Presidente do ATP foge de polémica: Roland Garros ‘perdoado’ e dois Masters 1000 em terra ainda possíveis

Por José Morgado - Abril 8, 2020
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Andrea Gaudenzi, presidente do ATP Tour, falou esta quarta-feira numa longa entrevista sobre a forma como o circuito masculino perspetiva aquilo que ainda falta (ou pode faltar…) no ténis em 2020. O italiano acredita que o mais importante é salvar os dois Grand Slams que ainda faltam disputar e tentar jogar — pelo menos — sete Masters 1000 esta temporada, para que as ATP Finals possam ter um elenco o ‘mais justo’ possível.

“Esta situação de Roland Garros provou que o ténis precisa de regulamentos mais fortes, para que os torneios coexistam, e não apenas em termos de programação. O nosso foco principal deve ser os nossos fãs, as pessoas que compram jornais e bilhetes, essas são as pessoas às quais temos de dar atenção”, confessou, antes de lembrar que o ténis está muito fragmentado no que diz respeito aos seus corpos dirigentes. “A centralização no cliente é o futuro, pois os clientes estão sempre certos. Por exemplo, os quatro Grand Slams têm regras diferentes para o quinto set; direitos de imprensa, direitos de TV são todos vendidos e comprados separadamente; os Majors e alguns eventos de Masters 1000 são torneios combinados, mas a verdade é que o ténis está muito fragmentado.”

Gaudenzi admite ter percebido a intenção de Roland Garros, mas garante que não há espaço no ténis para este tipo de decisões unilaterais. “A ‘jogada’ de Roland Garros é compreensível: eu assisti ao discurso do presidente Macron e ele foi muito direto sobre a situação vivida em França, pelo que os seus eleitores entraram em pânico e a Federação Francesa sentiu o desejo de ‘plantar’ a sua bandeira naquele horário de setembro, independentemente do que pudesse acontecer. Isso, por sua vez, desencadeou uma conversa muito aberta e franca com os presidentes de outras partes interessadas, e chegamos à conclusão de que todos fazemos parte da mesma história e moramos no mesmo condomínio, portanto não há espaço para decisões unilaterais. Ninguém sabe quando poderemos retomar a competição, por isso não faz sentido falar sobre agosto ou setembro. Tudo é hipotético, então não adianta bater com a cabeça na parede por algo que pode não acontecer, porque pode muito bem acontecer que o ténis não volte este ano”.

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Gaudenzi assume que Roland Garros deu um passo a trás nessa busca de boa relações que o ATP quer promover entre todas as entidades. “Sim, Roland Garros deu alguns passos atrás nesse entendimento que temos sobre a importância do diálogo. O US Open planeia adiar o torneio se a situação não melhorar antes do verão. O nosso princípio de operação é muito simples: temos que tentar jogar o maior número de torneios que pudermos nas semanas que temos à nossa disposição, a fim de preservar as classificações, os prémios monetários, e acima de tudo, a fim de proporcionar entretenimento para os nossos espectadores. Eu represento o ATP, mas os Grand Slams são os Grand Slams. Temos as ATP Finals em novembro, mas meu desejo é que os jogadores de Londres tenham a chance de provar que são os melhores em três torneios Slams e sete eventos Master 1000 e que seremos capazes de coroar o melhor jogador do mundo como costumamos fazer”.

Os jogadores alinharam com o presidente do ATP durante este processo. Os jogadores concordaram comigo. Conversei com todos os membros do Conselho de Jogadores, conversei com Roger, Rafa, Djokovic e todos concordam que nossa filosofia deve ser a de sediar os eventos de maior prestígio. Portanto, mesmo que tudo seja hipotético, ainda faz sentido mudar Roland Garros setembro, enquanto não faria sentido adiar o US Open em duas ou três semanas. Se o ténis não for retomado no início de setembro, duvido muito que seja no final desse mês. Agora, estamos a falar sobre o calendário da temporada e temos umas 50 versões diferentes. Também precisamos considerar que algumas coisas já estão definidas: por exemplo, a O2 Arena está disponível para as ATP Finals exclusivamente durante essa semana (de 15 a 22 de novembro), e o mesmo ocorre com a maioria das arenas indoor como Viena ou Basileia. Essas são arenas multifuncionais, portanto, não seria fácil obter datas diferentes, principalmente porque todo o Mundo está a tentar remarcar seus próprios eventos. Também estamos a tentar  cooperar com a WTA, já que a Ásia é muito importante para o circuito feminino e essa fase do ano é fundamental para eles. Idealmente, gostaríamos de remarcar dois Masters 1000 de terra batida, antes ou depois de Roland Garros”.

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt