Mãe de modelo com síndrome de Down envia carta a Bernard Tomic

Por admin - Julho 4, 2016

Cada palavra que uma figura pública usa, em qualquer que seja a situação, tem de ser medida com régua e esquadro. Desta feita, foi Bernard Tomic, número 19 do ranking mundial ATP, que em conferência de imprensa, após o seu embate com o espanhol Fernando Verdasco na primeira ronda de Wimbledon, disparou uma frase que causou polémica: “Fui para o court mais cedo do que ele antes do embate e infelizmente tive de esperar como um atrasado”.

Mais tarde, Tomic pediu desculpa pelo que tinha dito, mas não se livrou de comentários ofensivos e até de uma carta que já está a dar que falar, divulgada pelo Daily Mail. Escrita por quem? Nada mais, nada menos do que Rosanne Stuart, mãe de Madeline, uma modelo australiana de 18 anos e com Síndrome de Down, uma alteração genética.

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CARTA

“Querido senhor Tomic, depois de ver a sua entrevista na televisão nacional, fiquei horrorizada e desgostada que um homem como o senhor seja tão ingénuo com o uso da sua linguagem em público. Encontro-me perdida, também, a tentar entender por que razão acha que não há problema em usar essa palavra [atrasado] à frente de toda a gente e em qualquer circunstância.

Como bem sabe, tenho uma filha com Síndrome de Down e este comentário infeliz poderia referir-se a ela, se interpretado literalmente. E se me dá licença, eu também estou perdida por não perceber a relação que existe entre esperar num court de ténis e um comportamento qualquer de uma pessoa com deficiência intelectual.

A minha filha espera horas nos bastidores por maquilhadores, cabeleireiros e desenhadores. Quer isso dizer que ela ou qualquer pessoa que está inativa deve ser chamada ‘atrasada’?

Também tenho um amigo com incapacidade intelectual que joga ténis profissional e representa a Austrália, viajando por todo o mundo a jogar ténis. Fora do court, à espera de outros jogadores, parece que é exatamente como o senhor, dito ‘normal’, Bernard Tomic, mas tirando o facto de que ele é uma pessoa muito mais positiva e alegre.

Sr. Tomic, lembro-o, assim, que uma pessoa com deficiência intelectual nasceu com uma doença ou teve um acidente. Eles não escolheram ter este desafio diário, que enfrentam diariamente, com agradáveis discriminações como a sua. Em todos estes anos que tenho vivido e trabalhado com esta pessoa maravilhosa com incapacidade, nunca a vi ser tão descuidada como parece que o Tomic é tão facilmente.

Estamos no século XXI, por favor, lembre-se que tanto o Tomic como ela são figuras públicas e que têm muita gente que vos segue e apoia. Como podemos esperar que a geração mais nova cresça e aprenda a humildade e o amor com este tipo de exemplos? Espero que tenha aprendido com este ato de ingenuidade absoluta. Essa palavra não deve, nunca, ser aceitável seja qual for a situação.

Convido-o a passar um dia com a Madeline, para que possa aprender o quão equivocado e ignorante foi nesta ocasião e para que possa experimentar o amor incondicional, a beleza e a consideração que ela mostra a cada minuto.”

Saudações,
Rosanne Stuart