Fedal: A mais bonita história de (des)amor do ténis
Quando há (quase) 13 anos eles ficaram cara-a-cara no Court Central de Crandon Park para disputar a terceira ronda do Masters 1000 de Miami, poucos poderiam imaginar que aquele primeiro encontro seria o início de uma longa e intensa relação a dois. Muitos foram os jogadores que pelo caminho tentaram impedir que ambos partilhassem o court tantas vezes quanto o fizeram, mas poucas foram as ocasiões em que cada um deles cedeu e permitiu a intromissão de terceiros naquela que é tida por muitos como a mais bonita história de (des)amor da modalidade.
Uma década (e dois anos e meio) passou e poucas dúvidas restam: Roger Federer e Rafael Nadal construíram uma das mais entusiasmantes e duradouras rivalidades da história do ténis e marcaram de forma inigualável os adeptos da modalidade. A forma apaixonada e muito própria como cada um se debateu pela sua causa em court, os níveis de entrega que colocaram em cada embate e o querer imenso deixado em cada troca de bolas fizeram com que a mítica pergunta “Federer ou Nadal?#8221; continuasse a fazer sentido mesmo quando Novak Djokovic se tornou “o outro” da relação.
As semelhanças não abundam quando colocados lado a lado, mas, quando os dois surgem separados pela rede, o resultado une-se consensualmente num só: mais de 80 horas em court onde cabem 34 encontros desdobrados em 21 finais, nove meias-finais, dois quartos-de-final, uma Round Robin e uma terceira ronda. Mas como é que tudo começou, afinal? Como quase todos os primeiros encontros acabam: com vontade de repetir!
~ Miami, 28 março 2004 ~
Duas rondas ultrapassadas em Key Biscayne e era chegada a altura de o inevitável acontecer. Federer era o então número um do ranking mundial e vencedor de dois títulos do Grand Slam quando enfrentou pela primeira vez aquele que viria a ser o seu mais fiel companheiro de court. Nadal, por seu lado, surgiu no Court Central de Miami com uma indumentária que deixava transparecer os inexperientes mas aguerridos 17 anos e o modesto 34.º posto da hierarquia: uma camisola sem mangas e uns calções com espaço suficiente para mais um par de pernas.
Sem nada a perder, o espanhol não tremeu e, fazendo uso da sua maior arma de sedução, o topspin, impôs-se por duplo 6-3 em uma hora e 10 minutos de encontro. Pouco tempo para uma primeira saída a dois mas o mais importante tinha acontecido: as apresentações estavam feitas e a certeza de que o futuro tinha acabado de começar sentiu-se no cumprimento de despedida.
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//youtu.be/G0LLMO94ae8
~ Roland Garros 2008 ~
Seguiram-se três anos repletos de intensos e apaixonantes encontros, em que Nadal de tudo fez para impressionar o que mais impressionara a comunidade tenística até então. A final de Montecarlo, em 2006, vencida pelo espanhol com recurso ao tie break na quarta partida e o título alcançado em Roma no mesmo ano, depois de jogados cinco sets, são disso exemplo.
Federer pagou na mesma moeda com os triunfos em Wimbledon, em 2007, num duelo que se estendeu até ao quinto parcial, e com a final em Miami, em 2005, conquistada também ela em cinco partidas. Eles não se largaram depois do primeiro encontro em Key Biscayne e Nadal chegou a Roland Garros em 2008 pronto para dar o próximo passo: elevar o ténis a um patamar nunca antes alcançado.
Federer tinha perdido 10 de 16 encontros entre ambos quando se fez de convidado na final disputada nos aposentos do rei da terra batida, que tinha vencido nada mais, nada menos do que as três últimas edições de Roland Garros (2005, 2006 e 2007). Uma hora e 28 minutos depois de entrar em court, e com Nadal a esquecer as regras de bem-receber, o suíço perdia por 1-6, 3-6 e 0-6 e ganhava a certeza de que tinha sido apanhado numa emboscada.
~ Wimbledon 2008 ~
Uma atitude a roçar a traição, mas que Federer encarou de uma forma muito pouco auto-destrutiva. Um mês mais tarde foi a vez de o suíço, vencedor em All England Club nos últimos três anos, chamar até ao “seu jardim” o espanhol, para juntos fazerem não mais que honrar a modalidade como nunca ninguém o tinha feito até então. O mais escaldante encontro entre os dois, dirão os mais românticos, um dos melhor da história da modalidade, considerarão os mais pragmáticos.
Nadal venceu as duas primeiras partidas, mas Federer retribuiu a cortesia, fazendo a tensão crescer e atingir limites irracionais. Os atrasos devido à chuva que caiu durante a tarde em Londres fizeram com que o quinto set parecesse condenado a ser terminado no dia seguinte. Sempre preparado a surpreender, Nadal fez o break quando a luz solar escasseava, para se colocar logo de seguida a jeito de alcançar o tão desejado título na catedral do ténis, tornando-se apenas no terceiro jogador na era open a vencer Roland Garros e Wimbledon no mesmo ano (juntando-se a Rod Laver e a Bjorn Borg).
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//youtu.be/ROOz7BEjF6I
~ ATP Finals 2011 ~
No jogo de sedução em court, dizem os números, Nadal foi quem mais conseguiu impressionar. A forte direita em topspin foi sempre uma forte aliada em todos os seus confrontos com o suíço, deixando-o caidinho (e à sua esquerda a uma mão) sem que se apercebesse muito bem como. Mas igualmente inegável é que foi face ao espanhol que Federer conseguiu exibir o seu melhor ténis ao longo da carreira, chegando a alcançar níveis de perfeição absolutamente absurdos. E não é preciso recuar muito no tempo para atestar essa teoria: 2011. Londres. O2 Arena. Fase de grupos. 6-3 e 6-0. Com o espanhol a jogar à defesa, o helvético aproveitou as costas livres de pressão e, sem piedade, alinhou uma das mais imaculadas exibições da carreira.
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?v=uYXk2H_qpvQ
~ Open da Austrália 2014 ~
Os anos seguintes foram feitos de desencontros, mas estava escrito que os dois voltariam a juntar-se no mesmo court três temporadas depois. Em vez de velas, o encontro decorreu sob do abrasador sol australiano, com o espanhol a impor uma fatura elevada ao suíço (7-6(4), 6-3, 6-3), dirigindo-se para a final e elevando para 23 os triunfos sobre o seu mais fiel rival, em 33 confrontos.
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~ Open da Austrália 2017 ~
Este domingo, e depois de quase dois anos sem se cruzarem, a chama da rivalidade volta a reacender-se na grande final do Open da Austrália, naquele que será o 35.º encontro entre ambos. E se o desfecho é impossível de adivinhar, assim como são as vezes que voltarão a dividir o court no futuro, há a certeza, olhando para trás, que terão sido, irremediavelmente, feitos um para o outro.