Presidente da ATP abre o livro: responde às críticas e insiste em torneios grandes com mais dias

Por José Morgado - Agosto 18, 2025

O ténis mundial atravessa uma fase de transformação estrutural profunda. Este mês, o National Bank Open (Toronto/Montreal) e o Cincinnati Open estrearam os novos formatos de 12 dias de competição, uma mudança histórica no quadro dos ATP Masters 1000, que visa garantir maior estabilidade financeira e melhores condições para jogadores, torneios e adeptos.

A par desta alteração, a ATP anunciou ainda a distribuição de 18,3 milhões de dólares em partilha de lucros relativos a 2024, um marco inédito que, segundo o presidente do organismo, Andrea Gaudenzi, representa um passo decisivo na implementação do plano estratégico OneVision.

Gaudenzi destacou que a introdução da partilha de lucros é, por si só, sinal de um ecossistema saudável e em expansão: “Estamos apenas no segundo ano do plano estratégico e já alcançámos 18,3 milhões de dólares em partilha. Isto equivale a um aumento de 25% no valor base dos prémios de um Masters 1000 – algo impossível no modelo anterior. É uma mudança transformadora e que só está a começar.” O dirigente sublinha que a expansão dos torneios e o reforço das infraestruturas, como ficou patente em Cincinnati, estão a abrir caminho a novos níveis de investimento, permitindo que as receitas fluam diretamente para os jogadores.

O Cincinnati Open é exemplo paradigmático: uma renovação de 260 milhões de dólares trouxe novos balneários, melhores zonas de recuperação, estádios com maior capacidade e infraestruturas de transmissão televisiva de topo. Segundo Gaudenzi, não se trata apenas de “cosmética”, mas de investimento estrutural que alimenta o ciclo de receitas do ténis profissional: “A receita gerada por estas melhorias regressa diretamente aos jogadores através da partilha de lucros. É exatamente este tipo de investimento a longo prazo que o desporto precisa.”

Uma das principais críticas à expansão prende-se com o aumento dos dias em competição e o impacto na fadiga dos jogadores. Gaudenzi reconhece o desafio, mas garante que a visão é de longo prazo: “Os torneios de 12 dias acrescentam cerca de 15 dias extra ao calendário anual, mas também permitem a reinjeção de capital na modalidade. Cabe aos jogadores ajustarem as suas agendas, mesmo que isso implique abdicar de torneios menores ou de ‘appearance fees’.” O presidente recorda que, ao contrário de outras modalidades, os tenistas mantêm a liberdade de escolher os torneios em que participam, mas essa liberdade implica também responsabilidade na gestão da carreira.

Retirando pressão sobre casos recentes, como as desistências de Jannik Sinner e Carlos Alcaraz em Toronto, Gaudenzi lembrou que a participação média nos Masters 1000 se mantém muito elevada e que o verdadeiro impacto das reformas só poderá ser avaliado a longo prazo. Quanto aos prémios de presença pagos em torneios ATP 500 e 250, admite que são parte da realidade do circuito, mas alerta para possíveis consequências negativas: “Esses incentivos financeiros nem sempre estão alinhados com o que é melhor para a carreira e recuperação dos jogadores.”

Um ponto-chave na filosofia da ATP é o estatuto de independent contractors dos jogadores, em contraste com modalidades coletivas como a NBA ou a NFL. Para Gaudenzi, esse modelo tem vantagens claras: os jogadores mantêm liberdade para gerir calendário, patrocínios e exibições, beneficiam de proteções típicas de um modelo laboral, como o fundo de pensões e o programa Baseline, que garante um rendimento mínimo para os 250 melhores, e têm ainda representação direta em 50% da direção da ATP, com voz ativa nas grandes decisões.

Gaudenzi defende que a evolução do ténis exige uma governação unificada, com ATP, torneios e Grand Slams sentados à mesma mesa, para que decisões estruturais – como calendário, prémios ou modelos de investimento – possam beneficiar todo o ecossistema. “As reformas exigem paciência, mas dentro de cinco a dez anos veremos um crescimento exponencial dos Masters 1000 em todos os indicadores. Este é o alicerce de uma transformação que ficará para a história.”

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com