David Ferrer e a (última) noite em que saiu em ombros

Por José Morgado - Maio 9, 2019
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MADRID. ESPANHA. Nunca foi o mais mediático, o mais atlético, o mais poderoso, o mais talentoso ou até mesmo o mais elegante, mas David Ferrer construiu ao longo de 20 anos um legado que o torna único e inesquecível mesmo na mais dourada geração da história do ténis. Aos 37 anos, o espanhol fechou esta quarta-feira a porta da sua carreira sem quaisquer lamentações.

Mais de 700 vitórias e quase três vezes de títulos depois, era fácil chegar ao final e lamentar-se por ter nascido na Era errada. Mas ‘Ferru’ é exatamente o oposto. Ele assegura que nunca teria sido tão bom — nem chegado ao terceiro posto do ranking — se não partilhasse tantas vezes o court com Rafael Nadal, Roger Federer ou Novak Djokovic.

Para um jovem jornalista como eu, que quando começou a ver ténis já Ferrer era profissional, este é um dia marcante. Ter estado presente no último encontro, na homenagem e na última conferência de imprensa da carreira do valenciano enquanto jogador é uma bênção que vou guardar para sempre na minha memória. Porque é impossível ficar indiferente a um homem que nunca abandonou um court de ténis sem que deixasse tudo o que tinha lá dentro. Sem lamentações e com muita humildade e capacidade de trabalho.

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Ferrer dizia ontem que pela primeira vez não estava triste por perder. Parece tranquilo, calmo e feliz com a decisão tomada. E tem razões para isso. Ferru garante que mais importante do que os muitos troféus que tem em casa é o carinho das pessoas. E isso David tem para dar e vencer. O espanhol vai deixar muitas saudades no circuito, entre colegas, jornalistas, treinadores e, claro, para todos os fãs que ao longo das últimas décadas vibraram com alguns dos seus encontros eletrizantes.

“Não ganhei Roland Garros, não ganhei muitos títulos importantes, mas os troféus todos que tenho lá em casa são apenas isso: troféus. O que verdadeiramente importante é isto, é o vosso carinho, a vossa admiração”. Essa frase de Ferrer durante o seu discurso final resume bem aquilo que muitos sentem por ele.

O tempo não volta para trás, mas Ferrer será eterno. E agora é tempo de desfrutar da paternidade.

GRACIAS, FERRU

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com