O dia em que Wimbledon barrou a entrada ao futebol

Por admin - Julho 7, 2016
The public walk along South Concourse past the front of the clubhouse in Centre Court. The Championships 2016 at The All England Lawn Tennis Club, Wimbledon. Day 3 Wednesday 29/06/2016. AELTC/Jed Leicester

Wimbledon é o mais prestigiado, distinto e almejado torneio de ténis do mundo, mas é também o que mais fornicoques concentra em si. Do branco dos equipamentos à total ausência de placards publicitários nos courts, passando pelo Middle Sunday ou pela Manic Monday e terminando, porque não, no veto feito ao futebol.

Tendo de lidar com um campeonato de futebol a cada dois anos – seja do Mundo seja da Europa – a prova inglesa não hesitou em banir o desporto-rei do All England Club quando, em 1996, dois americanos lhe deram o pretexto ideal, conforme relembra o site “We Are Tennis”.

A história é a seguinte:

A Inglaterra acolheu o Euro entre os dias 8 e 30 de junho há precisamente 20 anos, mas a febre do futebol, normalmente de cura demorada e sintomas intensos, prevaleceu por terras de sua Majestade durante bem mais tempo. Quando Wimbledon começou, no dia 24 do mês seguinte, ainda pelos corredores do All England Club se transmitiam os jogos do já terminado campeonato.

Imbuídos do espírito futeboleiro, e chutando para fora uma das mais restritas tradições do torneio, os irmãos norte-americanos Luke e Murphy Jensen entrarem pelo court adentro com a camisola da seleção inglesa envergada. Pois bem, estava o caldo entornado. A indignação tomou conta dos organizadores da prova, que obrigaram os jogadores a substituírem de imediato as camisolas vermelhas por um equipamento totalmente branco, como manda a tradição. Depois disso, seguiu-se a decisão de fechar definitivamente os pesados portões do complexo ao futebol.

Uma regra que perdura até hoje, mesmo que as grandes competições daquele que é desporto número um no mundo coincida com o torneio londrino. A organização aproveita, até, a ocasião para sublinhar as diferenças que existem entre as duas modalidades. Foi o que aconteceu em 2010, quando as famosas vuvuzelas que tanto furor fizeram no Mundial da África do Sul entraram diretamente para a lista de objetos proibidos no All England Club.

Apesar dos esforços para manter o futebol fora do complexo, nem sempre foi fácil, nomeadamente quando se tratou de controlar os jogadores. Ainda em 2010, com a Alemanha a derrotar a Inglaterra na final, depois de um golo de Frank Lampard mal anulado (bateu na barra e depois no chão, passando a linha da baliza) não houve forma de calar os jogadores. “Como é que o árbitro e o bandeirinha não viram isto?!”, perguntou irritado Andy Murray no Twitter.

Em 2014, o escocês voltou a deixar os gentlemen de Wimbledon com os cabelos em pé, quando confessou em conferência de imprensa que o assunto entre os jogadores girava constantemente em torno da bola. “Eu gosto quando Mundial se disputa ao mesmo tempo que Wimbledon, mantém-me ocupado à noite e ajuda-me a limpar a cabeça. Todos os jogadores falam sobre isso”.

A deixa estava dada e o torneio não demorou a atuar, relembrando de imediato os presentes que o All England Club é uma zona livre de futebol. Por intermédio do seu porta-voz, a seguinte mensagem ecoou em Wimbledon: “não transmitimos imagens do Mundial, nem nos ecrãs gigantes nem nas televisões. Isto é um evento de ténis”.

Se houve quem fez ouvidos moucos do aviso não sabemos, sabemos, sim, que, este ano, parece ter descido sobre Wimbledon uma pequena aura de tolerância para com o desporto que anda nas bocas do mundo em geral, e nas de Portugal em particular:

https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?v=a3WaZAoWBjE