Gonçalo Oliveira no Bola Amarela Podcast: quase fim de carreira e histórias curiosas com Borg, Tony Godsick, Simon e Paire

Por Bola Amarela - Dezembro 14, 2023

Gonçalo Oliveira, número dois português, é o convidado desta semana do Bola Amarela Podcast, que chegou ao seu 108.º episódio. O portuense de 28 anos, vencedor de 92 encontros em 2023, manteve-se fiel a ele mesmo e não deixou nada por responder. Da mágoa por ser muitas vezes ignorado pelos principais responsáveis do ténis em Portugal até às muitas histórias curiosas que tem por contar, a conversa fluiu e foi muito interessante.

SONHOS E OBJETIVOS DE FUTURO

O ténis é uma parte da minha vida, mas não é toda. Há muitos jogadores no circuito que dependem do ténis para sobreviver e isso nunca foi o meu caso. Sou competitivo, quero ganhar e jogar os melhores torneios, mas não vou deixar de me divertir. De conhecer países. De fazer novas amizades. Resta-me divertir-me e ser profissional o máximo possível. Em nível tenístico sei que posso ser top 100. A nível de sofrimento… vamos ver. Este ano foi sofrido porque joguei torneios um pouco piores e fui capaz de ultrapassar tudo isso. Esta semana joguei e treinei com tenistas do top 100 e não sei nenhuma diferença. Objetivo seria top 100, jogar Masters 1000 e estar no meio dos melhores do Mundo.

JOGAR OS GRANDES TORNEIOS

O ideal seria de facto somar o mesmo número de pontos ganhando apenas 40 encontros. Teria mais tempo para fazer outras coisas. Esse é o objetivo. Em 2024 não estarei nos Jogos Olímpicos pelo que há ali um mês com muitos ATP 250 a fecharem mais baixo. Não defendo muitos pontos porque o máximo que defendo a cada semana são 25. No verão já queria estar a 150, 160 para poder jogar ATP. Acho que 150 é muito real para mim. Até porque sendo cabeça-de-série em vários Challenger isso facilita-me bastante. Ir a Indian Wells e Miami está traçado no calendário. Já joguei Indian Wells e em Miami fiquei um lugar fora.

NÃO JANTARIA COM NENHUM TENISTA ATUAL MAS SIM COM ANTIGOS CRAQUES

Não jantarei com jogadores desta geração. Primeiro porque há muito dinheiro, o que é normal. Compreende-se. Há muita coisa envolvida fora do campo. Na altura em que jogavam o Borg ou o Vitas Gerulaitis eram tempos mais animados. Era mais parecido como eu vivi esta semana na Venezuela. Jogamos ténis à noite, mas acaba-se o ténis e vamos todos jantar fora juntos. Lembro-me de ir com o meu pai treinar com o Borg ao clube onde ambos treinaram e o Bjorn contar-me histórias do meu pai, dos tempos em que ele jogava, que eu não sabia. Ele contou-me que o meu pai tinha dois Ferraris, um branco e um vermelho e que o Vitas andava sempre com ele nas noitadas. Dizia que ele treinava muito, mas que sabia viver.

HISTÓRIA CURIOSA COM TONY GODSICK

Estava a jogar o Challenger de Cleveland, em fevereiro e estava a nevar. Foi no ano em que joguei o Australian Open [2018]. Chegámos tarde ao clube e a essa hora já não serviam comida. Apareceu um senhor que disse que conhecia um restaurante tailandês e levou-me lá. Depois foi-me buscar e no regresso conversámos e ele disse-me que tinha assistido à final do Australian Open com o filho e mulher. Ele disse-me que era amigo do Roger e eu disse “ok, está bem…”. O meu pai perguntou-lhe o que ele fazia da vida e ele disse que era agente de jogadores. Disse-nos que tinha um suíço, um argentino e um alemão. Eu perguntei-lhe se o suíço era o Laaksonen. E ele disse-me “não, não”. Roger Federer, Juan Martín Del Potro e Alexander Zverev. Foi assim que conheci o Tony Godsick.

PENSOU PARAR EM 2022 E DESISTIU POR CAUSA… DE GILLES SIMON

Tinha uma lesão no joelho e ninguém me dava as respostas certas (…). Estive vários meses fora dos courts. Entrei no ATP 250 de ‘s-Hertogenbosch, sem treinar e nesse torneio joguei contra o Gilles Simon, que também estava a acabar a carreira nesse ano. Acabei o encontro com ele e ele perguntou-me como estava a ser a minha carreira. E eu na verdade vinha de mês e meio de férias na Ásia. Sozinho. Foi giro porque acabei por encontrar lá amigos do circuito. Ele apareceu no balneário após o encontro e falámos três horas. Disse-lhe que seria o fim porque tinha outros projetos, estava a montar uma cadeia de hotéis. Mas ele aconselhou-me a continuar porque estava a jogar bem. Disse-lhe que estava cansado, mas umas semanas depois houve um Challenger em Lisboa e o Uchida, que veio treinar uma semana a minha casa e estava sempre a ‘levar porrada’ minha, acabou campeão. Fiquei surpreendido. Mas cheguei a um ponto em que disse que não queria continuar. Queria acabar em Braga e CIF no ano passado e os meus avós e mãe foram ver-me jogar a Braga. Os meus avós nunca me tinham visto jogar e pensei que ele seria o meu último torneio, ainda para mais depois de ter saído do torneio da forma como saiu [foi multado depois de uma confusão com Gastão Elias num dos treinos]. Acabei por jogar na semana seguinte no CIF somente para não ser multado mas as coisas correram bem, passei o qualifying e uma ronda antes de jogar com o Benoit Paire. No final do encontro ele incentivou-me a continuar também. Acabei por ganhar o título de pares e decidi continuar. Joguei dois torneios em Inglaterra e conheci lá o meu novo treinador. Mas acho que quando terminar não vou avisar ninguém, sinceramente.

O JOGADOR PERFEITO DE GONÇALO OLIVEIRA

Direita – Nadal

Esquerda – Djokovic

Serviço – Karlovic

Resposta – Djokovic

Velocidade – Tiafoe

Slice – Federer

Volleys – Federer

Mentalidade – Nadal

Celebração – Shelton