DECISIVO

Depois de ganhar o meu primeiro Grand Slam na Austrália, em 2008, estive três anos sem vencer nenhum e o Nadal e o Federer ganhavam-me sempre. Mudei de raquete, de membros da equipa, fiz de tudo para encontrar a fórmula para os vencer. Nessa altura sofria muito fisicamente e foi quando percebi que era intolerante ao glúten. Ao mudar a minha dieta, ajudou-me mentalmente, a minha recuperação melhorou e também comecei a tomar melhores decisões dentro de campo.

E foi em 2011 que experimentei essa grande mudança: estive invicto em mais de 40 jogos, ganhei três Grand Slams e tornei-me número um do mundo.

CONVERSA IMPACTANTE COM KOBE BRYANT

Numa conversa pessoal que tive com o Kobe Bryant, confessei-lhe que não gostava de rever os jogos em que perdia ou em que jogava mal, porque me custava ver-me assim. E ele disse-me que devia ver, nem que fosse uma pequena parte desses jogos, porque devia aprender com esses erros e ter a oportunidade de os corrigir no próximo jogo ou no próximo torneio. Então comecei a rever os jogos que perdia, mas nunca vejo o match point.

Leia também:

Jornalista na TVI; Licenciado em Ciências da Comunicação na UAL; Ténis sempre, mas sempre em primeiro lugar.