Nadal abre o coração um ano depois da reforma: «A adrenalina do ténis é insubstituível»

Por José Morgado - Novembro 25, 2025
Nadal
FOTO: Miguel Reis

Passados mais de doze meses desde que anunciou a retirada do ténis profissional, Rafa Nadal sentou-se com Jorge Valdano no programa Universo Valdano da Movistar+ para refletir sobre a carreira, os desafios e a transição para uma nova fase da vida. O espanhol admite que chegou ao final da sua trajetória competitiva “já sem nada no tanque”, mas sem arrependimentos.

“Joguei 45 minutos com Eala e se não tenho que correr, bem. Através da academia continuo envolvido e vejo o que me apetece ver”, afirmou Nadal, explicando que acompanha o ténis segundo os seus próprios critérios, sem a pressão do dia a dia competitivo. Sobre a adrenalina da competição, destacou: “Ganhei tranquilidade, mas aquilo que sentia em competição é difícil de encontrar em outro lado. O que mais me marcou foi a emoção de disputar ao mais alto nível”.

Quanto à decisão de se retirar, explicou: “Apurei todas as opções reais de continuar a competir ao nível que queria. O corpo já não dava para mais, mas eu continuava motivado. Tomei a decisão em paz, convicto de que tinha feito tudo para prolongar a carreira”. Nadal sublinhou que a aposentação não foi por falta de motivação ou cansaço da prática: “Estava feliz a jogar, mas sabia que não poderia competir como queria. Levei a minha carreira ao limite”.

Sobre o trabalho e talento necessários para alcançar o topo, Nadal afirmou: “Pode-se ter talento, mas é preciso trabalho, disciplina e concentração. Os sacrifícios que fiz foram esforços, mas nunca senti que me tinha perdido algo da vida. Sempre procurei equilíbrio e aproveitei momentos fora do ténis, mantendo uma vida pessoal saudável”.

O espanhol falou ainda sobre a autoexigência que o guiou desde cedo: “Devo muito ao meu tio, que me ensinou intensidade e disciplina desde pequeno. Sempre fui autocrítico e coloquei o listão alto para mim próprio. A carreira exigiu concentração e determinação, mas isso também me deu grandes vitórias”.

Relativamente ao seu legado e à relação com a nova geração, Nadal explicou: “Sinto-me feliz por ter feito parte desta história. A rivalidade com Djokovic e Federer terminou nos courts, mas deixou respeito, admiração e até amizade. Espero que Alcaraz e Sinner aprendam que se pode competir ferozmente sem odiar o adversário“. O espanhol lembrou ainda a importância da evolução do Big 3: “Vínhamos de Sampras, e nunca houve margem para relaxar. A exigência era máxima e isso marcou a nossa geração”.

Falando da sua trajetória em Roland Garros, onde conquistou 14 títulos, Nadal disse: “O que vivi ali é difícil de comparar. Esta história construiu-se desde 2005 até ao presente. Cada ponto e cada jogo contribuiu para o meu percurso”. Sobre rotinas em campo, revelou: “Não sou supersticioso, mas precisava de rotinas para manter o foco. Observava rivais e tentava melhorar sempre. A concentração e o detalhe fizeram a diferença”.

Nadal reflectiu também sobre a forma como enfrentava derrotas: “Quando estava a perder, pensava sempre em soluções. Não me deixava ir. Cada pequeno esforço podia transformar a dinâmica de um ano inteiro. Esse espírito de luta foi fundamental para a minha carreira”.

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com