Bautista recorda falecimento dos pais: «Eles queriam que os meus sonhos se tornassem reais»

Por José Morgado - Abril 10, 2020
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Roberto Bautista Agut, número 12 do ranking mundial, é um dos tenistas com a história mais emocionante do circuito mundial, pelo que não admita que o seu relato no ‘Behind The Tennis’ tenha sido um dos mais tocantes desde que o tenista norte-americano Noah Rubin criou este projeto. O tenista espanhol, semifinalista de Wimbledon em 2019, perdeu a sua mãe com paragem cardíaca em 2018, um ano e meio antes de o seu pai ter falecido durante as Davis Cup Finals do ano passado.

A minha mãe faleceu em 2018. Eu estava no clube em que treinava quando recebi uma chamada depois do treino. Disseram-me que minha mãe foi dormir e não acordou. Foi 100% inesperado. Ela era muito jovem, tinha apenas 52 anos, mas estava há muito a aguentar o stress de ser a cuidadora do meu pai. Em 2016, o meu pai sofreu um acidente. Caiu enquanto limpava os nossos estábulos e ficou paralisado. Foi dias antes dos Jogos Olímpicos do Rio, quase desisti, mas acabei por decidir jogar. O meu pai estava na cama no quarto ao lado quando a minha mãe faleceu. Foram quatro anos incrivelmente difíceis. Por causa do acidente, ele ficou tetraplégico, não conseguia mover-se do pescoço para baixo. Usou uma máquina de respiração artificial, já que não podia fazer isso sozinho. Tínhamos duas pessoas, além da minha mãe, que cuidavam do meu pai 24 horas por dia. Então, quando minha mãe faleceu, a minha esposa e eu tivemos muito trabalho, considerando que ele precisava de ajuda durante todo o dia. Contratámos mais algumas pessoas para nos ajudar.

Quando eu era mais jovem e tinha problemas mais fáceis de lidar, concentrava toda a minha energia e tristeza no court. Isso ajudou-me quando fiquei mais velho e lidei com a situação dos meus pais. Não foi fácil, não havia tempo para descansar. Eu treinava e depois usava meu tempo livre para ir para casa e visitar meu pai no hospital ou em casa. Foi extremamente difícil. Eu sabia que durante esse tempo não conseguia parar de competir. Tive que ajudar o meu pai. No começo, não sabíamos quanto custariam os tratamentos ou todas as suas operações. Eu tive que continuar a trabalhar. Eu sei que para além de dinheiro, o meu pai queria muito que eu continuasse a jogar ténis. Os meus pais queriam que eu realizasse os meus sonhos, independentemente da situação. Continuei a jogar e lutei mais do que nunca. Essa foi a minha maneira de fazer tudo isto valer a pena. Durante esse período horrível foi quando joguei meu melhor ténis. Tenho a certeza que as pessoas não conseguem entender isso. Eu estava lá pela minha família o máximo que pude, mas não quis desperdiçar o trabalho para o qual trabalhei a vida toda. Eu queria continuar a trabalhar naquele momento e mais do que nunca. Eu nunca desisti. Era novembro de 2019, quando o meu pai faleceu… foi durante a final da Taça Davis contra o Canadá. Eu fiquei com ele nos últimos minutos e joguei um encontro 24 horas depois. Era o que meu pai queria para mim. A sua morte foi um pouco inesperada, mas minha família sabia que isso poderia acontecer a qualquer dia ou mês. Mesmo sabendo disso, uma vez que o meu pai faleceu, é algo que temos de enfrentar. Depois de perder a minha mãe, perdi o meu pai e não há palavras para isso. Esses momentos difíceis tornaram-me mais forte e mais poderoso. Isso deu-me uma força que os outros não tinham. Durante todos os momentos difíceis que tive em casa e não queria viajar porque estava tão cansado, isso fez-me ser quem sou. Isso deixou-me mais focado e motivado. Fiz tudo o que pude para lutar arduamente no court e mostrar à minha mãe e ao meu pai que o trabalho duro — o deles e o meu — valeu a pena.

O futebol sempre foi uma paixão. Quando eu era mais jovem, joguei no Villarreal até os 14 anos. Não foi uma decisão fácil, mas estou muito feliz por jogar ténis. Sinto muita falta de jogar para uma equipa, mas olhando para trás tenho sorte de ter escolhido o ténis. Foi difícil deixar todos os meus amigos na equipa e um sonho que também tinha. Não é fácil tomar uma decisão de vida como essa aos 14 anos. Não me arrependo, mas depois de alguns anos a treinar ténis, eu nunca poderia imaginar os sacrifícios que precisava fazer para me tornar um tenista profissional. É divertido quando tenho a chance de jogar futebol com alguns dos meus colegas.”

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt