This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Ricardo Oliveira: «‘Nogui’ não foi selecionada porque não quis»
A menos de 15 dias do World Padel Championships, o presidente da Federação Portuguesa de Padel (FPP), Ricardo Oliveira, prefere direcionar todas as atenções para as Seleções Nacionais, eleitas pelo selecionador Juan Manuel Rodriguez, mas não é capaz de ignorar a controvérsia gerada em torno de Ana Catarina Nogueira. A campeã nacional e melhor portuguesa no “ranking” feminino do World Padel Tour não foi convocada para o Mundial que irá decorrer na Quinta da Marinha Rackets Pro, entre os dias 14 e 19 de novembro. Alguns adeptos da modalidade questionaram a decisão, a atleta não gostou e o responsável federativo lamenta os contornos daquele que já se tornou no “caso Nogui”. “Só alguém sem qualquer sentido patriótico não teria pena e não quereria ter os melhores jogadores na Seleção”, afirma Ricardo Oliveira, lembrando, contudo, que para estar na equipa não basta “ser só o melhor, existem regras para serem cumpridas por todos e toda a sociedade democrática assenta nesses princípios – regras e direitos iguais para todos”.
É sobejamente conhecida a controvérsia gerada em torno da Seleção Nacional feminina, pelo facto de o selecionador Juan Manuel Rodriguez não ter convocado Ana Catarina Nogueira. Qual a sua posição em relação a este tema?
Sobre esse tema já se falou demais! Não acho benéfico estar a alimentar essa alegada controvérsia, gerada nas redes sociais, em torno da não convocatória de uma das nossas atletas com maior palmarés internacional. Não podemos avaliar a controvérsia pelas redes sociais, onde tudo é permitido e, por vezes, nem sabemos quem as usa para criar ruído. Uma Federação não pode pautar a sua orientação por um par de dezenas de comentários num universo de 40.000 pessoas afetas ao padel.
Maior ou menor, mas houve de facto algum descontentamento em relação à não convocatória da “Nogui” para o Mundial.
É natural que os fãs da Ana Catarina Nogueira estejam insatisfeitos, pois ela é uma atleta de renome internacional e é a portuguesa melhor classificada no ranking feminino do Wold Padel Tour. Isso, no entanto, não apaga a legislação portuguesa, regulamentos da FPP (aprovados em Assembleia Geral) e regras e critérios de um selecionador que fez uma aproximação à atleta – tal como explica no seu comunicado -, mesmo ela não cumprindo um dos dois requisitos contemplados na lei: nacionalidade e filiação. E ela optou por não corresponder.
Mas porquê? Que se passou exatamente?
A Ana Catarina Nogueira não reunia as condições mínimas, na altura em que se estavam a fazer os preparativos, nem nunca integrou os trabalhos da Seleção. Os treinadores têm um método de trabalho. Nós contratámos o selecionador para fazer um trabalho de preparação para o Mundial e ele começou esse trabalho a meio de 2015. A atleta foi convidada para participar nos trabalhos da Seleção em 2015 e recusou. Na altura, quando abordada pelo vice-presidente da FPP respondeu que iria pensar e mais tarde comunicou-lhe que não integraria os trabalhos, porque o seu patrocinador a teria aconselhado a não o fazer. Que teria dito que não a queria ver associada ao Team FPP nem à Federação. Essa informação foi naturalmente transmitida ao Selecionador quando entrou em funções. Depois, em 2016, optou por não se filiar e, mesmo assim, o selecionador achou que deveria abordar a atleta de forma a que ela desse o passo para que fosse legalmente selecionável e ele pudesse contar com ela. Disponibilizou-se inclusive para lhe dar um regime de exceção que lhe permitisse não jogar na maioria das provas ou atividades da FPP até ao Mundial e se pudesse dedicar ao circuito mundial. Esta conversa foi extensa e via whatsapp, pelo que tive oportunidade de a ler. O convite foi feito e tudo muito bem explicado. Nem sequer há o problema de comunicação pois a atleta fala muito bem castelhano. No dia 31 de julho, a atleta ficou mais uma vez de pensar se estaria interessada e de voltar ao contacto, desta vez com o selecionador. Ao contrário de 2015, até ao dia em que foram inscritas as seleções nunca respondeu.
Daí não ter sido convocada?
O desfecho é aquele que sabemos e é claro que temos muita pena que a Ana Catarina Nogueira não esteja na Seleção Nacional. Pessoalmente tenho enorme pena. Só alguém sem qualquer sentido patriótico não teria e não quereria ter os melhores jogadores na Seleção. A decisão não é minha, é do selecionador, assim como quando Scolari não convocou Romário para a Seleção que se sagraria campeã do mundo, apesar das pressões até do Presidente da República, a responsabilidade não era do Presidente da CBF. Mais tarde Scolari não convocou Vitor Baia para a Seleção Nacional que viria a sagrar-se vice-campeã Europeia e a responsabilidade não foi do Sr. Gilberto Madaíl. Eram critérios do selecionador. E os regulamentos da FPP assim o preveem. Mas é impossível o selecionador fazer valer os seus critérios relativamente a atletas não filiados. E, por isso, os critérios do selecionador só passariam a ser válidos no dia 9 de setembro, quando a atleta se filiou sem ter dado conhecimento à FPP ou ao selecionador. Filiação, essa, feita no site da FPP e da qual só tomámos conhecimento no dia 19 de setembro, porque a atleta apareceu na lista de inscrições de uma prova que se realizaria de 22 a 25 de setembro. Nessa altura, já tinha sido anunciada a lista de atletas pré-convocadas, sendo que a primeira foi divulgada a 18 de agosto e a segunda a 16 de setembro. Mas a 31 de julho, quando o selecionador contactou a atleta, ainda não. O Selecionador não convocou a atleta e a decisão do selecionador é final.
E o selecionador, deduzo, conta com a sua total confiança.
Como Presidente da Federação apoio a 100% a decisão do selecionador pois sei que ele queria a atleta na Seleção e por isso lutou. É uma pessoa competente, está por dentro dos regulamentos, fez um programa e a atleta optou por não participar nesse programa. Estar na Seleção não é ser só o melhor, existem regras para serem cumpridas por todos e toda a sociedade democrática assenta nesses princípios – regras e direitos iguais para todos. Não se pode achar que por alguém ser o melhor que está acima das regras. Em resumo, a minha posição final é que a atleta não foi selecionada porque não quis, não sei se por ter sido mal aconselhada ou por outras razões. Isso é para lhe perguntarem a ela. Que tenho pena, sim, muita mesmo, mas não podemos obrigar as pessoas a jogar pela Seleção e a cumprir a lei e os regulamentos. Cumprem, jogam, não cumprem, não jogam. No entanto que fique bem claro que para o ano haverá um Europeu por Equipas que poderá eventualmente ser em Portugal também, haverá um Mundial de Duplas, e muitos encontros com selecões estrangeiras. Se a atleta optar por se filiar no inicio do ano, e mantiver o nível de jogo que tem hoje, e cumprir os regulamentos, ou os critérios de excepção que o selecionador determinar, certamente fará parte da selecção e inclusive poderá ser apoiada pela Federação como outros atletas o são. Esse é o meu desejo e o do selecionador nacional, e de todos os portugueses, mas só está nas mãos de uma pessoa – da Ana Catarina Nogueira.
A equipa portuguesa fica “fragilizada” sem o contributo de “Nogui”?
Não sei, isso só saberemos conforme os resultados alcançados. Se será mais difícil para as atletas portuguesas igualarem o resultado de há dois anos? Com a Ana Catarina Nogueira seria mais fácil, sim! Mas o valor de uma seleção não se vê por um jogador só, e não é isso que está aqui em causa. A Seleção está definida e é uma excelente equipa. Temos muita confiança nas nossas jogadoras, elas têm trabalhado muito, têm participado no plano de trabalhos da Seleção, têm cumprido requisitos, têm feito sacrifícios, têm evoluído muito e acreditamos que podem chegar ao terceiro lugar. E, mesmo sabendo da impossibilidade de ganhar à Argentina e Espanha, é para isso que estão focadas e a trabalhar. O terceiro lugar está em aberto. Não sei se com a Ana Catarina Nogueira chegaríamos lá ou não, mas esta é a equipa que temos e é com estas atletas que vamos jogar. Já é altura de deixar de falar da Ana Catarina Nogueira, pois agora estamos todos concentrados no Mundial e em apoiar a seleção que temos – é esta e é com esta que vamos vibrar ou chorar, seja de tristeza ou de alegria. É a nossa seleção. Vamos Portugal!