Nuno Borges em entrevista [parte I]: «Tiafoe foi muito porreiro e até me deu conselhos»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Maio 8, 2021
Foto: Millennium Estoril Open

Nuno Borges viveu uma semana de sonho no Millennium Estoril Open. O português, de 24 anos, estreou-se em torneios do ATP Tour e não só ultrapassou o qualifying como alcançou a segunda ronda do quadro principal, onde levou Marin Cilic a três sets. Na primeira parte de uma grande entrevista, o maiato confessou que custa voltar ao ITF World Tour, além de partilhar como foi estar nos bastidores de um torneio do circuito principal.

BOLA AMARELA – Ainda pensas naquela semana que viveste no Estoril?

NUNO BORGES – A verdade é que ainda tenho de jogar torneios abaixo desse. Tive de partir logo esta semana para um torneio muito mais modesto e voltar um bocadinho a onde estava. Quero e estou motivado para chegar lá e é mais nesse sentido que tenho de ver esse torneio. Foi uma motivação para saber onde quero ir e como é estar lá no topo e jogar com estes jogadores de nível. Depois tive de voltar e já passei à frente. Sei que tenho um longo caminho até lá e que tenho de jogar muito mais para lá chegar.

BA – É difícil voltar a um torneio do ITF World Tour depois de viver aquelas experiências?

NB – Sim, é difícil. A pressão volta a estar do meu lado. Venho aqui e sou o primeiro cabeça-de-série, mas mesmo que fosse só um cabeça-de-série qualquer, os jogadores querem andar atrás de ti e não o contrário, onde eu estava com vontade de ganhar aos que estavam acima de mim. É voltar a um jogo completamente diferente. Não estou tão à vontade, sou mais cauteloso e as condições são diferentes, as bolas também. O torneio não proporciona as mesmas condições e não é fácil ter a mesma performance ou preparação, mas é o que é e é igual para todos. É mais duro mas igual para todos. Se eu fizer as coisas bem, há de correr bem.

BA – Mas o Estoril Open foi bom para perceberes que podes estar naquele nível e consegues jogar olhos nos olhos com aqueles jogadores?

NB – Sim! Mesmo que não tivesse ganho aqueles três jogos, só o facto de estar ali ela por ela e sentir que tinha uma oportunidade de roubar um set ou encontro dá-me vontade de continuar porque sei que estou no caminho e que não estou assim tão longe. Preciso é de ser mais consistente no meu trabalho e continuar a acreditar. Devagarinho pode ser que chegue lá.

BA – Pode ter sido mais um clique na tua carreira, visto que tens tido vários ultimamente?

NB – Acho que sim. Ultimamente sinto que tenho evoluído patamares e conquistado um ou outro objetivo. Fiz os primeiros ‘quartos’ num Challenger e ainda fiz ‘meias’ e final no mesmo. Agora o Estoril foi mais um patamar onde não tinha chegado e é sempre gratificante chegar um pouco mais longe nos torneios.

BA – Como é que foi a experiência, até fora dos jogos, no meio de tantas estrelas?

NB – Ninguém ficou a olhar de lado para mim. Senti-me muito bem aceite, que o pessoal achava normal eu estar ali. Eu sentia ‘bem, estou aqui com os jogadores que estão na televisão’ e era um bocadinho intimidante. Estavam ali a treinar ou no players lounge, como se nada fosse. Alguns mais abertos, outros nem tanto. Houve o caso do Tiafoe, que até me deu dicas sobre como jogar com o Cilic. Acho que até deu resultado e ajudou-me. É uma experiência incrível. Poder estar lado a lado com os grandes e viver um bocadinho o que eles vivem durante todo o ano.

BA – Houve alguns com quem te tenhas dado melhor?

NB – Tiafoe é amigo de um americano com quem dividi quarto no início do ano em Antalya, o Alex Rybakov, e na altura eles estavam sempre a falar e disse que eu estava lá com ele. Já tínhamos as apresentações feitas, então ele foi muito simpático, é muito porreiro. Foi o que mais me marcou. Não tive coragem de me aproximar de mais ninguém. Foi ele quem me chamou mais a atenção.

BA – O que é que ele te disse para fazeres com o Cilic?

NB – Disse para eu bloquear o serviço dele, tentar movimentá-lo, mas sem dúvida que é muito difícil fazer isso. Se calhar mais erros não forçados pela direita, força-lo a ir buscar a bola pela direita. Não me disse nada do outro mundo, porque o jogo é extremamente duro e é difícil fazer o meu jogo quando o dele é tão possante e agressivo.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt