This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
OPINIÃO. Serena, és bem melhor do que isto
Adoro Serena Williams. Comecei a ver ténis — muito pequenino — com a norte-americana a dominar, cresci com ela a dominar, fui para a faculdade com ela a dominar, tornei-me jornalista com ela a dominar e não tenho dúvidas de que é a melhor jogadora de todos os tempos. De forma clara. Como alguém que tem a profissão (para mim um privilégio) de escrever e falar diariamente sobre a modalidade da qual mais gosto, uma das minhas maiores alegrias profissionais foi precisamente poder ver Serena Williams jogar ao vivo e, mais do que isso, poder fazer-lhe meia dúzia de perguntas em diversas conferências de imprensa.
Serena é a melhor. Tem sido, ao longo dos últimos quase 20 anos, muito melhor do que todas as outras, em todos os departamentos e a sua carreira é um exemplo para todas as mulheres e homens que, independentemente do seu contexto social ou origem familiar tenham um sonho e uma paixão.
A admiração que Serena Williams construiu — desde fãs, que a seguem todos os dias, a adeptos ocasionais (entre os quais figuras importantes da sociedade), que a acompanham quando reparam que ela está numa final de Grand Slam, — é louvável e boa para o ténis.
Ontem, na final feminina do US Open, Naomi Osaka foi melhor. Em tudo. Dominou por completo aquela que tem sido a rainha do ténis (e que é o seu ídolo) e foi a justa vencedora do último Grand Slam da época. Infelizmente, não pôde festejar como merecia. Foi até vergonhosamente apupada numa primeira fase pelo simples facto de ter feito… o seu trabalho.
Serena Williams esteve bem ao pedir ao público para se comportar, mas o mal já estava feito. Minutos antes, utilizou a admiração que o público tem por ela para confrontar um árbitro que estava a fazer o seu trabalho. Errou ao personalizar uma questão que nada tinha a ver com o indivíduo, mas com as regras. Prejudicou-se a si, à final, à adversária e à modalidade.
Carlos Ramos poderá ser acusado de não ser o árbitro mais simpático do Mundo, de não dialogar ou avisar os jogadores com os denominados ‘soft warnings’, mas nunca será acusado de não fazer cumprir as regras. O que o português fez ontem, no maior estádio do Mundo, com a maior campeã da história do ténis em court, é um ato de coragem. Ninguém deveria ter de ser escoltado do seu local de trabalho depois de apenas cumprir aquilo que vem escrito nas regras.
Em conferência de imprensa, Serena Williams perdeu totalmente a noção: distorceu os factos e transformou o caso numa questão de sexismo e feminismo. Como seria de esperar, foi fortemente apoiada por um setor social muito específico no seu país, que muito provavelmente nunca viu um encontro de ténis na vida. Williams diz que nunca um homem levou um jogo de penalização por chamar ‘ladrão’ e ‘mentiroso’ a um árbitro. Faltou na sala de conferências um jornalista que lhe perguntasse quantas vezes ela viu um homem chamar tais nomes a Carlos Ramos. Em vez disso, preferiram bater palmas o que, sinceramente, me envergonhou…
O ténis não ficou a ganhar com a final de ontem. Naomi Osaka não merecia que o seu momento se transformasse numa luta feminista alicerçada num exemplo sem qualquer sentido.
PS: Patrick Mouratoglou foi lamentável. Já não basta a falta de ética que é treinar uma jogadora e trabalhar simultaneamente como analista de encontros para um dos maiores canais do Mundo, deu-se à triste figura vista mundialmente na televisão. Fez coaching, assumiu, reclamou da regra e no final ainda foi para as redes sociais arrasar o árbitro português. Nada disto teria acontecido se o francês (que eu até acho ser um ótimo treinador e de importância muito relevante nos últimos seis anos da carreira de Williams) se tivesse comportado dentro das regras.
É pena…
Autor: José Morgado