Entrevista a Henri Leconte (parte 2): «Os jogadores franceses têm medo e estão sempre a arranjar desculpas!»
Henri Leconte, antigo top 5 mundial, é um dos tenistas mais carismáticos de todos os tempos. Numa altura em que se ‘celebram’ 30 anos desde que o gaulês chegou à final de Roland Garros, perdendo com o sueco Mats Wilander — que agora, tal como Leconte, trabalha para o Eurosport — tivemos a oportunidade única de entrevistá-lo: Roland Garros, o momento do ténis mundial, a Taça Davis, o ténis português e, claro, algumas polémicas foram tema de conversa. Recorde aqui a PRIMEIRA PARTE.
Bola Amarela: Faz agora 30 anos desde a sua final de 1988 com Mats Wilander. O que teria feito de diferente?
Henri Leconte: Teria vencido! Não se pode mudar nada. Passaram 30 anos e eu perdi o encontro. Nunca tive uma segunda oportunidade para ganhar um Grand Slam, mas tive a chance de ganhar a Taça Davis e isso foi um grande momento para mim. Não mudaria nada. O que se passo faz parte da minha história, da minha vida. É claro que agora, do alto dos meus 55 anos, posso dizer ‘devia ter feito isto, devia ter feito aquilo’. Infelizmente continuo a ser o último francês a ter chegado à final masculina em Roland Garros, o que é inacreditável. Precisamos de um novo!
BA: De facto já passaram 30 anos desde que tivemos um francês na final masculina. O que se passa com o ténis francês?
HL: Eles têm medo e não treinam tanto em terra batida como nós treinávamos. Têm medo de jogar em Roland Garros e estão sempre a reclamar, a arranjar desculpas. É uma pena, porque esta geração de ténis francês tem imenso potencial. Mas a pressão tem sido muita para eles. No ano passado, o Pouille só ganhou um encontro. Pode ser que este ano lhe corra melhor, mas duvido que tenhamos algum jogador francês na segunda semana. Já seria bom…
BA: Quem tem mais chances de ir longe entre os franceses na sua opinião?
HL: Com o Jo-Wilfried Tsonga fora… aposto no Richard Gasquet, mas tem de estar saudável.
BA: A verdade é que França é o país com mais jogadores no top 100. É um caso de quantidade em vez de qualidade?
HL: A Federação francesa cometeu o erro de se preocupar com a quantidade em vez da qualidade. Temos de olhar também um pouco para os outros: para os americanos, para os australianos. Mas em França achamos que somos os melhores do Mundo em tudo. Continuamos a ser os mais organizados, os mais estruturados, mas não somos os melhores. Porquê? Porque não ganhamos. Estamos a ir na direção errada.
BA: Como é que nunca lhe passou pela cabeça treinar alguém?
HL: Porque nunca descobri ninguém tão louco quanto eu! Na verdade eu já treinei alguns jogadores durante algum tempo, mas nunca um dos melhores do Mundo. Se alguém quiser trabalhar comigo vai ter de estar pronto para trabalhar duro. E serei sempre honesto, vou dizer-lhe coisas que ele não vai gostar de ouvir. Em França temos grandes jogadores, mas eles não passam daquilo porque tomam decisões erradas nos treinos. Eu não sou alguém politicamente correto…
“Ninguém quer saber da tradição, o que manda é o dinheiro”
BA: Como vê as mudanças na Taça Davis?
HL: Sou pela tradição e acho que a Taça Davis deveria manter o formato atual, com as eliminatórias a serem disputadas nos países. Mas hoje em dia o que interessa é o negócio e o que manda é o dinheiro. Ninguém quer saber da tradição.
BA: E como vê as novas negras que o ATP está a tentar implementar — por exemplo — nas Next Gen Finals?
HL: Precisamos de coisas novas. Os encontros vão tendencialmente ficar mais curtos porque estamos num Mundo onde estão a aparecer cada vez mais desportos espetaculares. Fico frustrado quando vejo um jogador perder tanto tempo entre serviços. E os Medical Time Outs… por favor! Não podem ser utilizados a toda a hora.É terrível. As pessoas querem é ver ténis e não se interessam pelas porcarias à volta…
Temas soltos…
Serena Williams. “Penso que ela não estará em condições de ganhar o torneio e só vai decidir se joga em cima da hora. Mas duvido que lute pela vitória. Ela sempre precisou de estar ao seu melhor nível para ganhar em terra batida, porque não é a sua melhor superfície…”
Maria Sharapova. “Foi bom para ela não receber o wild card no ano passado. A decisão foi a que foi mas acho que vê-la voltar a este torneio por mérito próprio é bom para o torneio e bom para ela.”
Grigor Dimitrov: “É um dos jogadores que eu gostaria de ajudar. Adoro vê-lo jogar mas tentaria mudar alguns aspetos do seu jogo. Ele já provou a todos que pode ganhar aos melhores do Mundo mas para ganhar um Grand Slam terá de ir um pouco mais longe e mudar algumas coisas”.