Há oito anos, a terra batida de Madrid virou… azul, Djokovic e Nadal ameaçaram boicotar

Por José Morgado - Maio 13, 2020
Madrid

Ion Tiriac, milionário romeno que é o dono do torneio de Madrid, adora inovar e tem-no provado com o seu torneio: os troféus, os apanha-bolas manequins, as exposições de arte no interior do recinto e até… a terra batida azul. Em 2012, a superfície mudou de cor a meio da temporada de terra, gerando enorme desconforto entre a grande maioria dos jogadores. Rafael Nadal, eliminado nos oitavos-de-final, e Novak Djokovic, nos ‘quartos’, ameaçaram nunca mais voltar, depois de considerarem a superfície perigosa. Roger Federer e Serena Williams foram quem melhor se adaptou e arrecadaram o título.

Janko Tipsarevic, sérvio que derrotou Djokovic e só perdeu com Federer nas meias-finais, lembrou aquilo que todos pensaram quando souberam que a superfície ia mudar de cor, em declarações ao ‘The Tennis Podcast”. “Para todos, incluindo para mim, o pensamento inicial não foi muito positivo. Para aí 90 por cento dos jogadores achava estranho jogar em terra batida normal, depois passar para uma semana de competição em terra azul e jogar o resto da época em terra normal. Mas depois, quando eu ouvi mais sobre isso e que a única diferença ia apenas ser a cor, fiquei mais calmo. Era assim que estava antes de chegar lá.”

O antigo top 10 não tinha ilusões de que a terra batida de Madrid viesse a ser exatamente igual às outras. Até… porque nunca é. “A terra batida de Madrid não tem nada a ver com Roma, Monte Carlo ou Paris. Por isso a minha preocupação não tinha a ver com isso. O meu medo era a questão visual, achei que seria estranho meter uma superfície totalmente diferente a meio da época de terra.”

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O papel de Tiriac neste processo foi naturalmente decisivo. “O Ion Tiriac é um dos homens de negócios mais bem sucedidos do Mundo. Para ele, mudar a cor da terra batida é perfeitamente normal para ele. Azul é uma cor ótima para o ténis, sabemos que muitos courts de piso rápido utilizam essa cor. Os jogadores de ténis mais velhos são um pouco contra a inovação. Os mais novos não. Eu pessoalmente sou totalmente a favor da mudança. Precisamos de evoluir, mas os jogadores mais velhos são muito resistentes a essa mudança.”

Tipsarevic, sem surpresas, ficou fã da terra batida azul, mas lembra que era muito difícil defender e foi isso que irritou Djokovic e Nadal. “Eu gostei da terra batida azul imediatamente. Era muito rápida. A terra batida não é a minha superfície favorita, mas em terra azul eu poderia utilizar o meu ténis mais agressivo. Não dava para defender nesta superfície. Ganhei sets de treino ao Rafa. E isso causou problema a muitos jogadores. Era um pouco escorregadio e isso causou dificuldades a muitos jogadores. O Nadal e o Djokovic não gostaram e a ameaçaram que não jogariam no ano seguinte caso a terra se mantivesse assim. A defesa é uma das principais armas daqueles jogadores. Jogadores mais agressivos gostaram porque era difícil defender.”

O sérvio lembra que Rafa Nadal colocou muita pressão na organização por não se ter conseguido adaptar às condições de jogo. “O Nadal não se calava com a questão da superfície, dizia que era perigosa, escorregadia. E tinha razão. Mas houve quem fosse capaz de adaptar-se. Outros não conseguiram fazê-lo.”

A vitória diante de Djokovic ficou na sua cabeça… mas não só. “Fiquei mais orgulhoso de bater o Gilles Simon do que derrotar o Djokovic na ronda anterior. Nunca lhe tinha ganho um set antes dessa semana. Significou bastante para mim na altura. Vou lembrar a vitória diante do Djokovic para o resto da minha vida claro. Nós somos amigos e eu sei que ele não gostou da superfície. “

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E por que razão é que Roger Federer conseguiu jogar tão bem na terra batida azul? “Ele percebeu que tinha ali uma oportunidade. Ele é um dos jogadores mais agressivos da história, a sua variedade ofensiva é incrível. Ele utilizou tudo aquilo que tem no seu arsenal e resultou. Foi por isso que ganhou: foi agressivo e foi mudando o ritmo.”

Janko Tipsarevic gostava de voltar a ver a terra batida no circuito, até porque se chegou à conclusão que o que tornava o piso escorregadio não era a cor. “Adoraria ter voltado a jogar em terra azul, mas houve mais jogadores que não gostaram do que aqueles que gostaram. Quando o Nadal diz que não joga, eles não tiveram escolha. Mas o que eu ouvi dizer foi que o problema de a terra ser escorregadia não teve nada a ver com a cor, mas sim com a forma como o court foi feito. Havia terra batida a menos nos courts. Mas os jogadores reclamaram e não acreditam. Em qualquer desporto, se a grande maioria dos jogadores não gosta de uma determinada coisa, a organização é obrigada a alterar. Especialmente se for uma novidade.”

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com