14 lições que Federer nos ensinou nos últimos 14 anos
Chegado a casa com o seu prestigiado troféu do Orange Bowl, em 1998, conquistado graças ao triunfo sobre Guillermo Coria na final, Roger Federer apressou-se a colocar na porta do seu quarto uma faixa com a simples mas iluminada frase: “o número um mora aqui”. Tinha 16 anos. Hoje, tem 36 e assinala 14 anos desde que alcançou pela primeira vez o pináculo do ténis mundial.
Entre aquele dia 2 de fevereiro de 2004 e a conquista do 20.º título do Grand Slam no Open da Austrália, há meia dúzia de dias, o jogador suíço permaneceu como número um do mundo durante 302 semanas, 237 delas consecutivas. Mais tempo do que qualquer outro jogador da história da modalidade.
O sonho do miúdo adolescente transformou-se na mais acertada das premonições. A esta ingénua lição de sabedoria concedida pelo versão ainda verde do campeoníssimo suíço, juntamos mais 14, como forma de assinalar aquele que foi o primeiro dia como primeiro do ranking mundial.
1. Poupar para a pré-reforma
Não há que ter apenas a fama, há também que ter o proveito. E Roger Federer, nisso, é exímio. É que se o suíço vai estando com um certo avançar de idade para esta coisa do desporto de alta competição, a verdade é que é graças a essa plena consciência de que o corpo não responde da mesma maneira que há 10 anos que o suíço continua a ganhar como há uma década. O segredo é, precisamente, tratar-se como um velho: descanso bem calculado entre os torneios, planificação criteriosa do calendário, gestão de energia durante os encontros e noites bem dormidas. Há quem poupe para a reforma, Federer poupou para a pré-reforma.
2. Nunca te leves demasiado a sério (nem quando tens o teu maior rival a rir-se na tua cara)
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?v=94xyOpETYYs
Passados oito anos, continua a ser um dos vídeos mais contagiosamente engraçado de que há memória no ténis. Grande parte da piada está naquilo que não se vê na Câmara mas que não escapa a nenhum de nós: uma das grandes e mais fascinantes rivalidades da história do ténis e do desporto mundial a ser celebrada com gargalhadas.
3. Os outros em primeiro (adversários não contam)
Assumida e descaradamente egoísta dentro do court, Roger Federer assume-se como um fiel praticante do altruísmo fora dele. Tanto oferece pizza aos apanha-bolas no torneio de Basileia como investe 12 milhões de euros na construção de 81 jardins-de-infância no Malawi. Recentemente descobrimos que há 16 anos que mima os pais do seu ex-treinador, falecido num trágico acidente de carro, em 2002.
4. Não há que ter medo das mulheres de pulso forte
5. Os meninos é que não choram
Porque os homens, os que têm arcaboiço e coragem para continuar a tentar superar-se, ano após anos, a provar que há ainda muitas razões para se manter por cá, colocando-se em posição de poder falhar redondamente com o alto estatuto que ocupam, só não choram se forem uns meninos. Nesta 106.ª edição do Open da Austrália, Federer voltou a mostrar ser um perfeito homem de barba rija.
Scenes.#AusOpen#RF20pic.twitter.com/pvhDat9wjv
— #AusOpen (@AustralianOpen) 28 de janeiro de 2018
6. Quando estás enrascado, faz um tweener
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?v=DXB4MApF4Lo
Virar as costas ao adversário, nunca, a não ser que seja para sacar de um tweener que acaba com o jogador do outro lado do court a ver a bola passar.
7. Se é para fazer filhos, que seja aos pares
Não sai mais barato, mas poupa tempo e viagens à maternidade, sobretudo a Mirka, esposa e competente promotora de vitórias. Parece que foi ontem que a gravidez da sua mulher foi anunciada, mas, entretanto, Federer tem a correr lá por casa dois pares de gémeos (ou três, se contarmos com os seus sobrinhos): Charlene e Myla, que têm agora oito anos, e Leo e Lenny, de três anos.
8. Faz o que eu digo, não o que eu faço
Admite que gostava de ver o circuito ganhar mais representantes da esquerda a uma mão, mas quando se trata dos seus filhos, Federer coloca-se à defesa. “A esquerda a duas mãos é mais fácil, ainda que não consiga batê-la. As raquetas são pesadas e para os miúdos é mais fácil. Sinto que a duas mãos é uma pancada mais simples. Quando eu tinha cinco ou seis anos jogava com duas mãos também”, disse o suíço durante este Open da Austrália.
9. Podes contar os meus recordes, mas nunca superá-los
No que toca a recordes, não há pai para ele. Além de ser recordista de títulos do Grand Slams (20) e de ser o jogador da história da modalidade que mais tempo passou na liderança do ranking (302 semanas), o suíço é titular de muitos e bons recordes. É o jogador que alcançou mais finais do Grand Slam (30), meias-finais (44) e quartos-de-final (52), o que mais participações coleciona (72). Sem esquecer que é o jogador que chegou pelo menos a cinco finais dos quatro Grand Slams e a vencer pelo menos seis vezes em dois majors diferentes (Wimbledon e Open da Austrália). E podíamos ficar aqui até à noite.
10. Define um lema e segue-o custe o que custar
“É bom ser uma pessoa importante mas é mais importante ser uma boa pessoa”.
11. Não te envergonhes do passado
Era preguiçoso, partia raquetes como gente grande e, imagine-se, chegou a usar não só franja como um longo carrapito. O ‘eu’ jovem de Federer ficaria sobejamente espantado com o bom e velho Federer de hoje: amigo chegado da poderosa Anna Wintour, editora-chefe da revista Vogue, com quem partilha a primeira fila das maiores passerelles do mundo, e eleito Homem mais Elegante do Mundo em 2016.
12. Jovens, tenham calma (e algum juízo)
Ter tantos anos de carreira como a juventude do circuito tem de vida dá a Federer total legitimidade e plena liberdade para apaziguar as mentes sobressaltadas de quem tudo quer, já e agora. Perante a derrota precoce de Alexander Zverev em Melbourne, Federer aconselhou calma ao jovem alemão.
“Disse ao Sascha para ser paciente, para não meter pressão desnecessária sobre os seus ombro. Dei-lhe uma palmada no ombro e disse-lhe, ‘anda lá, não foi assim tão mau, podia ser pior’. A primeira vez que o consegui foi em 2003, tinha 22 anos. Antes disso tinha alcançado uns quartos-de-final e perdido na primeira ronda”.
13. Se queres facilidades, esquece o ténis
Este é o tipo de lição que podia ser dado por qualquer adepto de ténis, mas nunca seria bem a mesma coisa.
“O ténis consegue ser um desporto frustrante. Não há forma de evitar o trabalho árduo. Agarra-te a ele. Tens de passar muitas horas no court, porque há sempre alguma coisa para melhorar. Tens de olhar para o copo meio cheio quando vais treinar e disputar encontros, porque nem sempre vês recompensado o empenho e o esforço que dedicas. Mas se te esforçares, a recompensa aparece. Tens de acreditar no plano a longo prazo que traças, mas precisas de metas a curto prazo para te motivares e inspirares”.
14. Dêem banho aos vossos filhos, mas vejam onde metem o joelho
Das inúmeras história que Federer terá para contar aos netos, há aquela muito boa que começa com um banho dado aos filhos e que acaba consigo na sala de operações pela primeira vez na sua carreira, ao fim de quase vinte anos no circuito. Reza a lenda que a operação ao menisco o obrigou a parar durante seis meses e que, quando regressou, sem ritmo e sem sentir o peso a uma taça das de grande porte há cinco anos, venceu de rajada o Open da Austrália. E depois Wimbledon. E novamente o Open da Austrália. Diz, quem já acredita, que foi mesmo incrível.