O campeão de 24 títulos do Grand Slam costuma conceder entrevistas profundas e cheias de reflexões interessantes, fruto da sua maturidade e das experiências que viveu, tanto dentro como fora dos courts de ténis.
Novak Djokovic encerrou o ano de 2025 com o título número 101 no ATP de Atenas, demonstrando mais uma vez a sua fome competitiva e a sua paixão pelo ténis. E confirmou-o numa entrevista a Piers Morgan, que lhe pediu desculpa pelas palavras polémicas proferidas após a deportação de Djokovic da Austrália em 2022.
Ultrapassado esse episódio, o sérvio abriu-se e foi muito sincero sobre a sua situação atual e a distância que o separa de Carlos Alcaraz e Jannik Sinner.
SER O MELHOR TENISTA DA HISTÓRIA
“Fizeram-me muitas vezes essa pergunta nos últimos anos. Obviamente, há muitas estatísticas e as pessoas comparam-nas com as de Rafael Nadal e Roger Federer. Mas vou dizer o que digo sempre: não vou dar a minha opinião sobre esse tema, porque não estou em posição de o fazer e creio que seria muito desrespeitoso para com os jogadores que defrontei, como Nadal ou Federer. Além disso, não me sinto confortável a falar sobre isso. Considero-me um grande estudioso do ténis e tenho enorme respeito por todas as épocas anteriores do nosso desporto. É muito difícil comparar eras, porque o ténis mudou muito nos últimos cinquenta anos — em termos de tecnologia, equipamento, bolas e superfícies. Tudo se tornou mais profissional, embora isso não signifique que antes não o fosse.”
MOMENTO DE TRANSIÇÃO
“Estou a atravessar uma transição na minha vida, porque estou a entrar no último capítulo da minha carreira no ténis, independentemente de quanto tempo dure. Tenho de procurar tranquilidade, para conseguir manter a fome e a competitividade em court, mas ao mesmo tempo tenho de lidar com certas realidades que não são fáceis de aceitar para mim. Porque fui o tenista dominante durante a maior parte da minha carreira e agora estou a ser dominado por Alcaraz e Sinner.”
VOLTAR A VENCER UM GRAND SLAM
“Tenho consciência de que, neste momento, os dois são melhores do que eu. Essa é a realidade. Durante grande parte da minha carreira acreditei em coisas que pareciam impossíveis de alcançar, mas sempre fui muito positivo na forma como perseguia os meus objetivos. Acredito muito no poder dos pensamentos, mas, ao mesmo tempo, também acredito na biologia, tenho 38 anos e o desgaste é real. E levei um par de choques de realidade neste último ano. Ambos fizeram-me duvidar se serei capaz de ganhar outro Grand Slam, mas quando entro em campo, não me importa quem está do outro lado. Acredito sempre que sou melhor, que vou vencer e que darei tudo para o conseguir. Continuo a ter a mentalidade de um vencedor e só espero conseguir manter o meu corpo em boa forma.”
ACEITAR A “ULTRAPASSAGEM”
“Sabia que isto iria acontecer mais cedo ou mais tarde na minha carreira, é um progresso natural e evolutivo. O aparecimento de Alcaraz e Sinner é algo incrível para o nosso desporto; já disputaram um dos jogos mais épicos da história do ténis, na final de Roland Garros.”
FINAL DE ROLAND GARROS
“Nesse dia, fiquei preso à televisão, embora, quando perco num torneio, normalmente goste de desligar do ténis. Mas a minha mulher e o meu filho são grandes fãs de ténis e queriam ver o jogo. Eu disse-lhes para irmos dar um passeio e almoçar fora, mas insistiram e eu acabei por dizer: ‘Está bem, vemos um set e depois vamos’. Pensei que o jogo ia durar duas horas e meia, mais ou menos, mas quando voltámos a casa ainda estavam a jogar, acabámos por ficar a ver as duas últimas horas do encontro.”
FALSO ESTEREÓTIPO DE ATLETAS
“É importante perceber que o que vivemos é uma experiência real, e a pressão que nós, desportistas, sentimos é também real. O facto de não conseguires ultrapassar certos objetivos ou desafios porque a pressão te vence não te torna fraco, torna-te humano. Michael Jordan dizia que as pessoas lembram-se mais dos lançamentos que ele acertou, e nunca dos que falhou. Muita gente tem a fantasia de que os maiores atletas da história são semideuses, capazes de tudo, e isso não é verdade. Falhei muitas vezes na minha carreira, tenho uma percentagem de cerca de 50% de sucesso nas finais de Grand Slam e é preciso passar por esses momentos.”
O PERIGO DE ESTAR SEMPRE A GANAHAR
“Entre 2015 e 2016 joguei 19 ou 20 finais consecutivas, dominava em todas as superfícies e sentia-me imbatível. Mas, mentalmente, essa situação também é muito perigosa, porque o teu ego cresce e depois a própria natureza da vida acaba por te atingir com mais força do que nunca. Foi isso que me aconteceu com a minha lesão no cotovelo.”
APOIAR O FILHO
“O meu filho tem 11 anos e sabe bem que quer jogar ténis, e isso emociona-me e assusta-me ao mesmo tempo. Além disso, tem talento, mas não quero ser o seu treinador, quero ser o seu pai. Aos poucos, estou a tentar introduzi-lo no mundo do ténis e do desporto; neste momento não lhe posso explicar tudo, estou a selecionar o que lhe devo ensinar. Se ele decidir que quer ser tenista profissional, estarei a apoiá-lo a 100% em cada passo.”
COMO GOSTARIA DE SER RECORDADO
“Gostaria que as pessoas me recordassem, obviamente, pelos meus feitos e pelos meus resultados, porque é algo de que me orgulho muito. Mas gostaria que me recordassem como o homem que tocou o coração das pessoas, é isso que gostaria que estivesse gravado na minha lápide.