Do momento em que se apaixonou (a sério) pelo ténis ao filme visto antes da final na Austrália

Por admin - Março 20, 2017

Roger Federer tem muita lata. Alguém tinha de o dizer, porque já não bastava ter-se apoderado desavergonhadamente do primeiro Grand Slam do ano, quando uma derrota precoce teria sido facilmente desculpada pelos seis meses de paragem por lesão, como ainda tem o desplante de irromper sem qualquer recato pelas página da revista GQ adentro, com o charme e a elegância de fazer corar qualquer jovem de 20.

E não aparece sozinho. À pinta do helvético de 35 anos junta-se o brilho do 18.º troféu de grande porte, que “é, talvez, o mais especial” de todos os que vão reluzindo na sua atafulhada estante das taças. Numa extensa entrevista à revista norte-americana, concedida apenas cinco dias depois de singrar em Melbourne, o campeoníssimo suíço admite, lá pelo meio, que “ter conquistado o Open da Austrália resolveu muitos problemas”.

E de estas e outras confissões está a entrevista cheia. Vejamos: só se arrelia quando envolve pontualidade (“fico nervoso quando estou atrasado”), tem medo de cavalos (“toda a gente tem, certo?”) e tem um grande fascínio pela sétima arte – “vivo os filmes; que tipo de pessoa é que adormece a ver filmes?”. Nas vésperas de conquistar o Open da Asutrália, ao derrotar Rafael Nadal, Federer e a família assistiram ao filme “Lion”, que retrata a história de um miúdo que viaja sozinho para Calcutá, acidentalmente, e só consegue reencontrar a família 25 anos depois.

“No final, estava destroçado. E perguntei-me, ‘será que é bom estar tão emocionalmente afetado? É que amanhã vai ser um dia cheio de emoções”, contou Federer, admitindo ter gostado também de La La Land, um dos filmes que mais Óscares ganhou, “excepto do final”, até porque prefere “finais felizes”.

E o seu, que parece ser feito de capítulos que se vão desdobrando ilimitada e inesperadamente, começou por ser escrito de forma pouco pacífica. Apesar de dar a ideia de que foi colocado no mundo já de raquete em punho, a verdade é que Federer apenas descobriu o verdadeiro encanto aos 19 anos, em 2001.


“Percebi que queria voltar ao court para jogar contra os melhores, que preferia jogar nos grandes courts do que nos pequenos… E, de repente, tudo começou a fazer sentido.


Mais precisamente, quando foi “capaz de experimentar o ténis ao mais alto nível”, revela. “Era a primeira vez que jogava no Centre Court, em Wimbledon. A primeira e única vez que joguei contra o Pete [Sampras]. Ganhei no quinto set por 7-5, muito parecido ao que vivi agora com o Rafa [Nadal]. Tinha 19 anos. Eu percebi… ‘Oh, meu Deus. Há muito mais ténis para lá de uma parede fria na Suíça. O ténis é isto'”.

“Percebi que queria voltar ao court para jogar contra os melhores, que preferia jogar nos grandes courts do que nos pequenos… E, de repente, tudo começou a fazer sentido: a razão por que treino com pesos, a razão por que corro, a razão por que chego cedo aos torneios. Comecei a perceber a importância de cada detalhe, porque isso faz a diferença”, afirmou.


Atirava com a raquete, gritava, todas essas coisas. Estamos a dar vantagem ao adversário se fizermos isso.


“Não queremos dar nada ao nosso adversário. Eu fazia isso quando era mais novo. Atirava com a raquete, gritava, todas essas coisas. Estamos a dar vantagem ao adversário se fizermos isso. E a alimentar o nosso demónio”, recorda Federer, destacando que é preciso desenvolver defesas para se conseguir sair vivo de um campo onde só pode haver uma vítima. “O Rafa tem os tiques, o Stan tem o olhar. Eu tenho o meu olhar. Fazemos disso um escudo”.