Thiem responde a tudo: Covid-19, rivalidade com Big 3, maior feito e amor pelo Chelsea

Por José Morgado - Junho 9, 2020
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Dominic Thiem, número três mundial, deu esta segunda-feira uma longa e muito interessante entrevista à ATP Radio, onde falou… de quase tudo: o momento que vivemos, os maiores feitos da sua carreira e os tempos de juventude em que percebeu que ia ser profissional de ténis.

Melhor ranking de carreira mesmo antes da pandemia. “Chegar a número 3 do Mundo foi muito bom, pois há muitos anos que não atingia um novo recorde de ranking na minha carreira. Infelizmente o ranking está congelado e estou assim há meses.”

Covid-19 (e pós) na Áustria. “Estamos bem aqui na Áustria, a situação não foi muito má. Estivemos cinco semanas fechados em casa mas estou a treinar há um mês e meio e a jogar um torneio nacional há duas semanas. É uma ótima oportunidade para competir. Não temos público, mas as rotinas estão a voltar. Foi organizado muito rapidamente, com muitas regras e todos os melhores jogadores do país quiseram competir. É importante para todos nós depois de treinar durante algumas semanas sem grandes objetivos. Passámos todos a ter um objetivo a partir daí.”

Como se sente fisicamente nesta altura. “Sinto-me bem, treinei durante a quarentena dentro do meu apartamento, corri na rua. Mas pela primeira vez na minha vida estive a seis semanas sem jogar ténis. Quando voltei, cada músculo doía-me. Foi surpreendente nesse aspeto.”

Vai jogar vários torneios de exibição. “Todos queremos jogar ao máximo e vermo-nos uns aos outros. Eu vou ao torneio do Djokovic e estou ansioso por ver o Dimitrov, Zverev e todos eles. Vai ser a primeira vez que saio do país depois de tantos meses. Ainda não sei se vou de avião ou de carro, sinceramente. Ainda vou decidir e não tenho muita informação. Mas acho que as coisas na Europa estão a melhorar. As fronteiras com Itália e Alemanha estão reabertas. Não sei se teremos ou não controlos apertados nas fronteiras.”

Maior feito da sua carreira. “Chegar à final do Australian Open é o maior feito da minha carreira. Tive de ultrapassar algumas dificuldades fora e dentro do court. Bati três jogadores do top 10 de forma consecutiva e depois perdi com o melhor jogador da história daquele torneio em cinco sets equilibrados. Emocionalmente, ganhar Viena em 2019 foi o meu maior feito. Ia aquele torneio desde pequeno, ganhei lá o meu primeiro encontro ATP, a atmosfera foi incrível e levantar aquele troféu no final é algo que ainda não consigo acreditar.”

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Demorou muito tempo a superar a derrota na final em Melbourne. “Foi muito doloroso perder a final do Australian Open. Sofri muito depois disso. Nas finais de Roland Garros estive sempre longe de ganhar, mas na Austrália estive dois sets a um acima, com break point no quarto set. Foi duro, mas por outro lado perdi apenas com o Nadal e Djokovic em finais de Grand Slam. Depois de me lembrar disso, foi mais fácil de digerir.”

Maiores rivais. “Os meus maiores rivais são mais da minha geração do que o Big Three. Talvez mais o Stefanos e o Alexander Zverev. Já joguei muitas vezes contra Nadal, Federer e Djokovic. Gosto de jogar contra os cinco. São os melhores jogadores do Mundo. Eu tento aproximar-me deles. É importante colocar-lhes pressão. Eles estão tão acima de nós em termos estatísticos que a esse nível nunca vamos apanhá-los. Cresci a vê-los jogar e agora estou a defrontá-los e a derrotá-los. É especial.”

Onde gostava de ganhar o primeiro Grand Slam? “Não quero saber onde vai ser o meu primeiro Grand Slam. Adoro todos. Só quero é que ele apareça um dia.”

Ser tenista: sim ou sim. “Nunca houve qualquer dúvida de que eu seria tenista. Os meus dois pais eram treinadores de ténis e eu ia com eles para o court quando eu era muito pequeno. Só tive uma escolha. Eles tinham uns ‘tennis camps’ de verão em Viena e era muito bom para mim. Passava todas as minhas férias de verão com essa dinâmica. Ao início as coisas eram tranquilas, mas depois a partir dos 11 ou 12 anos tornei-me logo muito profissional. E no ténis penso que tem mesmo de ser assim. Passei a treinar todos os dias e a pensar logo como um profissional. Foi a única profissão que me imaginei a ter.”

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Importância de Gunther Bresnik. “Mudei para a esquerda a uma mão porque o Gunther Bresnik me mandou. Quando temos 11 ou 12 anos somos muito jovens para decidir isso. Foi difícil ao início porque eu era campeão de sub-12 da Áustria e estava a ganhar a toda a gente da minha idade. Quando mudei para esquerda a uma mão passei a cometer muitos erros desse lado. Os dois ou três anos seguintes foram muito complicados. Demorei algum tempo até voltar a ganhar encontros.”

Entrada em ação de Massu. “Comecei a treinar com ele quando eu estava numa situação difícil, depois de me separar do Gunther, que era uma pessoa muito importante na minha carreira e na minha vida. O Nico ajudou a que o meu jogo saltasse de patamar. É incrível ver aquilo que melhorei desde que estou com ele, especialmente fora da terra batida. Demos um passo em frente, muito graças ao Nico. Não o vejo há muito tempo e estou ansioso para que voltemos a trabalhar.”

Poucas lesões mas algumas doenças. “Fico doente algumas vezes em alturas más, mas não tenho tido lesões muito graves. Com a experiência vou melhorando. O circuito é muito complicado porque estamos sempre no limite. Quando mais experiência temos, mais relaxados estamos. Espero não voltar a ficar doente antes de grandes torneios.”

Amor pelo Chelsea FC. “Sou um grande fã desde 2004. Há 16 anos. Adoro e sofro bastante quando não há futebol. É um dos meus grandes amores mas eu adoro futebol. Vejo imenso a Premier League e gosto de jogar também. É bom ter uma relação com um clube.”

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Ativista pelas causas ambientais. “Não é fácil porque estamos sempre a viajar, mas adoro o ambiente, os animais e tento ajudar o mais que posso. Estive envolvido também durante este período.”

Ténis sem público não é a mesma coisa. “Falta uma grande parte sem o público, mas por outro lado todos nós começamos a jogar ténis e torneios sem espectadores. Todos estamos habituados a jogar também sem público e sem apanha-bolas nos treinos e nos torneios que jogávamos no passado. É fácil de habituar apesar de ser estranho.”

Do que sente mais falta “Tenho saudades de ganhar, de sofrer depois de uma derrota, dos estádios cheios. Do circuito, dos meus colegas. Dou-me bem com todos e é estranho estar sem tempo sem os ver. “

Ganhar US Open ou Roland Garros este ano? “É um pensamento que ainda está longe. Nem temos a certeza se vão acontecer e quando. Para já estou a pensar apenas nas exibições que vêm aí e estão confirmadas.”

 

 

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt