Borges e o duelo com Cabral: «É mais importante para ele do que para mim»

Por José Morgado - Outubro 27, 2025

Depois da eliminação na primeira ronda do quadro de singulares do Masters 1000 de Paris, Nuno Borges analisou em entrevista ao jornal Record o encontro em que foi derrotado e projetou a estreia na variante de pares, onde terá pela frente o compatriota e amigo Francisco Cabral. O tenista maiato reconheceu dificuldades na adaptação às condições de jogo, explicou o que lhe faltou para forçar o terceiro set e admitiu que encara o duelo português com espírito competitivo, mas também de amizade e superação.

ANÁLISE À DERROTA EM SINGULARES

Não me senti muito bem adaptado. Não estava a conseguir servir bem, principalmente em relação à semana passada, onde eu consegui fazer um jogo muito, muito bom. Nestas condições, aqui em Paris, eu senti-me bastante pior. Lá está, o ténis também é mesmo assim, de uma semana para a outra, as condições mudam e de repente as minhas sensações mudam. Acho que me fui enrolando melhor no jogo e que ele também sentiu um bocadinho mais essa pressão. Acho que estava a lhe sair tudo muito limpinho do lado dele, sem grandes percalços. E depois, quando eu consegui devolver uma ou outra bola, a adaptar-me um bocadinho melhor ao jogo dele, a tomar uma ou outra decisão diferente, ele hesitou e deu-me ali um pouco de hipóteses. Mesmo assim, eu joguei mal dois ou três pontos ali que me custaram o tie-break, mas tive hipóteses de poder levar a um terceiro set. E aí, quem sabe? Mas estava a sentir-me bem para poder virar o jogo. Já fiz isso este ano, bastantes vezes, e desta vez estive perto, mas não consegui.

O QUE FALTOU PARA VENCER O PRIMEIRO SET

Muita coisa e muito pouca coisa. Depende de como vemos a situação. Eu podia não ter estado naquela posição. Estive o set todo por baixo. Depois estive 6-5 e 0-30. Não consegui aproveitar. Depois estive por cima e também não consegui aproveitar as duas oportunidades que tive e senti que de certa maneira até tive a bola na raquete para poder ganhar o set. Não sei se tomei a decisão errada ou se simplesmente não executei tão bem. Não me arrependo muito. Tomei a decisão que tomei porque me sentia da maneira que me sentia. Na altura achei que tomei as melhores decisões, mas não posso estar a questionar também todas as bolas. No 6-5, até servi bem, mas ele respondeu melhor ainda. Na troca de bola, eu falhei uma bola na tela. Podia ter passado, podia ter executado melhor. Era uma bola neutra. Não era para um winner. Não sei. Há muita coisa para dizer, mas ao mesmo tempo pouco relevante.

DUELO PORTUGUÊS NOS PARES CONTRA FRANCISCO CABRAL

No Circuito Mundial nunca aconteceu jogar contra ele. Joguei muitas vezes com ele, por isso também não havia hipótese de jogar contra ele. Mas estou entusiasmado. Certamente que é mais importante para ele do que é para mim, e vou tentar usar isso a meu favor. Tentar desfrutar o momento. Estou a jogar com um amigo meu. Não fizemos um grande torneio aqui, em singulares (ndr: derrota de Nuno Borges e de Tomás Machac na primeira ronda), portanto, vamos tentar procurar melhores sensações. Ainda não falei muito com o meu parceiro, mas acho que ele está na mesma situação do que eu: tentar acabar aqui este torneio com melhores sensações. Pode ser que os pares nos dessem essa hipótese. O Francisco acaba por ser um grande amigo meu e o meu melhor amigo no Circuito. Mas amanhã é business.

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OBJETIVOS PARA O TORNEIO DE PARES

Acho que nunca vai ser tão relevante. Óbvio que, se de repente estamos aqui numas meias-finais e umas finais de pares, algo que nunca fiz, vai ser um grande momento para mim e novas etapas desbloqueadas na vertente de pares. Não é algo que eu andasse a trabalhar especificamente para isso, mas sem dúvida que seria sempre bem-vindo esse tipo de resultados. Agora, claro que preferíamos fazer exatamente o mesmo resultado, mas nos singulares e ir mais longe. Era isso que realmente me fazia feliz. E é para isso que trabalho. Se calhar os pares vão ter a sua importância numa outra altura. Neste caso, neste momento, é tudo o que eu tenho, vou tentar agarrar-me a isso da melhor maneira, mas ao mesmo tempo sem sobrevalorizar, porque no fundo, quero é ganhar torneios nos singulares. É ganhar jogos nos singulares. Vou à procura disso. Neste caso, neste momento, não tenho mais a que me agarrar, então vou aproveitar os pares.

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com