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Para Ana Ivanovic, a solução foi sempre nunca parar de sorrir
Todas as crianças e jovens têm um momento na sua vida em que idolatram algo. Um cantor, um ator, um jogador de futebol ou até um personagem de ficção. Gostar irracionalmente de alguém sem na verdade o conhecer pessoalmente é um processo difícil de explicar, mas comum a muitas das pessoas que provavelmente neste momento estão a ler este texto.
Comecei a ver ténis aos 9 anos e, na verdade, os meus primeiros tenistas favoritos até foram o Gustavo Kuerten e a Jennifer Capriati, depois das suas emocionantes vitórias na edição de 2001 de Roland Garros, o primeiro torneio que me lembro de assistir de forma atenta e emocionada. O desaparecimento dos dois da cena competitiva fez o meu eu pré-adolescente perder o entusiasmo pelo desporto da bola amarela, até que um dia, em novembro de 2004, vi jogar pela primeira vez uma rapariga sérvia de 16 anos, com uns quilos a mais, que tinha uma direita de fazer inveja à maioria das jogadoras de topo.
De aparelho nos dentes e ainda longe de se tornar no símbolo de sensualidade que é hoje em dia, Ana Ivanovic derrotou a então top 20 Tatjana Golovin na primeira ronda do torneio de Zurique e no dia a seguir só perdeu em dois tiebreaks com, imagine-se, Venus Williams. Esses foram os primeiros dois encontro que vi de Ana Ivanovic. Dois… de centenas. Literalmente.
Momentos marcantes… foram muitos. O primeiro título em Camberra, em 2005, onde derrotou duas vezes na mesma semana a húngara Melinda Czink (no qualifying e depois na final!), a vitória sobre a então número um mundial Amélie Mauresmo em Roland Garros, o primeiro grande título em Montreál 2006, atropelando Martina Hingis na final rumo à vitória na US Open Series, a épica caminhada rumo à primeira final de Grand Slam, em Roland Garros 2007, a final do Australian Open 2008 e, claro, o título em Paris em maio desse ano, depois de dois dias antes ter confirmado a subida ao topo do ranking mundial.
Aos 20 anos, Ana Ivanovic subiu ao topo do Mundo e não soube lidar com isso. Demorou anos a saber viver na própria pele, mas nunca desistiu e seis anos depois voltou ao topo do ranking mundial para em 2014 terminar o ano no top 5 WTA como a jogadora com mais vitórias dessa temporada. Aos 26 anos, Ivanovic alcançou a primeira vitória de carreira sobre Serena Williams, venceu quatro títulos e encontrou o namorado que se tornaria marido – Bastian Schweinsteiger. A sua carreira parecia ter ainda muito mais anos de qualidade para oferecer, mas 2014 acabou por ser a sua última grande época. Tóquio, em setembro desse ano, o último título.
A Ana Ivanovic é a maior responsável pelo gosto que tenho pelo ténis e por consequência a grande responsável por escrever há oito anos no Bola Amarela. O gosto por esta modalidade, aliado ao desejo que sempre tive de ser jornalista, levou-me a ter a oportunidade de entrevistá-la, em Madrid deste ano, para poder comprovar pessoalmente a impressão que tinha da sérvia enquanto mero espectador: Ivanovic é, para além de uma das mulheres mais bonitas que já vi na minha vida (o que, garanto, foi totalmente acessório para que aos 12 anos se tornasse na minha tenista preferida), uma das pessoas mais acessíveis, graciosas e simpáticas com quem já conversei. Muito raro, não só para uma desportista profissional, como para uma das desportistas femininas mais ricas (e desejadas) da história.
Não me surpreendeu por isso a quantidade impressionante de mensagens que a sérvia recebeu durante as últimas horas reforçando exatamente aquilo que aqui escrevi sobre Ana Ivanovic, a pessoa. Sobre a tenista, muita coisa haveria mais a dizer. O talento da sérvia teria sido condizente com um currículo muito melhor, mas nunca ninguém lhe poderá retirar o estatuto de campeã de Grand Slam e número um mundial. Ivanovic pode não ter concretizado todos os seus sonhos, mas tem no seu palmarés tudo aquilo que todas as meninas sonham quando começam a jogar. Isso e a admiração de milhões de pessoas.
O que sinto hoje é um vazio grande difícil de explicar. Aqueles que já viram os seus primeiros grandes ídolos retirarem-se (ou por fatalidade morrerem) compreenderão. Apesar de tudo… Obrigado, Ana. Foram 13 anos turbulentos, mas valeram a pena. Sempre sem deixar de sorrir. Até ao último dia.
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