Ex-número 1 de juniores revela propostas para perder de propósito: «A maioria dos que o fazem não são apanhados»

Por José Morgado - Dezembro 26, 2023
peliwo

O assédio dos apostadores aos jogadores não é novidade e tem como alvo principal tenistas de ranking mais baixo. Uma das histórias mais recentes foi contada pelo polaco Filip Peliwo, atual número 463 ATP e antigo número um mundial de juniores quando ainda representava o Canadá, que revelou ter recebido uma proposta de até 5 mil euros para perder um encontro. O tenista assegura que não aceitou, mas que há outros atletas que acabam por não resistir às ofertas.

“Estou convencido de que há jogadores que ganham a vida a entregar encontros. Há jogadores que ganham muito mais dessa fora do que conseguem nos torneios da ITF. É da natureza humana às vezes entrarmos por atalhos. Eles tentaram encorajar-me pelo facto de outros jogadores do top 600 fazerem isso e acho que também há casos assim nos Challengers. Claro que não tenho 100% de certeza, mas ficaria muito surpreendido se não estivesse certo daquilo que estou a dizer”, disse o jogador de 29 anos em entrevista ao ‘TVP Sport’, da Polônia.

Embora nunca tenha recebido pessoalmente uma oferta para manipular resultados, Peliwo admitiu que já foi sondado por empresas que intermedeiam esse tipo de atividade ilícita em canais como o Instagram e o WhatsApp. “Nunca houve quem viesse até mim e dissesse que me pagaria por ganhar ou perder, mas já aconteceu diversas vezes pedirem-me para manipular resultados na internet. No Instagram, recebi uma oferta para cooperar com uma empresa britânica. Tudo parecia bastante legítimo, a conta tinha cerca de 25 mil seguidores, eles estavam muito bem preparados. Muitas vezes recebemos ofertas estranhas de patrocínios, mas rapidamente fica claro que se trata de algum tipo de ‘bot’ ou golpe. Dessa vez foi diferente e pensei que talvez conseguisse algum desconto em ténis ou equipamentos, então concordei inicialmente. A conversa foi para o Whatsapp e lá recebi imediatamente uma oferta para perder partidas de propósito. Os valores iam entre os 3 mil e 5 mil euros por encontro”, revelou o atleta, que rapidamente relatou o caso ao diretor do torneio e à Unidade de Integridade do Ténis.

Ainda segundo Peliwo, é possível identificar quando um jogador está envolvido com esquemas de apostas ou não e acredita que uma percentagem muito pequena de atletas é descoberta e punida por manipular resultados em court. “Há definitivamente situações em que olhas para um encontro e pensas que algo estranho está a acontecer. Nunca temos 100% de certeza, mas muitas vezes suspeitamos de algo. É difícil de dizer, mas está claro que poucos jogadores são apanhados. Se eu tivesse que responder, diria que está entre 10% e 20% a percentagem de pessoas que é apanhada, mas isso é um palpite meu”, afirmou.

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt