Por que razão as estrelas do ténis têm o seu torneio criptonite?

Por Bola Amarela - Novembro 21, 2024
Novak-Djokovic

O ténis, enquanto modalidade individual, foi sempre um desporto de vários campeões. Os circuitos ATP e WTA são, historicamente, e geração atrás de geração, dominados por conjunto seleto de tenistas de eleição, que se mantém no topo durante vários anos. Longas são as listas de eternos ídolos do ténis, de Roger Federer e Rod Laver a Serena Williams e Steffi Graf. Tenistas que marcaram verdadeiras eras na história do desporto com o domínio absoluto dos principais torneios do circuito, sobretudo dos míticos grand slams.

No entanto, mesmo entre os grandes nomes da bola amarela – tanto os que estão no ativo como os que já penduraram as raquetes – são vários os exemplos dos que sofrem com uma espécie de maldição própria dos gigantes da modalidade: o torneio criptonite. Falamos de casos de jogadores e jogadoras que ganharam tudo no mundo do ténis, que ergueram a taça várias vezes nos Grand Slams e nos torneios mais difíceis do circuito, mas que, por uma razão ou outra, nunca conseguiram vencer um determinado torneio. Anos e anos de tentativas, com poucas ou até mesmo nenhuma vitória.

Neste artigo, analisaremos as principais razões por detrás destes fenómenos, que não são tão raros quanto aparentam à primeira vista. Existem inúmeros casos famosos, que também mencionaremos aqui, que parecem quase sem explicação para atletas de exceção. No fundo, tentaremos perceber por que motivo jogadores no topo das suas carreiras claudicam quase sempre no mesmo torneio, ao ponto de qualquer plataforma de 1 real de apostas online fazer refletir isso nas suas probabilidades de vitória na competição.

Os casos

Se lhe dissermos que Novak Djokovic, o jogador com mais Grand Slams de sempre, 24, só ganhou Roland Garros, o Open de França, três vezes em dezanove tentativas, parece mentira, certo? O mesmo acontece com Nadal, um dos melhores de sempre e detentor de 22 grandes troféus do ténis, que venceu apenas por duas vezes na Austrália, em 18 tentativas. Mas há pior: recuando no tempo, sabemos que Pete Sampras, vencedor de uns incríveis 14 Grand Slams, nunca triunfou no pó de Roland Garros. E que Ivan Handl, vencedor de oito, claudicou sempre em Wimbledon, não tendo vencido nunca o torneio britânico.

No ténis feminino, existem histórias muito semelhantes para contar. Venus Williams, ex-líder do ranking mundial e detentora de sete Grand Slams, nunca venceu nem Roland Garros nem o Australia Open. Justine Henin (também com 7), também nunca venceu em Wimbedon, tendo mesmo perdido duas finais. Victoria Azarenka (2), ex-número 1 do ranking, perdeu umas incríveis três finais do US Open sem nunca ter conseguido vencer o torneio. A estrela dos anos 90 e também ex-número 1 Monica Seles (8) nunca venceu Wimbledon.

 

As causas

Podíamos continuar a enunciar exemplos. Mas procuremos antes as causas destes calcanhares de Aquiles dos maiores nomes do ténis.

A principal razão, não há como o esconder, é o tipo de piso. Sabemos que o mesmo desporto se transforma e pode ser jogado de forma completamente de acordo com a superfície em que se disputa o encontro. A rapidez artística da relva, a exigência física da terra batida e o equilíbrio ponderado do piso duro favorecem tipos diferentes de jogadores e cada um tem a sua superfície favorita, a que melhor se adapta às suas características técnicas e físicas. Assim se explica que Nadal possua apenas cinco títulos em piso duro em 22 e que 14 deles sejam em terra batida.

Outro dos fatores que provocam este fenómeno é a questão do calendário, do encadeamento de jogos e do planeamento da época. A temporada dos tenistas de elite é planeada, muitas vezes, a pensar nos Grand Slams. Por vezes, são mesmo centradas num torneio em concreto. Por isso, é normal que os torneios antes e após essa grande competição, ou competições, não corram de feição aos jogadores. Um jogador que aposte tudo no pó de tijolo do Philippe-Chatrier, dificilmente chegará à relva do All-England Club, a apenas algumas semanas de distância, na melhor das formas. Além disso, certos jogadores acumulam mais desgaste que outros e podem chegar à época do seu torneio criptonite já bastante cansados.

Por fim, uma explicação curiosa, mas mais poderosa do que se podia pensar à partida: a pressão de acabar com o mito. Estes casos que aqui referimos são referidos pela imprensa, pelos adversários, pelos peritos e pelos adeptos. Torna-se mesmo um tópico de conversa no mundo do ténis, criando uma enorme pressão nos jogadores, mesmo nos que já ganharam tudo, para dar o máximo para vencer o torneio que lhes foge há anos. Isso resulta, não raras vezes, num excesso de vontade, voluntarismo e autocrítica que afeta, e de sobremaneira, o seu rendimento. Desta forma, prejudicam as suas hipóteses de triunfar, acabam por prolongar a seca de títulos e alimentam o mito, num ciclo, muitas vezes, perpétuo.