Nuno Borges: «Vitória de sonho? Central de Wimbledon contra o Roger»

Por José Morgado - Agosto 7, 2020

Nuno Borges, campeão nacional de ténis e a grande figura do circuito sénior da Federação Portuguesa organizado no último mês, foi um dos últimos convidados do podcast do ‘Record’, onde falou um pouco sobre tudo: a experiência nos Estados Unidos, as questões raciais e, claro, as ambições para a sua carreira profissional que está agora a começar.

O maiato admite que os últimos meses não foram fáceis, mas revela que até gostou de passar mais tempo em casa. “Não tinha onde poder treinar ao início, depois mais tarde comecei a treinar com o João Monteiro. Com algumas restrições inacreditáveis. Mas até não desgostei. Passei tanto tempo fora de casa nos últimos anos que até senti o prazer de passar algum tempo com eles.”

Borges considera que o nível consistente apresentado ao longo das semanas é um indicador mais positivo do que propriamente a vitória diante de João Sousa em Vale do Lobo. “Na altura não achei que o encontro com o João Sousa fosse o meu melhor. No final das quatro semanas estava a jogar melhor. Mas fiquei contente por estar a jogar tão bem tão cedo depois do regresso pós-pandemia. Prova que estou pronto para o circuito, para competir e passar ao próximo patamar. Traz muita confiança.”

Nuno não se arrepende da decisão que tomou quando aos 18 anos decidiu ir para o circuito universitário norte-americano. “Quando tinha 18 anos achei que não tinha nível nem estava pronto para o circuito. Não é fácil em termos físicos e mentais. Os Futures que joguei na altura não tinham nada a ver com os juniores. Achei que o convite que tive era bom demais para recusar e não sou assim tão velho para ser profissional. Vou bem a tempo.”

O jovem português lembra os tempos em que era número um do circuito universitário. “Na minha universidade toda a gente me felicitava por ser o número 1 da ITA. Nunca me senti olhado de forma diferente por ser estrangeiro. Tínhamos uma comunidade muito próxima, sempre foi muito especial e fui muito bem recebido. Alguns dos fãs nem deviam saber de onde é que eu era. A única diferença seria que se eu tivesse vencido os campeonatos (perdeu na final) e fosse americano teria tido entrada no US Open. Talvez essa oportunidade devesse ser dada a todos.”

Um dos episódios mais caricatos da Universidade transportou-o para um fim-de-semana em que esteve doente. “Lembro-me de um colega sueco que era muito distraído. Houve uma vez que fiquei doente numa quinta-feira à tarde, sexta-feira fiquei cheio de febre e ainda joguei muito bem, no dia a seguir quase não me conseguia mexer e estava a treinar com esse sueco, mas ele queria jogar pontos e não reparou que eu não estava bem. Eu fiz esse esforço e ele disse-me na altura que tinha feito o melhor treino do semestre. O treinador teve de lhe explicar que eu estava doente.”

Borges acredita que pode chegar ao top 100 mas considera estar ainda muito longe desse objetivo. “Gostava muito de chegar ao top 100 e depois onde o João Sousa chegou, mas acho que estou tão longe disso que tenho de pensar passo a passo e não nesses objetivos e sonhos. Ambiciono um dia poder ser top 100, quem sabe top 50. Não vou colocar limites a mim próprio.”

O português falou ainda de um dos temas mais quentes do momento nos Estados Unidos: o racismo. “O típico habitante de Mississipi é negro e o tópico do racismo está muito presente lá. Em termos de trabalho, têm menos oportunidades, recebem menos e trazem esses temas, mas o distanciamento tem mais a ver com questões culturais do que pelo facto de não gostarem uns dos outros. Há maneiras de falar, gostos e roupas diferentes. É mais aí que se cria o distanciamento. Com estas questões mais recentes alteraram a bandeira do Mississipi, que ainda fazia referência à escravatura. Eu lá não tinha muito essa noção, mas sempre foi um assunto controverso.”

E qual a sua vitória de sonho? “Central de Wimbledon contra o Roger. Esse seria o sonho de muitos e algo que eu lembraria para o resto da minha vida. Só jogar com ele já seria um sonho tornado realidade”.

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt