Bola Amarela Podcast com Francisco Cabral: «Alcaraz é um daqueles jogadores em que só a presença enche o ar»

Por José Morgado - Maio 9, 2022
cabral

Uma semana depois do histórico título no Millennium Estoril Open (e já com outro no bolso), recebemos o Francisco Cabral para falar um pouco sobre o verbo que melhor o define nos últimos meses: ganhar. E por falar em ganhar, ele explicou-nos o que viu em Carlos Alcaraz de diferente desde a primeira vez que se cruzaram e não hesita em colocá-lo entre os favoritos a Roland Garros.

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SÓ SABE GANHAR COMO ALCARAZ?

“É um facto que eu nos últimos dois meses e meio só perdi um encontro em Madrid em que o meu parceiro tinha de ir para outro torneio, mas não é comparável os torneios que eu jogo e os do Alcaraz. Não me importava nada de um dia ter esta sequência de vitórias…”

VOLTAR AOS CHALLENGERS

“Não foi uma semana fácil. Custou-nos muito tanto a começar como a acabar pela ressaca da semana no Estoril Open. Toda a descarga emocional, foi difícil viajar logo no dia a seguir, jogar logo, mas é uma aprendizagem e temos de aprender a lidar com estes momentos. Temos de estar conscientes e contentes.  É um processo e no final de contas estamos contentes por conquistar mais um título.”

PÓS TÍTULO NO ESTORIL

“O que foi mais diferente foram as solicitações para entrevistas. Não estamos habituados a ter de marcar uma hora e adaptar o nosso dia para falarmos com a imprensa. Normalmente não é assim. Foi diferente. A energia gasta é superior à normal e se calhar também foi por isso que nos custou mais exibir o nível habitual. Foi bom chegar ao clube do torneio seguinte e receber mensagens de parabéns e tudo isso. É por um excelente motivo.”

ROLAND GARROS

“Eu e o Nuno não entramos de certeza absoluta. Continuo à procura de parceiros, já recebi propostas mas de jogadores que estão alguns lugares atrás de mim. Vou aguardar para perceber qual a melhor opção. Para a semana estou inscrito em Genebra com o João Sousa e ainda tenho alguns dias para tentar entrar em Roland Garros”.

WIMBLEDON COM BORGES

“Wimbledon é algo que já foi conversado com o Nuno e se houver a disponibilidade dos dois está em cima da mesa. Somos muito amigos, é o nosso torneio preferido e sei que ele também ele. Se cumprirmos um cut é uma forte possibilidade”.

ALCARAZ

“Arrisco-me a dizer que mantendo-se saudável está muito capaz de ganhar um Grand Slam só este ano. Há determinados jogadores que olhas e só a presença deles… o ar fica diferente. O Fokina está a top 30 e acabou de fazer final de Masters 1000 e é um jogador impressionante, mas tem uma imagem… e se passa um Cilic ao lado eu sinto uma ‘vibe’ diferente. Há jogadores em que se sente que são diferentes e o Alcaraz é diferente, é especial. Ajuda que tenha um treinador que foi o que foi. Mas senti o mesmo quando o Tsitsipas veio jogar a Oliveira de Azeméis um Future”.

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CHANCES EM ROLAND GARROS

“Não sei se é top 2 ou 3 de favoritos, mas é seguramente um dos principais. Torneio após torneio ele cala os poucos críticos que ainda tem. Ainda por cima com o ranking que tem evita os principais tubarões até à segunda semana. Ele evitar um top 8 até aos ‘quartos’ poupa-lhe energia extra, coisa que não aconteceu por exemplo no US Open e isso prejudicou-o depois mais para a frente no torneio. Mas se metes Alcaraz numa final de Roland Garros à melhor de cinco com o Nadal… não sei como ele vai reagir. Mas ele tem mostrado que quanto maior a ocasião, melhor ele joga…”

DE OLHO EM DJOKOVIC

“É impossível tirá-lo de sério candidato a qualquer torneio, mesmo que jogue só com um braço. Por muito que me custe, porque não sou grande fã, para mim é o melhor jogador de todos os tempos. Em termos estatísticos é o melhor e é alguém que é candidato em qualquer torneio. Ganha dois ou três jogos em Roland Garros e começa a afinar as pancadas. Com o Alcaraz ainda não o senti fino e foi 6-7 no terceiro set. Só tem por onde melhorar e ele adora desafios. Adora que achem que ele não é o favorito”.

ESTAR NO MESMO TORNEIO DE FEDERER

“Muito sinceramente nunca pensei nisso. Estou demasiado focado na minha carreira, passo muito tempo a pensar nas minhas coisas e não pensei muito pelo facto de ele estar ausente há muito tempo. Sempre o vi com uma distância enorme, mas claro que estar no mesmo torneio do que ele era ótimo. Talvez viesse a ser o primeiro jogador a quem pedisse uma foto. É o meu ídolo desde pequeno. (…) Tenho dúvidas que ele voltará ao nível a que estava habituado, por muito que me custe dizer”.

JOGADOR DE SINGULARES QUE PODE DAR QUE FALAR

“Gosto muito de um italiano que é o Cobolli, que jogou com o Nuno recentemente. Gosto do ténis dele, da atitude dele e é como digo do Alcaraz: vejo ali uma energia diferente dos outros, que não vejo em 90 ou 95 por cento dos jogadores dos Challengers.”

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com