Entrevista com a heróica Laura Pigossi [parte I]: «Bronze olímpico? Ainda vou ter muito mais conquistas!»
Laura Pigossi viveu um sonho só pelo simples facto de ter entrado nos Jogos Olímpicos. A brasileira de 27 anos juntou-se a Luisa Stefani e foram as últimas com lugar no quadro principal de pares, mas a história tornou-se muito mais especial, já que acabaram por fazer história ao conquistarem a primeira medalha olímpica no ténis canarinho. Na primeira parte desta entrevista ao Bola Amarela, Pigossi recorda um ano memorável em que acabou como 193.º do ranking WTA em singulares e 163.º em pares.
BOLA AMARELA – Imagine que há um ano lhe diziam assim antes do Natal: ‘Laura, você vai acabar 2021 no top 200 de singulares e pares e, imagine só, vai ganhar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos com a Luisa’. O que é que respondia?
LAURA PIGOSSI – Se alguém falasse isso antes do Natal, provavelmente ia dar pulos de alegria. Não sei se ia acreditar. Óbvio que uma medalha olímpica é algo que sempre sonhei desde pequena, mas na minha cabeça estava muito longe. O cut-off é 80 do mundo entre as duas duplas e só o meu ranking era 190. Era algo que sempre sonhei, mas que ao mesmo tempo estava longe da minha realidade.
BA – E agora digo eu: ‘Laura, você vai acabar 2022 no top 100 e ganhar um torneio WTA, não interessa se em pares ou singulares’. O que é que me diz?
LP – Iria dizer que acredito e que sonho com isso também! Depois destas Olimpíadas, o que mais estou a fazer é a sonhar e acreditar que posso. Não dá para ficar a planear tudo o que queres, tens de viver dia a dia sem expectativas, mas a acreditar que podes fazer qualquer coisa. Eu acredito!
BA – Foi de facto um ano maravilhoso. Um dia quando olhar para a sua vida, vai pensar que há um antes de 2021 e um depois de 2021?
LP – Com certeza! 2021 foi um ano marcante na minha vida. Mas acho que toda a minha trajetória foi muito importante para chegar a este momento e estar preparada. Ser a última a entrar nas Olimpíadas e conseguir uma medalha foi algo que fez a diferença. Daqui para a frente ainda vai haver muitas mais conquistas e muitos mais sonhos realizados.
BA – Foi difícil descer à terra e ligar a ficha de novo depois de ganhar o bronze nos Jogos Olímpicos? Ou foi fácil por querer alcançar muito mais coisas e ter ficado ainda com mais confiança?
LP – Depois das Olimpíadas, eu saí do melhor torneio desportivo do Mundo e fui jogar um 25 mil dólares em Vigo. A minha parceira foi jogar um WTA 1000. As nossas realidades eram muito diferentes e para mim foi um pouco difícil assimilar tudo isso. Joguei e ganhei às melhores do Mundo, e comecei a pressionar-me muito nesses torneios mais pequenos. Só pensava em querer ganhar e não pensava em jogar. Foi bem difícil para mim. O meu treinador, como já passou por muitas situações, conseguiu guiar-me nesse momento que foi mais duro para mim. Fez-me entender que por mais que eu tivesse feito algo grandioso, ninguém o ia ter, mas que no momento era 300 do mundo, tinha de aceitar isso e lutar em cada jogo da mesma forma que tinha feito nas Olimpíadas. Essa foi uma grande virada de chave para poder ter este final de ano tão maravilhoso e alcançar o meu melhor ranking.
BA – A sua dupla com a Luisa foi a última a entrar no torneio de duplas lá em Tóquio. Como é que foi saber a notícia e arranjar tudo para viajar neste mundo louco de hoje?
LP – Descobrimos na última hora e foi tudo bem difícil. Tivemos de fazer um monte de PCRs e consegui certificado japonês tudo na última hora. Foi muito complicado mas graças a Deus temos uma equipa incrível. O Comité Olímpico também nos ajudou muito. Tínhamos entrado nas Olimpíadas e era uma oportunidade sensacional, então estávamos preocupadas em resolver todas as situações da melhor maneira possível.