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Illia, o gigante sorridente nascido na Ucrânia que tem ‘refugiados’ a viver em casa: «Estamos a tentar ajudar»
Chegou a Portugal, da Ucrânia, com apenas 9 anos e não demorou muito tempo até procurar uma modalidade desportiva com a qual se ocupar. Com quase menos um metro do que os 2,07 que tem agora, Illia Stoliar escolheu o ténis — incentivado pelo tio Igor, um fã e praticante da modalidade — e fê-lo em boa hora. É verdade que só começou a levar a modalidade mais a sério muitos anos mais tarde — talvez tarde demais para perseguir muitos dos seus sonhos –, mas o sorriso que trazia no rosto quando se sentou para a conferência de imprensa pós-encontro no Oeiras Open I não enganava: tinha acabado de jogar o torneio mais importante da sua vida, aos 22 anos.
Depois de cinco semanas a competir em piso rápido, em ITFs algarvios, Stoliar não contava com o convite para o primeiro Challenger de 2022 em solo português. “Não estava à espera de jogar este torneio. No sábado treinei à hora de almoço em piso rápido e depois fui dormir a sesta. Ligaram-me a acordar e era a Neuza Silva a dizer-me que tinha um wild card. Aceitei logo, claro. Foi uma experiência incrível porque isto é outro nível. É um bom estímulo para tentar chegar cá. O meu encontro deixou a desejar”, confessou o jovem que já há muito se naturalizou português e que este domingo não resistiu ao italiano Francesco Forti, que venceu por 6-1 e 6-1.
Illia não esconde que acusou a pressão do momento. “Estava muito descontraído antes do encontro, mas depois fiquei muito nervoso do nada. Foi estranho. Caiu-me muito em cima a ocasião, senti muita pressão mas depois foi aliviando. No segundo set já me senti mais tranquilo e agarrei-me um pouco mais ao jogo. Não treinava em terra batida há três meses e não competia há imenso tempo. É uma superfície que não é tão boa para o meu ténis, mas vou tentar jogar o da próxima semana.”
Com 2,07 metros, Stoliar é o jogador mais alto que Portugal já teve, pelo que não surpreende que se inspire nos melhores do Mundo… da sua altura. “Vejo muito o Opelka e o Isner porque jogam um tipo de jogo diferente de todos os outros. E isso é importante para mim. Tento tirar algumas das coisas que eles fazem bem para o meu jogo.”
Em Portugal há muitos anos mas com imensa família na Ucrânia, Stoliar tem vivido semanas difíceis ao acompanhar, ainda que de longe, a invasão da Rússia ao seu país de nascimento. “Agradeço que me perguntem sobre isso porque quanto mais pessoas falarem desse assunto mais tempo as atenções se mantém sobre aquilo que se passa lá. Nasci na Ucrânia, vim para Portugal com 9 anos, naturalizei-me e não vou lá há muitos anos mas tenho lá muita família e é terrível o que se está a passar por lá. Custou-me a acreditar inicialmente porque da última vez que fui à Ucrânia senti que havia uma relação amigável entre ucranianos e russos. Tentei perceber como poderia ajudar e uma parte da minha família conseguiu sair de lá e outra fica. Neste momento, em minha casa, tenho quatro pessoas que conseguiram sair de lá e estamos a ajudá-los”, contou-nos Illia, que é originalmente de Kherson, cidade já há muito controlada pelos russos, e tem muita família em Zaporizhzhya, um dos pontos mais fortes do conflito.
O jovem que vive e treina em Alverca, no AHEAD CT, confessou que inicialmente não foi fácil focar-se no ténis. “Era difícil porque ao início estava sempre a pensar nisso, a ir ao telemóvel ver notícias e tudo isso. Agora já consigo focar-me no meu dia a dia com maiores facilidades”.
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