O que é preciso para se ser Roger Federer? Suíço regressa às origens e revela detalhes inéditos

Por Nuno Chaves - Novembro 10, 2020

Para se ser Roger Federer é necessário trabalhar – de que maneira – mas o que é preciso fazer ao certo? O suíço, numa reportagem à BecomingX, recuou no tempo para explicar todo o processo até se tornar num dos melhores jogadores de todos os tempos.

A viagem começou quando Federer ainda não jogava ténis. “Na Suíça a educação vem sempre em primeiro. O desporto não era uma maneira de viver mas lembro-me de jogar badminton, ténis de mesa ou ténis no pátio da casa dos meus amigos e dizia: ‘E o vencedor de Wimbledon é… Roger Federer!’. Atirava-me de joelhos e fazia como se estivesse a levantar o troféu. Desde pequeno que sonhava em ganhar Wimbledon”, começou por dizer.

Federer começou a explicar como chegou o processo de escolher o ténis. “Jogava contra a parede, jogava pares com os meus pais, jogava pares com os meus amigos. Foi então que dei conta de que o ténis era muito mais do que simplesmente bater numa bola. Também jogava futebol em pequeno. Desfrutava. Mas chegou um momento onde tive de tomar uma decisão: futebol ou ténis. Hoje agradeço por ter elegido o ténis”, admitiu.

O campeoníssimo escolheu o ténis mas, ao princípio, as coisas estiveram longe de ser fáceis. “O primeiro jogo de ténis que fiz perdi 6-0 e 6-0. Ouvi algumas pessoas da federação local a dizer que se calhar não era tão bom como eles pensavam que era. Continuei a treinar no duro e comecei a jogar mais torneios  e a ter mais êxito como júnior, pelo menos na minha zona. A nível nacional, fui campeão da Suíça júnior quando tinha 12 anos. Recordo-me do dia em que antes de ir, escrevi na parede: ‘O campeão júnior da Suíça esteve aqui'”.

Aos 14 anos, Federer tomou uma decisão importante. Saiu de casa e foi para o Centro Nacional de Ténis, na Lausana, na Suíça. O objetivo era claro: dar mais um passo rumo a tornar-se profissional. “Ficava de segunda a sexta em casa de uma família muito boa e aos fins de semana ia para a minha. Senti muita falta da minha casa nos primeiros nove meses. Os resultados não apareciam. Faltava-me confiança. Nem sequer falava francês e custava-me tudo um pouco. Até que os resultados começaram a chegar e comecei a sentir-me melhor. Foi, sem dúvida, um duro caminho. Diria que foram os dois anos (14 aos 16) que mais influência tiveram na minha vida”, revelou.

Aos 16 anos, a vida de Federer começou a ter um novo rumo. Surgiu Peter Carter, que se iria tornar numa das pessoas mais importantes da vida do helvético. O treinador levou o agora tenista de 39 anos ao circuito mundial, no entanto, em 2002, Federer viveu um dos momentos mais difíceis da sua vida quando teve conhecimento do falecimento do seu técnico (a reação de Federer numa entrevista recente diz tudo).

“O Peter faleceu num trágico acidente de carro durante a sua lua de mel na África do Sul. Essa era uma viagem que tanto eu como a minha família dissemos que vamos fazer um dia. Fiquei totalmente destroçado. De certa forma, foi como se tivesse despertado algo em mim e pensei: ‘Vou levar o ténis de uma forma séria e vou potencializar ao máximo o meu potencial’. Não queria ser recordado como um talento desaproveitado. Nunca vou esquecer o que ele passou e vou ter saudades dele para sempre”, disse.

O que é certo é que Federer começou a abrir o livro, conquistou Wimbledon em 2003, tornou-se número um do mundo em 2004 e, como se costuma dizer… o resto é história. “Não sei porque tive tanto sucesso. Ganhar 20 Grand Slams não é o objetivo de ninguém. Na Suíça, no meu mundo, ninguém esperava ser número um. Não se sonha ter algo tão grande porque não é algo que acontece de forma fácil ou rápida. Se sentes paixão pelo que fazes, se continuas a lutar, crescer, se és positivo, se te rodeias das pessoas certas, vais conseguir ser uma estrela”, concluiu.

Jornalista na TVI; Licenciado em Ciências da Comunicação na UAL; Ténis sempre, mas sempre em primeiro lugar.