Tenista que passou o qualifying de Wimbledon surpreende: «Não desejo esta vida a ninguém»

Por José Morgado - Julho 1, 2024
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Maxime Janvier, francês de 27 anos, vai estrear-se no quadro principal de Wimbledon esta semana, depois de ter passado com sucesso a fase de qualificação. E depois de viver um dos momentos mais marcantes da sua vida, o tenista gaulês surpreendeu ao mostrar-se desgostoso… com a vida que tem.

“Se pudesse voltar a começar a minha vida de novo, jamais teria pegado numa raqueta de ténis. O ténis só me dá desgostos e está constantemente e desiludir-me. Se soubesse que ia ser assim no início da minha vida, não me teria dedicado a esta carreira. Não desejo esta vida a ninguém. Há uma falta de estabilidade que é permanente. Num ano podes ser top 50 e no outro estares a 800 do Mundo. Não se pode esperar nada deste desporto. Quando era jovem amava o ténis. Hoje em dia acho uma modalidade injusta”, confessou numa entrevista muito forte e honesta ao jornal ‘L’Equipe’.

Janvier criticou o sistema de wild cards que facilita a vida de alguns jogadores. Há jogadores no top 300 que são melhores do que outros que estão no top 50 mas que simplesmente recebem convites a toda a hora. Alguns jogadores são impedidos de subir na classificação. Há que fazer como o Mpetshi, que teve que vencer dois ou três Challengers e sair-se bem num ATP 250. Quem está no top 50 só precisa vencer uma partida e isso já vale tantos pontos quanto uma final de Challenger. É praticamente impossível chegar ao topo, tudo isso afastou-me do ténis. Se pudesse recomeçar, teria ido para o futebol ou basquetebol”.

E porque não deixa o ténis? “Por causa dos prémios. É muito difícil, porque o dinheiro de um resultado pode mudar completamente a sua vida em três meses se jogares bem. Se não fosse o aspeto financeiro, eu já teria desistido há muito tempo. Claro, jogar Wimbledon, fazer segundas semanas… Prefiro isso a outros trabalhos, por isso continuo. Se daqui a três anos eu estiver a 400 do Mundo, vou dar a mim mesmo três meses para subir novamente no ranking e se não conseguir, vou abandonar. Adoraria ser professor de ténis, em qualquer nível, para transmitir os meus conhecimentos. O que gosto no ténis é que és o teu próprio patrão”.

Janvier chegou a pedir um empréstimo de 50 mil euros para poder continuar a sua carreira. Eu estava falido! Completamente arruinado. Muito stress. Trabalhei 24 horas por dia e terminei o mês com prejuízos de 2.000€ ou 3.000€. Não consegui continuar, foi insuportável, horrível. Nunca mais terei treinador, estou sozinho há dois anos. Muitas despesas, não ganho nada. Sou um tenista com salário mínimo. Se eu parar amanhã, estou no zero. Nunca tive ajuda da minha família nem de ninguém. Há jogadores com rankings piores, mas com patrocinadores. Tentei encontrar patrocinadores, mas ninguém quer apoiar-me.

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Janvier vai defrontar na primeira ronda do quadro principal de Wimbledon o chinês Zhang Zhizhen e o encontro disputa-se já esta segunda-feira, no segundo encontro do court 5. Mesmo que perca… tem garantidos 70 mil euros.

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt