Kostyuk lembra: «A guerra continua. Não sei o que estamos aqui a fazer»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Janeiro 20, 2024

Marta Kostyuk está a viver uma grande campanha no Australian Open e já se encontra nos oitavos-de-final em Melbourne Park. No entanto, tudo se torna relativo para a tenista ucraniana de 21 anos, que garante que a guerra no seu país já passou para segundo plano.

GUERRA ESQUECIDA

Infelizmente, as pessoas já se esqueceram da guerra. Respeito sempre os jornalistas, mas não gosto de alguns. Alguns usaram o tema para ser notícia de última hora o tempo todo, querem drama e alimentar assunto entre jogadoras. A guerra continua, há gente a morrer todos o dias, ainda não sei o que estamos aqui a fazer. O problema é que as pessoas se habituam, mas nada mudou. Entendo que cada um tem os seus problemas, mas estou aqui para recordar sempre o que está a acontecer.

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COM O CORAÇÃO EM KIEV

Toda a minha família está em Kiev neste momento. A minha mãe envia vídeos quando há mísseis há voar por cima da casa dela. É incrível que isto continue a acontecer quase dois anos depois. Sinto que o mundo todo olhou para outro lado, vejo que o ocidente tenta silenciar tudo, falar menos do tema, mas a guerra está muito longe de terminar. Não estamos numa boa situação, é uma guerra terrível e desigual. Estamos em modo de sobrevivência, as pessoas estão deprimidas e cansadas, há alguém por trás de tudo isto que está a beneficiar à grande.

INCOMPREENSÃO NO BALNEÁRIO

No fim do dia olho à minha volta e sinto que tudo isto não importa muito, é só um encontro de ténis, um torneio, a vida real está lá fora. Infelizmente, já não são notícias de última hora, já não interessa aos jornalistas. Chegou um ponto em que escolhi este caminho, sei que será muito difícil mas vale a pena. As pessoas estão a tomar decisões o tempo todo, mas aqui temos um problema porque não sinto que haja muita compreensão de quem nos rodeia. As pessoas estão manipuladas, os jogadores vão à Rússia disputar uma exibição a troco de muito dinheiro, mas no fim do dia não importa só o dinheiro. Não entendo estes jogadores, não sei por que fizeram isso.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt