Venus não acompanha Serena no regresso a Indian Wells
“Foi muito difícil esquecer as horas que passei a chorar no balneário de Indian Wells depois de ganhar em 2001, de como, no regresso a Los Angeles, senti que tinha perdido o maior jogo de sempre – não um simples jogo de ténis, mas uma luta pela igualdade”.
As palavras são de Serena Williams e surgem [no dia 4 de fevereiro] na revista Time, o meio que a norte-americana considerou ser o mais apropriado para anunciar que, depois de 14 anos de ausência, está de regresso ao lugar onde já foi muito infeliz. Mas recuemos a 2001.
Depois de ter vencido Steffi Graf na final de 1999, com apenas 17 anos, a norte-americana chegava a Indian Wells dois anos mais tarde pronta para repetir o feito. Passou as primeiras rondas sem ceder qualquer partida e preparava-se para disputar o acesso à final com uma tal de… Venus Williams.
Pouco antes do embate entre as duas Williams ter início, a mais velha das irmãs anunciou a sua desistência alegando uma tendinite. De repente, estava o caldo entornado. O público não gostou de ver o duelo das meias-finais terminar antes mesmo de começar e vaiou Venus, então número três mundial.
Os rumores de que Richard, o pai das duas jogadoras, era quem decidia o resultado dos seus embates ganharam força nesse instante, tendo a russa Elena Dementieva chegado a verbalizar isso mesmo (mais tarde revelou que era apenas uma piada). Com Venus a sair de cena, Serena surgiu na final pronta a enfrentar Kim Clijsters, mas foi a assistência furiosa que acabou por se revelar a sua maior adversária.
“Entrei no court e o público começou imediatamente a apupar-me e a insultar-me. Durante toda a minha carreira, a integridade foi tudo para mim e talvez ainda mais para Venus. As falsas alegações de que o nosso encontro foi combinado feriu-nos profundamente. A corrente de racismo foi dolorosa, confusa e injusta. Num desporto que eu sempre amei com todo o meu coração, num dos torneios que me era mais querido, de repente senti-me indesejável, sozinha e com medo”.
A então número 10 do ranking derrotou a belga em três partidas, levantou o troféu, mas, durante 14 anos, não voltaria a pisar o court onde venceu o seu primeiro encontro enquanto profissional, em 1997.
“Pensei em voltar a Indian Wells várias vezes durante minha carreira. Alguns disseram que eu não deveria voltar nunca mais e outros disseram que deveria ter voltado no ano seguinte. Percebo ambas as perspetivas […] mas segui apenas meu coração”.
Com o regresso marcado já para meados do próximo mês, a número um mundial considera que o facto de estar numa altura da sua carreira em que nada tem a provar a ajuda a encarar o incidente de uma forma mais serena.
“Continuo a ter a mesma motivação de sempre, mas o caminho está um pouco mais fácil. Jogo pelo amor ao jogo e é com esse amor em mente e com um novo entendimento do que implica o perdão, que anuncio o meu regresso a Indian Wells em 2015”.
Indian Wells Tennis Garden não vai contar, no entanto, com a mais velha das irmãs Williams, que decidiu manter o boicote, recusando-se a acompanhar Serena.
“Foi uma decisão que ela tomou sozinha, e nós respeitamo-la totalmente. Quanto a mim, não me inscrevi no torneio de Indian Wells”.