Aslan Karatsev em entrevista [parte I]: «Quando tinha 6 anos já fazia dois treinos por dia»

Por Bola Amarela - Novembro 4, 2021

Aslan Karatsev é uma das mais surpreendentes histórias dos últimos anos no ténis. O russo, de 28 anos, saltou do anonimato para o 16.º lugar do ranking ATP, com dois títulos pelo caminho e umas incríveis meias-finais no Australian Open. Na primeira parte desta entrevista, Karatsev confessa que ainda pensa estar a viver um sonho e volta às raízes.

BOLA AMARELA – Com a época quase a terminar, ainda sentes que é um sonho teres estado nas ‘meias’ do Australian Open, conquistares dois títulos, derrotares o número um do mundo e seres top 20?

ASLAN KARATSEV – Sim! É um sonho tornado realidade. Sonhava estar perto do topo há muito tempo. Trabalhei mesmo muito duro especialmente nos últimos três anos depois da minha lesão no joelho esquerdo. Sem dúvida que ainda parece um sonho.

BA – Se alguém te dissesse antes do regresso do ténis que isto ia acontecer em 2021, o que respondias?

AK – Diria que podia acontecer, mas eu já estava a jogar bem antes da paragem provocada pela pandemia. Estava a jogar Challengers no Cazaquistão e estava a sentir muito bem o jogo. Quando a pandemia começou fiquei muito chateado porque finalmente estava a ficar com confiança. Assumi a pandemia como uma oportunidade para estar mais em casa, mas dois meses antes de os torneios começarem fui para Minsk, joguei torneios lá, depois fui para os Estados Unidos jogar exibições todos os dias. Estava a preparar-me fisicamente também.

BA – És o exempo perfeito de que o trabalho dá sempre resultados mesmo que possa demorar?

AK – Diria que sim, sem dúvida! Depende de quanto tu acreditas. Por isso, sim.

BA – Houve algum momento em que percebesses que pertencias mesmo ao nível mais alto?

AK – Quando era número 150 do mundo defrontei jogadores de topo e conseguia acompanhá-los, dar-lhes luta. Mas não era muito consistente, como no ano passado e este ano. Comecei a ser mais consistente, trabalhei muito todos os dias e aconteceu.

BA – Já vimos alguns jogadores ter dificuldades em lidar com os feitos que alcançam. Foi difícil gerir a subida tão rápida no ranking?

AK – Não, nem por isso. Tinha um objetivo, cumpri-o e agora há que continuar a trabalhar e a jogar. Não sinto nenhuma pressão ou algo do género pelo que já alcancei.

BA – Recuemos agora na tua vida. Como foi crescer em Vladikavkaz e começar a jogar ténis?

AK – Nasci na Rússia, mas depois mudei-me para Israel e comecei a jogar ténis lá quando tinha quase 4 anos. Aos 12 anos voltei para a Rússia.

BA – Ser um jogador profissional de ténis sempre foi o sonho ou havia algo diferente?

AK – Sempre foi o meu sonho. Aos 6 anos já tinha dois treinos por dia. Fui muito profissional logo desde muito jovem!

BA – O que serias se não fosses tenista?

AK – Bem, eu gosto de jogar futebol também. Não sei quão bom seria, mas tenho alguma experiência.

BA – E como é o Aslan fora do ténis? O que gostas de fazer?

AK – Quando tenho tempo livre, que não é assim muito comum, gosto de jogar futebol. Gosto de passear, fazer montanhismo, nadar.

BA – Qual foi o maior obstáculo que ultrapassaste na tua carreira?

AK – A lesão no joelho esquerdo. Foi a parte mais difícil. Depois foi encontrar as pessoas certas para trabalharem comigo e conseguir melhorar. É muito importante encontrar as melhores pessoas para estarem contigo a trabalhar.

BA – És a razão perfeita pela qual toda a gente devia ver o circuito Challenger com mais atenção?

AK – Não sei! (risos) Há muitos jogadores bons nos Challengers. Às vezes eles não conseguem dar o pequeno passo para chegar ao nível mais alto. Mas isso não significa que não joguem bem. Conseguem jogar bem com os melhores do mundo, mas o que acontece é que numa semana jogam bem e noutra relaxam. Tem tudo a ver com consistência e com a forma como consegues manter o teu nível.

BA – O nível dos Challengers e torneios ATP é mais aproximado do que as pessoas pensam? 

AK – Sim. Claro que há uma diferença, mas encontramos bons jogadores nos Challengers. Numa semana jogam bem, noutra um pouco menos. No ATP são mais consistentes. É a única grande razão para esses jogadores estarem no topo.