This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.
Entrevista a Henri Leconte (parte 1): «Todos apostam em Nadal mas eu acho que vai haver uma surpresa»
Henri Leconte, antigo top 5 mundial, é um dos tenistas mais carismáticos de todos os tempos. Numa altura em que se ‘celebram’ 30 anos desde que o gaulês chegou à final de Roland Garros, perdendo com o sueco Mats Wilander — que agora, tal como Leconte, trabalha para o Eurosport — tivemos a oportunidade única de entrevistá-lo: Roland Garros, o momento do ténis mundial, a Taça Davis, o ténis português e, claro, algumas polémicas foram tema de conversa. E as respostas foram tão boas que decidimos dividi-las em partes, a publicar hoje e amanhã.
Bola Amarela: Vamos diretos ao assunto: quem vai ganhar Roland Garros?
Henri Leconte: Bom, acho que todos apostam que Rafael Nadal vai ganhar, mas eu acho que vamos ter uma surpresa. Não sei porquê, mas sinto que o vencedor será surpreendente este ano no quadro masculino. Acho que alguém da nova geração vai finalmente ter a sua chance. Entre as senhoras está tudo muito em aberto, há uma série de jogadoras que podem chegar ao primeiro Grand Slam — como a Karolina Pliskova ou a Caroline Garcia, por exemplo. A Ostapenko foi incrível no ano passado e tentará repetir…
BA: Mas quem tem mais hipóteses de derrotar o Nadal em Paris?
HL: Sem dúvida que o Dominic Thiem, porque conseguiu fazê-lo, e bem, em Madrid. Mas em Roland Garros é mais complicado, por ser à melhor de cinco sets. Nadal é favorito para todos os encontros, mas eu sinto que poderemos ter uma surpresa.
BA: O que pensa da ausência de Federer (outra vez) num torneio tão importante como este?
HL: Eu acho que ele tomou a decisão certa. Se ele quer continuar a aumentar a sua contabilidade de Grand Slams, não deve jogar Roland Garros. Toda a gente está desapontada, mas o foco dele é Wimbledon porque ele sabe que seria muito complicado ter chances de ganhar em Paris.
BA: Fala-se muito da nova geração e de como ela é entusiasmante. A si, entusiasma-o?
HL: Está a melhorar. Os miúdos estão a aparecer, têm qualidade, são comercialmente interessantes e as oportunidades deles vão aparecer. Temos a felicidade de ver agora aparecerem três miúdos como o Alexander Zverev, o Borna Coric ou o Denis Shapovalov, todos totalmente diferentes e com caraterísticas que podem fazer deles grandes craques. Talvez não tenham todos os mesmo potencial mas são muito interessantes.
BA: A verdade é que estamos a meio de 2018 e o topo do ranking ainda balança entre Federer e Nadal. O que é que falta a esta nova geração para dar o salto?
HL: Só precisar de acreditar que é possível e que podem ganhar. Eles trabalham muito, têm talento, mas quando defrontam Federer ou Nadal têm medo deles. Há valores muito bons na nova geração, mas quase todos têm receio quando olham para o outro lado da rede e vêem as lendas que sempre admiraram. E depois há a questão física. Federer — pela forma como tem gerido a carreira — e Nadal ainda estão fortíssimos fisicamente, em forma. Mas o maior problema é mesmo mental. Tens de respeitar os teus adversários fora do court, mas não dentro dele. Lá dentro é para ganhar e por vezes respeitamos demasiado os outros. A mim aconteceu-me isso com o Boris Becker ao longo da minha carreira.
BA: Há algum desses miúdos que o faça relembrar-se de si próprio, da sua geração?
HL: O Denis Shapovalov. É incrível, parece que me estou a ver a mim no court. Ele joga como eu jogava, é muito talentoso e adoro vê-lo. E depois o Alexander Zverev também tem uma personalidade muito forte. Eu sinto que estes miúdos vão ser bons para o ténis, tanto pelo ténis que jogam, que é de grande qualidade, mas também pelas suas personalidades, que acrescentam à modalidade.
BA: E qual deles tem mais hipóteses de ser número um após Roger Federer e Rafael Nadal, que estão a dividir a posição nesta altura?
HL: Sem dúvida que o Zverev. É número três ATP atualmente, por isso só precisa de mais dois passos. Mas nunca sabemos, há outros jogadores de grande nível um pouco mais velhos. Quando Federer e Nadal se retirarem ainda há os outros, de 29 e 30 anos, que querem também brilhar.
BA: E o Novak Djokovic: vai voltar ao seu melhor?
HL: A situação do Novak é mental. Ele precisa de se ligar mentalmente de novo ao ténis. Quando ganhaste 12 títulos do Grand Slam e foste número um é muito complicado começar do zero, passar por tudo de novo. Tens de ter determinação e desfrutar do processo de regresso à competição. Por vezes tenho dúvidas de que o Novak esteja a desfrutar e a divertir-se em court, como o Roger e o Rafa sempre fazem e fizeram nos momentos difíceis em que voltaram a competir. Ele precisa de acreditar e provar a ele próprio que é possível. Ele é um ótimo rapaz e precisa de voltar a ganhar grandes encontros para subir no ranking. Mas ficou claro que, ao contrário de Nadal e Federer, e não conseguiu voltar ao ténis ao mesmo nível depois de uma longa paragem.
BA: Qual foi o maior erro que ele cometeu: mudar a equipa técnica?
HL: O maior erro foi esperar tanto tempo para operar o cotovelo. Acho que conseguia suportar as dores e jogar ténis com aquela lesão. Mas vejam bem o que aconteceu com a anca do Andy Murray. Muitos atletas têm pânico de operações mas há imensos casos de sucesso após cirurgias. Vejam bem a Lindsay Vonn, que já foi operada imensas vezes e volta sempre em grande nível. Quando os atletas têm dores devem livrar-se delas.
BA: Seria boa ideia que Djokovic e Becker se reunissem?
HL: Eles tiveram muito sucesso juntos. Por que não?
BA: E o nosso ténis português, o que acha do nível a que estamos?
HL: O ténis em Portugal está a crescer. João Sousa é um jogador que apareceu nos últimos anos a um nível superior, capaz de ganhar torneios ATP. Talvez para ter um top 20 mundial seja preciso trabalhar ainda mais um pouco mais e melhor, mas Portugal tem vários jogadores de qualidade. O João Sousa é a prova de que quando trabalhas muito podes ser grande. Isso vê-se no seu ténis, na sua carreira. Portugal tem ótimos jogadores de futebol e o ténis também está em crescendo. O exemplo do João Sousa pode fazer outros miúdos ganharem paixão pela modalidade e quererem ser profissionais, como ele.
- Categorias:
- ATP World Tour
- Entrevistas