Thomaz Bellucci em entrevista [parte II]: «Com pouquíssimo apoio estive quase 10 anos no top 100»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Março 18, 2022
bellucci

Thoma Bellucci carregou aos ombros o peso de ser o sucessor do mítico Guga Kuerten. Agora com 34 anos, o antigo número 21 do ranking mundial falou sobre isso de forma descomplexada na segunda parte desta entrevista ao Bola Amarela. Depois de abrir o coração sobre o que ainda espera alcançar, Bellucci fala com orgulho de tudo o que conseguiu e ainda aborda a atualidade do ténis mundial.

BOLA AMARELA – Já disse que quer voltar, mas olhando para o que já fez na carreira, fica orgulhoso ou sente que ainda podia ter feito mais?

THOMAZ BELLUCCI – Procuro não olhar para trás no que conquistei na minha carreira. Tento olhar para a frente, não sou muito saudosista de ficar a lembrar os momentos. Não é saudável. Conquistei muitas coisas, talvez podiam ter sido mais não fosse algumas lesões e alguns momentos em que mentalmente não estava preparado para certas situações. Destratando de ser brasileiro, de ter pouquíssimo apoio desde sempre, chegar a 21 do Mundo, conquistar quatro títulos, não acredito que tivesse muito mais para dar do que isso. Fiquei quase 10 anos seguidos no top 100. Sendo brasileiro é muito difícil. Vê o histórico dos jogadores do Brasil e pouquíssimos conseguiram fazer isso. É difícil mesmo. Costumo sempre olhar para a frente e tenho muito orgulho do que conquistei, mas vou continuar a jogar enquanto achar que posso conquistar mais e ser feliz dentro de court.

BA – As comparações com o Guga e esse peso sempre em cima dos ombros complicou a sua vida? São comparações bem difíceis de igualar por qualquer tenista no Mundo, não só no brasil…

TB – São comparações que sempre tive na minha carreira, principalmente no começo. Quando comecei a jogar melhor, o pessoal começou a ver-me como um promessa e pensavam que podia fazer o que o Guga fez. O que o Guga fez uma coisa do outro Mundo, ainda para mais sendo brasileiro. Se calhar é algo que nenhum jogador brasileiro na história vai conseguir igualar. Isso talvez tenha gerado uma expectativa maior do que o que precisava. Se tivesse vindo 10 ou 15 anos depois, a expectativa não seria tão alta para o meu lado. Eu era muito novo e talvez tenha-me prejudicado um pouco de certa maneira. Mas tenho de saber que a cobrança é natural e que quanto mais potencial há, mais as pessoas vão cobrar.

BA – Falando em objetivos, quais são os próximos a curto prazo? Qual era o cenário ideal?

TB – O próximo objetivo é voltar a competir, estar bem fisicamente e sem dor e voltar a competir a 100 por cento, sem limitação. Nos últimos anos não consegui competir como gostaria, tanto fisicamente como tecnicamente. Devia ter parado mais tempo para ajustar o que achava que era importante, mas o ténis é uma carreira muito curta. Ficamos apegados ao ranking ou outras coisas e não conseguimos ver as coisas de maneira clara. O meu objetivo no curto prazo é voltar a competir, estar bem fisicamente e feliz dentro de court.

BA – Vi que esteve em Portugal no Jamor. Veio cá para recuperar?

TB – O meu técnico mora em Lisboa, o André Podalka. Quando preciso de treinar vou para aí. Estava a treinar no Jamor e a tentar preparar-me para os torneios. Mas estava com essa lesão no joelho e não vou conseguir jogar nenhum torneio. Voltei para cá ver o meu médico, fazer exames e ver um tratamento alternativo para voltar a competir sem dor. Quando conseguir voltar a treinar a 100 por cento, provavelmente vou voltar aí para Lisboa, para o Jamor, para me preparar para os torneios que devem ser na Europa.

BA – Por fim, pergunto quem são os tenistas que o encantam hoje em dia? Quem tem um futuro mais brilhante?

TB – Na minha opinião, o tenista com mais potencial hoje em dia é o Alcaraz. É um garoto de 18 anos, com tanta maturidade dentro de court, nível absurdo de golpes. É um jogador que com certeza vai lutar pelo número um nos próximos anos. Não sei se vai chegar a substituir a hegemonia de Nadal, Federer e Djokovic, mas é um jogador que vai ficar muito tempo entre os bons jogadores se não tiver nenhuma lesão grave. Como o Del Potro teve. Se calhar podia ter lutado pelo número um se não tivesse tantas lesões. Era brilhante.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt