Jaime Faria: «Djokovic tem uma ‘aura’ e uma atitude diferente de todos os outros»

Por José Morgado - Março 28, 2025
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FOTO: Pedro Ferreira

Jaime Faria, número dois nacional, tem vivido meses verdadeiramente memoráveis para a sua carreira. Depois de um 2024 já por si de sonho, o jovem de 21 anos começou a temporada de 2025 em grande, com a estreia em quadros principais de Grand Slam no Australian Open — apenas travado por Novak Djokovic –, os primeiros (e segundos) quartos-de-final em torneios ATP e a entrada no top 100 mundial pela primeira vez. Em entrevista ao jornal ‘Record’, Faria não esconde que tudo tem acontecido demasiado rápido e elenca os momentos que mais recorda dos últimos 12 meses.

UM ANO E MEIO MEMORÁVEL 

Foi um ano de loucos, um ano de muita evolução, Muitos passos que eu dei, muitas barreiras que ultrapassei. Comecei no início do ano a estar fora do top 400. Tinha como objetivo entrar logo nos primeiros torneios no top 400, para ter pelo menos o três no ranking depois daqueles dois primeiros challengers aqui no Jamor. E comecei por aí com a ambição de ir forte para os Futures no Algarve. Fiz uma boa pré-época. Fui feliz e desde então ganhei muita confiança, fiz muitos encontros e tenho acreditado sempre muito. Não penso demasiado nas coisas. Vou simplesmente para o campo enfrentar quem me aparece à frente. Houve momentos melhores, outros piores. Senti que tive a oportunidade para ainda estar um bocadinho mais acima. mas lá está.  Esses momentos também me fazem crescer e este ano entro  no top 100 com três torneios muito bons. Aproveito as oportunidades que o ténis me dá. Inclusive no Rio Open entrei como lucky loser e aproveitei da melhor maneira. Sinto-me a jogar cada vez melhor e cada vez mais adulto em campo.

MOMENTOS QUE MAIS RECORDA

 Eu diria que sem dúvida o ponto mais alto foi jogar na Rod Laver Arena com o Djokovic. Esse é o momento mais alto. Ser chamado à seleção foi um momento muito alto para mim. Eu sempre sonhei em jogar por Portugal. Sempre ambicionei isso e poder fazer logo na estreia, jogar o número um, foi um momento importante. É verdade que não consegui vencer e dar o meu contributo à seleção, mas foi um momento alto para mim também. E agora no Rio Open, jogar… num estádio bem composto também, o público brasileiro é diferente e lá está…foi um bom momento e uma grande semana.

DJOKOVIC… É DIFERENTE 

Acho que ele tem, sem dúvida, ‘aura’ é a palavra correta. Tem muita aura. A atitude dele é diferente dos outros jogadores, eu diria. Ele irrita-se muito facilmente em campo, mas eu percebi logo, porque já vejo o Djokovic a jogar há muitos anos, que é meio que para desestabilizar o adversário. Eu estava muito nervoso no primeiro set, e há ali um momento em que eu faço um break para voltar ao segundo set para 1-1 e ele começa logo a alongar, começa logo a gritar para o treinador, e eu pensei “bem, pelo menos já consegui fazer com que o Djokovic inventasse aqui qualquer coisa”. A partir daí fiquei um bocadinho tranquilo. Outro momento que me marcou foi na entrada em campo, pois o Open da Austrália gosta de dramatizar e mete uma música dramática no corredor antes da partida. Depois foi lá a família Djokovic, a mulher, os filhos. E ao entrar para o campo e tem aquele corredor cheio dos vencedores anteriores com um áudio de todos os títulos do Novak. E eu ali ao pé dele a pensar “o que faço aqui?”.

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E AGORA, QUAIS OS PRÓXIMOS SONHOS E OBJETIVOS?

Sim, sem dúvida, eu acho que, lá está, eu sonhos, sinceramente no ténis nunca tive muitos, tive o sonho de jogar pela seleção e o sonho de jogar os quatro Grand Slams. Ainda não cumpri o Wimbledon porque o qualifying joga-se noutro clube. Agora há novos objetivos, como é lógico, assim, mais abrangente diria que Top 50, ir mais à frente em torneios de Grand Slam, jogar os quadros dos Masters 1000 todos. E isso requer bons resultados também, portanto tenho que consolidar o meu ranking. Tenho de evoluir, ser profissional, lidar bem com o meu corpo, perceber o meu corpo e os sinais do meu corpo, e preparar-me melhor e continuar a fazer toda uma prevenção e uma preparação física adaptada.

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com