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Venus explica regresso a Indian Wells numa carta emocionante
Um ano depois da sua irmã, Serena, Venus Williams vai regressar este ano a Indian Wells, 15 anos depois da polémica que provocou o longo boicote das irmãs ao torneio. A jogadora de 35 anos aceitou regressar à prova em 2016 e explicou aquilo que tem sentido numa carta enviada ao site “The Players Tribune”.
“Há simplesmente algo especial em ser a irmã mais velha.
Quando és a mais velha, és a primeira, sempre a primeira.
Às vezes, é um privilégio. Ser a irmã mais velha significa que és a primeira a tirar a carta, a primeira a poder sair à noite, a ir a um encontro, a ficar em casa sozinha.
Significa que és a primeira a crescer.
No meu caso, significa também que fui a primeira a tornar-se tenista profissional. A primeira a jogar oficialmente um torneio WTA. A primeira a jogar contra uma número um, a primeira a bater uma top 10, a jogar um Grand Slam e a chegar à final de um Grand Slam.
E, claro, significa que fui a primeira a ser famosa.
Fui a primeira a ter artigos escritos sobre mim. A dar autógrafos, a ter programas de televisão sobre mim, a receber prémios.
Fui a primeira a ser conhecida apenas pelo meu primeiro nome.
Venus. Apenas Venus.
Era a irmã mais velha. Tinha de ser a primeira.
Estou orgulhosa disso.
Por vezes, ser a irmã mais velha é uma responsabilidade.
Para mim, ser a mais velha, significou que quando me estreei no circuito eu era a única que jogava daquela forma, que era daquela forma. Era única daquela cor, com aquele cabelo, com aquele estilo.
Ser a irmã mais velha significou que quando me tornei número um do Mundo em 2002 fui igualmente a primeira mulher negra norte-americana a consegui-lo e tive de carregar com a importância desse feito, que foi uma honra.
Ser a irmã mais velha significou que quando a minha irmã mais nova fez a sua estreia profissional, eu tornei-me também em muito mais coisas para ela do que simplesmente uma irmã: uma colega, uma adversária, uma parceira de negócios, uma parceira de pares. Mas, primeiro do que tudo, eu continuava a ser a mesma coisa que sempre fui desde início: a sua família. Eu era a sua protetora. A sua primeira linha de defesa.
Ser a irmã mais velha não foi uma responsabilidade ligeira para mim. Sabia pelo que iria passar, crescer em frente a câmeras, entrar na vida pública como uma teenager negra, e sabia o quão duro isso poderia ser. Adorava ter tido uma irmã mais velha no meu primeiro ano de profissionalismo.
A Serena tem-me sempre a mim.
Mas nunca tive de lhe dizer isso alto. Ser a irmã mais velha significa que estou cá mesmo silenciosamente. É algo adquirido.
Tu podes fazê-lo. Eu consegui, por isso tu também consegues. É só seguires-me. Ser a irmã mais velha significa que tu mostras o caminho.
Ser a irmã mais velha significa estar lá. Estar lá para a Serena.
Quando a Serena decidiu jogar Indian Wells no ano passado, eu fiquei muito orgulhosa dela. Ela não pisava aquele recinto desde 2001. Nenhuma de nós o havia feito.
Sobre essa decisão, a Serena disse-me que andou a ler Nélson Mandela. Aprendeu com ele, pensou nele.
Quando a Serena se apaixona por algo, eu noto isso nos olhos dela. E percebi que ler Mandela para ela era sério e apaixonante. Por isso não me surpreendeu que regressar a Indian Wells fosse algo único para ela. Ela aplicou aquilo que aprendeu.
Fiquei orgulhosa da Serena por muitas razões: pelo bom senso como ela abordou a complexidade da questão de Indian Wells, por tomar aquela decisão com tanta convicção, por assumir a sua decisão e, claro, por jogar da mesma forma de sempre.
Eu vi os encontros e torci por ela.
E fiquei tão tão orgulhosa.
Mas por mais orgulhosa que tivesse ficado, os meus sentimentos não mudaram. Nunca pensei voltar a jogar em Indian Wells.
No court, a Serena estava mais emocional do que eu. Ela normalmente é mais emocional do que eu em court, mas não significa que eu também não seja. Sou apenas mais calma em competição. É assim a minha maneira de ser.
Honestamente, se calhar sou a mais competitiva das duas. Penso que a capacidade que a Serena tem de subir todas as fasquias advém do facto de conseguir jogar melhor debaixo de grandes emoções. Para mim é um processo mais complicado.
Com Indian Wells também foi assim. E as memórias de 2001 ainda estão muito vivas.
Lembro-me dos quartos-de-final, contra a Elena Dementieva. Ganhei 6-0 e 6-3 e joguei muito bem contra uma grande jogadora. Lembro-me de ter dores no joelho e de quanto eu queria jogar a meia-final com a Serena, antes de aceitar que não seria capaz de o fazer. Lembro-me das acusações feitas a mim, à minha irmã, ao meu pai. Lembro-me da reação do público quando me sentei no meu lugar. Lembro-me de não perceber porque razão agiam assim.
Há coisas pelas quais passas em certa idade que nunca mais esqueces.Lembro-me do quão magoada fiquei. E revoltada. A cobertura mediática não pareceu minimamente preocupada comigo e com a Serena, mas apenas com a história em si. A versão da história que mereceu mais atenção não foi a mais verdadeira. Senti-me como se tivesse feito algo de errado quando não fiz.
Saí de Indian Wells em 2001 a sentir que não era bem-vinda ali.
Não te sentires desejada num local é uma memória difícil de perder em qualquer idade. Aos 20 anos? É quase impossível. E assim foi. Não voltei lá.
Mas depois vi a Serena.
E foi no momento em que ela foi recebida de braços abertos naquele estádio que eu percebi o verdadeiro significado de ser uma irmã mais velha.
Significa que por todas as coisas que fiz primeiro, que abri o caminho para a minha irmã, nada me poderia deixar mais orgulhosa do que isto que ela havia acabado de fazer.
Desta vez… ela abriu-me o caminho.
Vou jogar Indian Wells este ano – 15 anos depois da minha última presença e um ano depois da Serena. À medida que o torneio se aproxima estou cada vez mais ansiosa. Pelo deserto da Califórnia, pela competição, pelos adeptos, porque jogar aquele torneio tão importante.
Estou ansiosa por jogar ténis.
Parece simples, eu sei. Mas depois de 30 anos a jogar este desporto aprendi algo. Aprendi que não interesse o que aconteceu ou acontece, onde estás ou estiveste… no fim do dia, ténis é ténis. Sempre ténis. E não há nada melhor.
E quem é que me ensinou isto? A melhor jogadora da história.
Eu sou a sua irmã mais velha.”
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