O dia em que Hitler bombardeou Wimbledon

Por admin - Fevereiro 12, 2016
01AQTA8C; Bomb damage to the centre court at Wimbledon.

Foi em 11 de outubro de 1940 que tudo aconteceu. O site espanhol Punto de Break dedica hoje uma peça àquele que foi provavelmente o maior impacto direto da II Guerra Mundial na prática de ténis – porque o facto de Wimbledon não se ter disputado desde 1940 a 1945, inclusive, deveu-se a muito mais do que à destruição de cadeiras e a danos materiais na cobertura do estádio.

Os antecedentes

Pouco menos que quatro meses antes, a 22 de julho, a França assinava a sua rendição às tropas alemãs e entregava-lhes o norte do país. Em Paris, Hitler vangloriava a sua conquista pelas ruas da cidade e chegou mesmo a erguer uma mensagem na torre Eiffel onde se podia ler que «a Alemanha sai vitoriosa em todas a frentes». O próximo objetivo era, assim, a aterrorizada Grã-Bretanha.

Hitler tinha a Europa praticamente na palma da sua mão. Conquistar os britânicos fá-lo-ia dominar completamente o continente mas sabia que não poderia cruzar o canal da Mancha por via aquática, pois a Royal Navy tinha demasiado poder para as forças nazis. Assim, o Führer decide atacar Londres com a Luftwaffe, a força aérea alemã que até então se tinha demonstrado impossível de derrotar.

Nessa altura, passavam meses desde que o bairro aristocrático do All England Club havia escutado o som de uma bola de ténis a bater pela última vez. Após se ter mudado devido à Primeira Guerra Mundial, o novo estádio foi inaugurado em 1922 e por causa deste novo conflito a edição do torneio não se havia disputado nesse ano, tendo o recinto servido como base militar para os britânicos e para unidade de produção de alimentos, uma vez que as vacas podiam pastar nos prados de Church Road. Foram, inclusive, alteradas as cores, de verde e roxo para verde militar, enquanto recebiam soldados feridos em instalações que serviam igualmente para treinos da Home Guard, a força criada durante a Segunda Guerra para defender o país.

O ataque

É então que esse dia de meados de outubro passa à história do sítio muitas vezes apelidado como “Catedral do Ténis”. Cinco bombas caíram nas imediações do estádio – uma destruiu uma casa de apoio, três caíram nos arredores do clube e a última caiu “em cheio” sobre o estádio. Mais de 1200 lugares foram reduzidos a destroços, tal como parte da cobertura; por sorte, os danos não foram maiores, uma vez que ninguém se encontrava nas imediações do recinto. Em seu lugar, um rasto de morte, daqueles que só as guerras são capazes de deixar.

O tempo passou e quatro anos depois o rumo da guerra mudou, o que serviu para que em 1945, ainda sem nenhum edição deste torneio do Grand Slam ter sido disputada, tenha havido a possibilidade de se disputar um encontro de ténis. Quando as hostilidades se encaminhavam para o seu final e a Alemanha estava prestes a cair e a anunciar a sua rendição, foi nestes momentos, entre a esperança pela paz e a ânsia por um final que tardava em chegar, que vários membros australianos, ingleses e norte-americanos – ou seja, dos exércitos aliados – disputaram vários jogos entre milhares de fãs, com “fome” de ténis e de deixar para trás o horror da guerra.

O pós-guerra

Após a rendição do Japão, a 2 de setembro de 1945, chegava ao fim a Segunda Guerra Mundial. Milhares de pessoas saíram às ruas londrinas para celebrar e começou então a remodelação do All England Club, que servia de orgulho nacional pelo apoio que deu aos aliados durante o maior conflito bélico do século XX. O coronel Duncan MacAulay assumiu pessoalmente a missão de voltar a pôr o clube da maneira que achava que merecia, depois de as bombas terem deixado várias crateras nas suas imediações e rastos de escombros.

Assim, em 1946, reataram-se os The Championships com as suas instalações ainda em plena reconstrução – algo que não incomodou ninguém, tal era a vontade de regressar à normalidade. Como curiosidade, nesse ano, tal como no seguinte, Wimbledon disputou-se antes de Roland Garros, tendo sido, assim, o segundo Major da temporada. Os vencedores dessa primeira edição do pós-guerra foram o francês Yvon Petra e a norte-americana Pauline Betz, embora isso fosse o menos importante: após tantos anos de medo, horror, morte e sofrimento, a sociedade podia finalmente desfrutar não só do desporto mas, e mais importante, de paz mundial.