Thomaz Bellucci em entrevista [parte I]: «Sou mais feliz agora do que quando era número 21 ATP»

Por Pedro Gonçalo Pinto - Março 18, 2022
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imagem: arquivo TenisBrasil

Aos 34 anos, Thomaz Bellucci não deixa de lutar. Sem competir desde novembro do ano passado, o antigo número 21 do ranking ATP, atual 599.º, está agora a recuperar de uma lesão num dos joelhos para depois se lançar outra vez para a alta roda do ténis e com muita ambição. O brasileiro quer voltar a ser feliz dentro de court, algo que explica numa conversa com o Bola Amarela na qual abre o coração. Leia aqui a primeira parte de uma entrevista em que fala sobre os pontos altos e baixos e dos duelos com Roger Federer, Novak Djokovic Rafael Nadal.

BOLA AMARELA Temos de começar pela sua publicação no Instagram. É preciso coragem para abrir assim o coração, por isso pergunto o que vai aí dentro neste momento?

THOMAZ BELLUCCI – Foi uma questão de abrir o meu coração, de me expressar de uma maneira que as pessoas me conheçam e saibam quem eu sou realmente. Às vezes, as pessoas têm uma imagem de um tenista ou de um ídolo e parece que não tem nenhum problema, que a vida é perfeita. Às vezes, temos tantos problemas, tantas dificuldades como qualquer pessoa. A minha intenção foi passar um pouco das dificuldades que qualquer atleta tem e que eu tenho passado nos últimos anos, nessa dúvida de saber se sou bom o suficiente para continuar a jogar. Nos últimos anos não tive resultados muito bons, acabei por me aleijar muito e acabamos a duvidar. É natural. Até o Nadal fez uma entrevista depois da final do Australian Open, dizendo que duviduou se podia continuar a jogar. Se até o Nadal tem essas dúvidas, imaginem nós, meros mortais, meros jogadores de ténis.

BA – Com certeza vamos ver o Thomaz de volta para voltar a lutar dentro de court?

TB – A minha intenção é continuar a jogar. Hoje ainda não estou em condições de voltar a competir porque estou a lidar com uma lesão no joelho desde o final do ano passado, em que já estava a incomodar. Estou a tentar tratar isto, voltar a treinar e voltar à melhor forma possível. Isso ainda vai demorar uns meses, mas a minha intenção é continuar a jogar bem no court e o mais importante é eu estar feliz, a fazer o que gosto, que é jogar ténis. Até eu achar que posso ser competitivo e feliz dentro de court, vou continuar. Vou jogar até onde eu achar que dá.

BA – É difícil imaginar esse caminho de volta tendo em conta que já foi top 30, jogou contra Nadal, Federer, Djokovic, e agora é número 599?

TB – O meu ranking hoje em dia não é dos melhores, mas isso não é o mais importante. É uma consequência do momento que tenho vivido nos últimos anos. Joguei pouquíssimos torneios, não estava bem fisicamente para jogar. Então o ranking mostra o momento em que estás hoje, mas não o potencial que tens de competir e conseguir os resultados. Tenho uma longa caminhada. Se conseguir voltar a jogar bem e chegar ao meu melhor ranking, que foi número 21, é uma longa caminhada. São meses ou anos para conseguir isso. O ranking é secundário hoje em dia, antes é que via todas as semanas. Mesmo com ranking assim, talvez seja mais feliz do que quando era 21 do Mundo, pelo meu amadurecimento e por ver as coisas como elas realmente são e não ficar tão apegado aos resultados.

BA – Qual é a melhor lembrança que tem da sua carreira até agora? E a mais dura?

TB – As maiores lembranças que tenho no ténis são o meu primeiro título ATP, que foi em Gstaad em 2009. É aquela explosão de emoção que se tem porque não sabe como é quando ganha parece que tudo valeu a pena. Vê como tendo sido um sonho a ser realizado. Depois ganhei os outros mas não foi a mesma emoção. O primeiro título foi o momento mais emocionante da minha carreira. E a meia-final no Masters 1000 de Madrid… Também foi uma semana muito emocionante. Talvez o resultado mais expressivo em torneios grandes. A mais dura talvez tenha sido no Brasil Open, em São Paulo, em que não consegui render bem no court, saí vaiado e para mim foi um pouco injusto as críticas. Naquele momento não consegui lidar bem com isso. Foi difícil lidar com a derrota e a insatisfação da torcida. Quando se joga em casa esperas sempre que te apoiem independentemente do resultado, mas vi que não era bem assim. Mas com o tempo vamos aprendendo que isso talvez não seja o mais importante. O melhor é não importar muito com a opinião de algumas pessoas que estão lá e não valorizam.

BA – Falei aqui que defrontou Nadal, Federer e Djokovic. Até tirou sets a todos eles. Como é que compara defrontar esses três monstros?

TB – Tive o privilégio de jogar talvez contra os três melhores de todos os tempos, Federer, Nadal e Djokovic. Vai ser muito difícil no futuro haver três jogadores muito fora da curva como houve nestes últimos anos. É sempre muito emocionante jogar com eles. Eles eram os meus ídolos e ainda são de certa maneira. Jogar contra um ídolo é muito emocionante, mas comparando os três, o que me deu mais dificuldade talvez tenha sido o Nadal, pelo estilo de jogo dele. É canhoto também, faz muitas coisas melhores do que eu. Contra Federer e Djokovic tenho um jogo um pouco diferente e em alguns momentos isso favorecia-me. Contra o Nadal era mais difícil encontrar maneira de o superar. Tive muitas dificuldades. Quase ganhei nas Olimpíadas do Rio, mas foi sempre muito difícil contra os três.

O ténis entrou na minha vida no momento em que comecei a jogar aos 7 anos. E a ligação com o jornalismo chegou no momento em que, ainda no primeiro ano de faculdade, me juntei ao Bola Amarela. O caminho seguiu com quase nove anos no Jornal Record, com o qual continuo a colaborar mesmo depois de sair no início de 2022, num percurso que teve um Mundial de futebol e vários Europeus. Um ano antes, deu-se o regresso ao Bola Amarela, sendo que sou comentador - de ténis, claro está - na Sport TV desde 2016. Jornalismo e ténis. Sempre juntos. Email: pedropinto@bolamarela.pt