Bellucci retira-se: «Muitas vezes importei-me com o que os outros iam pensar de mim»

Por Marcela Linhares - Fevereiro 23, 2023
Bellucci
Marcela Linhares/Bola Amarela

Thomaz Bellucci, um dos nomes importantes quando o assunto é ténis brasileiro, disputou nesta quarta-feira o seu último encontro da carreira. Com Sebastian Baez pela frente na primeira ronda do Rio Open, o paulistano não conseguiu avançar na competição.

Após o fim do encontro, Bellucci recebeu homenagem em court vindas de familiares, ex-treinadores, psicóloga e até mesmo ex-tenistas brasileiros. Sobre ser homenageado, Thomaz comentou.

“Eu sabia que ia haver alguma coisa,  a gente nunca sabe como que vai ser, quais os sentimentos e quais as emoções que vão surgir naquele momento, mas foi muito bom ter essa homenagem, de ter conseguido o último contato com os adeptos, muitas palavras bonitas da minha família, de todos meus amigos que estiveram comigo nesses quase 20 anos de circuito. Acaba passando um filme na cabeça de todos os anos no circuito e você acaba caindo na real que tudo passa muito rápido e que todos os momentos que eu vivi no court foram muito especiais e, para mim, hoje foi um dia muito especial e estou muito feliz de tudo o que aconteceu. Sei que foi o momento certo de fazer alguma outra coisa da minha vida e eu saio totalmente satisfeito de tudo que eu conquistei dentro do ténis”.

FUTURO

O brasileiro também falou sobre o projeto de ser treinador, mas que é algo mais a longo prazo, algo para daqui a um ou dois anos. “Tenho projeto de montar um lugar onde eu possa meter todas as minhas ideias de ex jogador – já que não posso mais falar como jogador – e de montar uma ideologia minha, das coisas que eu acredito, mas é coisa mais a longo prazo, mas espero continuar no ténis e, de uma certa maneira, como eu falo, de passar toda a minha experiência para os jovens atletas. Eu sei que eu tenho muito a contribuir como treinador agora e pretendo especializar-me, fazer cursos, estar mais envolvido no mundo dos treinadores de uma certa maneira”.

Bellucci acrescentou que a visão que tem atualmente do esporte é muito de jogador que precisa mudar essa perspectiva para estar preparado para ser treinador.

“Espero de uma certa maneira estar envolvido no ténis. Não pretendo viajar louco como viajei na minha carreira inteira, de viajar sete, oito meses por ano, mas pretendo estar no circuito não tão fisicamente como sempre estive de viajar e estar em todos os torneios, mas estar envolvido no ténis de uma certa maneira, não sei como vou administrar tudo isso, mas é um projeto a longo prazo”.

PRESSÃO DURANTE A CARREIRA

Thomaz também comentou sobre ter sido por muito tempo o único nome a representar o Brasil e as dificuldades. “Quando você tem vários ídolos dentro de um país, isso acaba sendo diluído entre os atletas e o exemplo disso é Argentina, Espanha, Estados Unidos, entre outros países que tem inúmeros atletas e no ténis aqui no Brasil sempre fui jogando todos os Grand Slams, às vezes um ou outro conseguindo passar o quali, um ou outro entrando no top 100 e saindo, mas sempre colocavam muita expectativa em cima de mim e isso com certeza não foi bom de uma certa maneira. Eu também me colocava muita responsabilidade de avançar nos torneios e consegui, de certa maneira, retribuir essa expectativa das pessoas. Isso não foi tão bom por vezes, mas são coisas que quando você chega em certo nível profissional há que lidar com esse tipo de pressão e expectativa que criam em cima de você”.

O paulistano comentou também sobre as dificuldades das lesões e, que no final da carreira, começou a sentir que já não tinha mais o nível que esperava e foi a partir desse momento que que percebeu que já não dava mais para seguir no tênis.

“Eu não consigo treinar em alto rendimento, não consigo render como estes rapazes estão a render, dá para ver que o ténis hoje em dia é um desporto muito físico. Além de ser um jogador de ténis, você tem que ser um atleta e eu nos últimos anos já não estava a conseguir mais ser… Então comigo eu tinha muito claro que tinha que fazer outra coisa já que o físico não era o suficiente para eu jogar o que eu jogava antes. Acho que a maioria dos atletas que acabam a carreira é por essa razão, não é porque a gente não quer mais jogar, a gente já não consegue mais jogar em alto rendimento, então eu acabo com esse sentimento, mas acabo feliz assim de tudo que conquistei no ténis”.

Sobre o lado positivo e negativo, Thomaz desabafou que vai sentir falta de momentos como teve nesse último jogo da carreira. A sensação de estar num court lotado de brasileiros com apoio do início até ao fim. Por outro lado, mostrou que o lado negativo é o tempo que ficava em court a desgastar-se, as lesões, o tempo longe da família e longe da namorada.

“Perdi todos os aniversários da minha família, vários Natais, praticamente todos réveillons, não vou sentir falta, mas são coisas que você tem que fazer para jogar em alto rendimento. Sempre fui 100% focado na minha carreira, abri mão de muitas coisas e é isso. Tudo tem seus prós e contras, o ténis de alto rendimento tem muitos contras, mas também tem muitos prós e o pró é isso que eu vivi hoje, o lado financeiro de conseguir dar uma segurança para a sua família desde muito cedo, mas acabo feliz”.

CONSELHOS PARA SI PRÓPRIO

Se pudesse dar duas dicas para ele mais novo, Bellucci começa brincando. “Uma talvez eu não possa falar… de mandar muita gente para aquele lugar, acho que muitas vezes eu me importei muito pelo que os outros iam pensar de mim, falar de mim, não consegui desfrutar de tudo que eu passei no ténis, tinha muita gente que me apoiava muito, mas tinha muita gente que estava nem aí para mim. Eu acho que eu deveria ter valorizado mais as pessoas que gostavam de mim, que gostavam do meu trabalho e às vezes você fica valorizando os haters, valorizando quem não está nem aí para você. A segunda dica é, acho que talvez que todo mundo fala, mas é impossível de fazer… que é curtir um pouco mais, se eu tivesse curtido um pouco mais, eu não teria me transformado em quem eu me transformei porque não da para fazer as duas coisas. Não dá para você sair à noite todo dia e estar junto com os seus amigos, de final de semana fazer churrasco porque isso é impossível no ténis, isso é impossível no alto rendimento, quem faz isso é uma ilusão”.

Me formei em jornalismo em 2019 pela FACHA - faculdade localizada no Rio de Janeiro. Depois de cursos sem sucesso, me descobri no jornalismo e escolhi estudar com objetivo de seguir o tênis. Estagiei na CNN durante a Olimpíada no Rio, escrevi sobre o esporte em sites colaborativos e não me vejo fazendo outra coisa. Em 2020 fiz pós graduação em jornalismo esportivo e sigo na área desde então passando por colaborações na VAVEL, UOL, Revista Tênis e hoje no Bola Amarela.